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fOTO: Paulo Slachevsky / Wikimedia Commons

Golpe no Chile: 1.200 corpos seguem desaparecidos; exército atirava restos mortais no mar

O Chile rememorou o golpe na última quarta-feira (11) com sentimentos que variaram entre homenagem a mártires, dor e recolhimento
Aldo Anfossi
La Jornada

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Nesta quarta-feira (11), o Chile rememorou o 51º aniversário do golpe civil-militar que, em 11 de setembro de 1973, derrubou o governo do presidente socialista Salvador Allende Gossens. Allende morreu naquele dia ao suicidar-se no Palácio de La Moneda, sede do governo, cumprindo assim sua promessa de não capitular diante dos golpistas e de “pagar com a própria vida a lealdade do povo”.

Apesar do tempo passado, continuam abertas as feridas e a dor que, desde aquele dia e durante os 17 anos seguintes, foram provocados pela ditadura de Augusto Pinochet, que, segundo o relato oficial, causou mais de 40 mil vítimas diretas, entre mortos, desaparecidos e torturados.

Leia também | Anatomia de um golpe I: A história do 11 de setembro no Chile, por Paulo Cannabrava Filho

Leia também | Anatomia de um golpe II: A história do 11 de setembro no Chile, por Paulo Cannabrava Filho

Cerca de 3.300 pessoas foram assassinadas, das quais cerca de 1.200 restos mortais continuam desaparecidos, sem se saber exatamente quando e onde foram lançados. Sabe-se, no entanto, que muitos acabaram sendo jogados no oceano a partir de helicópteros do exército, frente às costas de Valparaíso e San Antonio.

Como acontece ano após ano nesta data, nas ruas, cemitérios e locais de memória histórica – os quartéis clandestinos onde se torturava e massacrava – houve sentimentos de homenagem, dor e recolhimento. Isso porque a história documentada e/ou transmitida verbalmente de geração em geração, pelas vítimas ou seus familiares, continua marcando o presente do país.

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Os registros fotográficos dos militares atacando por terra e pelo ar o Palácio de La Moneda; de Allende em seu interior junto a um punhado de mulheres e homens que resistiam; o palácio em chamas com a bandeira do Chile balançando entre a fumaça e as chamas até se queimar; o cadáver do presidente sobre uma poltrona com a cabeça destroçada ou carregado em uma maca coberto por uma manta. Tudo isso permanece para sempre.

E, embora parte da direita golpista tenha feito um mea culpa sobre tudo aquilo, continua havendo setores que minimizam e/ou justificam o ocorrido. Na quarta-feira mesmo, o chefe dos deputados da pinochetista União Democrata Independente (UDI), Gustavo Benavente, alegou que “fazer um mea culpa frente a fatos que já estão determinados pela justiça não faz muito sentido”, referindo-se aos crimes da ditadura. “Temos um consenso único, pelo menos na UDI: o 11 de setembro foi uma saída absolutamente inevitável, não havia outra possibilidade”, acrescentou.

Declarações do presidente do Chile, Gabriel Boric

O presidente Gabriel Boric, em uma cerimônia em La Moneda, mencionou que “estes muros foram testemunhas de como a traição e a infâmia se impuseram com sangue e fogo sobre a dignidade de um povo”, acrescentando que “recordamos com admiração o presidente Salvador Allende Gossens e as chilenas e chilenos que, junto dele, naquele dia defenderam a democracia, a Constituição e as leis”.

Ele expressou que “nenhuma crise política, por mais complexa que seja, é resolvida bombardeando, assassinando e desaparecendo seus próprios compatriotas; o extermínio de conterrâneos por pensarem diferente, o fim da democracia e o bombardeio de seu símbolo principal nunca são a única alternativa”. Disse também que “as violações dos direitos humanos começaram naquele momento zero e são indivisíveis do golpe de Estado daquele dia”.

Como sempre ocorre nesta data, os cidadãos retiraram-se cedo para suas casas, em prevenção aos habituais protestos noturnos que, em muitos bairros da capital e de outras cidades, costumam acontecer nessas datas.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Aldo Anfossi

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