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Globo, SBT e Band tentaram abafar carnaval politizado que ganhou as ruas em 2020

Dos milhares de blocos de rua espalhados pelo país às escolas de samba na Marquês de Sapucaí e o Anhembi, os foliões detonaram a “familícia” no poder
Altamiro Borges
Blog do Miro
São Paulo (SP)

Tradução:

Como já era de se esperar, o Carnaval deste ano foi escrachadamente politizado. Motivos para isto não faltaram. O laranjal de Jair Bolsonaro deu farta munição para a gandaia. Fanatismo religioso, milicianos, fake news, trevas na cultura, racismo, machismo, homofobia – entre outras aberrações e regressões. Dos milhares de blocos de rua espalhados pelo país às escolas de samba na Marquês de Sapucaí, os foliões detonaram a “familícia” no poder. As emissoras de televisão, porém, evitaram dar maior destaque à politização momesca – algumas por mercenarismo e outras talvez para evitar maiores confrontos com o vingativo “capetão”.

Logo na abertura dos desfiles no Rio de Janeiro, no sábado (22), a Acadêmicos Vigário Geral, escola do Grupo de Acesso, apresentou uma escultura do palhaço Bozo portando a faixa presidencial e fazendo arminha com a mão. Já a Mangueira contagiou a avenida com o samba-enredo “A verdade vos fará livre”, com críticas ao fanatismo religioso. Declarada campeã do Carnaval-2020, a Viradouro fez uma ode à cultura popular e ao poder das mulheres ao contar a história das Ganhadeiras de Itapuã.

Dos milhares de blocos de rua espalhados pelo país às escolas de samba na Marquês de Sapucaí e o Anhembi, os foliões detonaram a “familícia” no poder

Facebook / Reprodução
A campeã Águia de Ouro, levou para o sambódromo o enredo “O poder do saber – Se saber é poder, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”

O mesmo tom crítico tomou conta dos desfiles em São Paulo. A Vai-Vai homenageou a vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL-RJ) e a Mancha Verde ironizou os ministros Paulo Guedes e Damares Alves. Para desespero das milícias bolsonaristas, a escola campeã de São Paulo, a Águia de Ouro, levou para o sambódromo um boneco gigante do educador Paulo Freire e o enredo “O poder do saber – Se saber é poder, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

Como observou Tony Goes, especialista em mídia do UOL, “toda essa politização, explícita ou não, cria problema para os canais de TV que cobrem o Carnaval. SBT, Band e Rede TV!, alinhadas com o governo, simplesmente evitam mostrar em suas telas qualquer coisa que cheire a protesto. Já a Globo, que procura manter uma postura independente, enfrenta um dilema de bico. É simplesmente impossível transmitir os desfiles das escolas de samba sem exibir alegorias e passistas que criticam Bolsonaro e seu entorno. Para não antagonizar ainda mais um presidente que já a vê como inimiga, a emissora optou por um relativo silêncio”.

Em entrevista à TVT, o professor Laurindo Lalo Leal Filho, diretor do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, também criticou a cobertura anódina da Rede Globo do Carnaval deste ano. Apesar de ser uma concessão pública, a emissora evitou informar à sociedade sobre os protestos irreverentes contra o “capetão”. Como afirma Lalo, na prática ela censurou a politização dos foliões.

Altamiro Borges é jornalista


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Altamiro Borges

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