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Foto: IndustriALL Global Union

Glencore: multinacional mineradora explora África do Sul para abastecer genocídio em Gaza

A Glencore também está presente na Colômbia e no Peru, devastando a natureza, a saúde e a mão-de-obra local; no fim de maio, foram registrados protestos em pelo menos 5 países exigindo que a empresa interrompa o envio de carvão para Israel

Pavan Kulkarni
Resumen LatinoAmericano
Bangalore (Índia)

Tradução:

Ana Corbisier

Em protesto contra a Glencore, um dos maiores conglomerados mineradores do mundo, que alimenta o genocídio de Israel em Gaza e devasta o meio ambiente das comunidades locais nas cidades mineradoras da África e da América do Sul, ativistas organizaram um dia de ação mundial no último 28 de maio.

Foram registradas manifestações na África do Sul, na Colômbia, no Peru, na Alemanha e na Suíça, onde no mesmo dia a multinacional anglo-suíça realizou sua Junta Geral Anual (JGA) — na qual acionistas da empresa se reuniram “para celebrar os lucros recordes” obtidos com a extração e o transporte de carvão para o “Estado genocida de Israel”, onde é “usado para alimentar a máquina de matar”, diz à Newzroom Afrika o membro do Movimento da Juventude Socialista, Zaki Mamdoo.

Mamdoo participou da marcha até a sede da Glencore na África do Sul, em Joanesburgo, onde ativistas solidários com a Palestina, sindicalistas e outros grupos da sociedade civil organizaram uma manifestação.

“A Glencore está alimentando diretamente Israel em seu genocídio contra o povo palestino”, afirma, por sua vez, o grupo Judeus Sul-Africanos por uma Palestina Livre, descrevendo os proprietários da Glencore como “alguns dos indivíduos mais cúmplices de Joanesburgo”.

O ar está escuro. As árvores estão escuras. O solo está escuro

Enquanto isso, a destruição ambiental, especialmente devido às suas operações de extração de carvão na África do Sul, na República Democrática do Congo, no Peru e na Colômbia, está devastando a saúde e os meios de subsistência das comunidades locais.

“Essa é a razão pela qual a maioria das pessoas que participou dessas manifestações ao lado dos ativistas era formada por pessoas das comunidades afetadas pela mineração”, comenta ao Peoples Dispatch Mametlwe Sebei, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Gerais da África do Sul (GIWUSA).

Em zonas mineradoras como Witbank, “toda a cidade está coberta por nuvens escuras. O ar está escuro. As árvores estão escuras. O solo está escuro”, denuncia, acrescentando que as doenças decorrentes disso, começando pelos pulmões, já mataram centenas de moradores e mineiros que recebiam salários de sobrevivência.

“Mineração colonial”

“Deixando tamanha devastação para trás, a mineração de carvão da Glencore e de outras multinacionais não contribui em nada para a economia sul-africana, além da miséria paga à mão de obra negra imigrante barata contratada para trabalhar nas minas”, enfatiza Sebei.

A extração desses minerais, exportados principalmente em estado bruto, não gera empregos nas fases iniciais de processamento e manufatura. “Esse tipo de ‘mineração colonial’ não trouxe desenvolvimento”, acrescenta.

Além disso, a companhia não ofereceu assistência médica nem educação às populações afetadas. Não melhorou nenhuma infraestrutura pública, exceto as estradas necessárias para a extração dos minerais.

Ele segue observando que é esse mesmo extrativismo predatório que impulsionou as potências imperialistas a estabelecer o projeto colonial genocida de assentamento de Israel como meio de exercer controle sobre a Ásia Ocidental e monopolizar suas reservas de petróleo, que “são fundamentais para o capitalismo industrial moderno”.

A luta por uma Palestina livre e a luta de classes na África do Sul

“A Glencore se encontra na confluência da exploração do trabalho, da destruição do meio ambiente e do genocídio, todos impulsionados pela mesma lógica do ‘extrativismo imperialista'”, destaca Sebei, explicando por que a luta por uma Palestina livre está intrinsecamente conectada à luta de classes na África do Sul.

O Congresso de Sindicatos Sul-Africanos (COSATU), a maior federação sindical do país, filiada ao Congresso Nacional Africano (ANC), que compõe o governo, também ecoa essa análise em sua declaração apoiando a demanda para que a Glencore suspenda as exportações de carvão da África do Sul para Israel.

“A guerra em Gaza” está “diretamente relacionada ao desespero dos monopólios pelo controle energético. Por isso, a luta por uma Palestina livre é, ao mesmo tempo, uma luta por um novo modelo econômico de desenvolvimento, justo e democrático para toda a humanidade”, afirma a declaração publicada no ano passado, quando 200 sindicalistas e outros ativistas protestaram em frente aos escritórios da Glencore em Joanesburgo.

Questionamentos à Glencore

“22% da energia de Israel provém do carvão. A Glencore é a maior empresa mineradora de carvão que envia esse combustível a Israel. Por isso, hoje exigimos que nosso governo ponha fim às vendas de carvão para Israel”, declarou Roshan Dadoo, coordenador da Coalizão Sul-Africana BDS, durante uma manifestação em agosto de 2024, dois dias após o governo progressista da Colômbia ter proibido as exportações de carvão para Israel.

“Dado que a Corte Internacional de Justiça determinou, em janeiro, que há possibilidade de Israel estar cometendo genocídio, o que a Glencore está fazendo para revisar sua relação com Israel?”, perguntou uma representante dos acionistas durante a Junta Geral Anual da Glencore realizada na Suíça em maio de 2024. “Reconhece que manter uma relação comercial desse tipo poderia levar a pensar que a Glencore está ajudando e incitando um possível genocídio e que isso poderia acarretar responsabilidade penal?”, questionou também.

O presidente da Glencore, Kalidas Madhavpeddi, desconsiderou a pergunta, alegando que carecia de fundamento. Mas a representante insistiu, perguntando se a Glencore estava realizando avaliações de direitos humanos sobre o uso do carvão exportado para Israel, a fim de garantir que a empresa não seja responsabilizada.

Ao responder que “a empresa fornece para muitos países ao redor do mundo”, Madhavpeddi afirmou: “É quase impossível responder à sua pergunta”, recusando-se a atender a novos questionamentos.

Expropriar!

“De várias formas, estão fazendo exatamente o que se espera que façam: obter lucros recordes. É intencional… é para isso que foram estruturados”, acrescenta Mamdoo, também membro do Partido dos Trabalhadores e Socialista, em seu comunicado de imprensa sobre a manifestação de 28 de maio.

“Por isso, ao lidarmos com a Glencore”, a suspensão das exportações de carvão sul-africano para Israel é uma exigência imediata, porque “centenas de pessoas morrem dia após dia, crianças são queimadas vivas” e morrem de fome, salienta.

“Mas a luta não termina aí. Em última instância, precisamos avançar para a expulsão e expropriação da Glencore e de todas as empresas semelhantes, para que os meios de produção hoje sob sua posse privada possam ser utilizados para satisfazer as necessidades de desenvolvimento do povo sul-africano, em vez de servirem a um genocídio no exterior”, finaliza.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Pavan Kulkarni

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