Pesquisar
Pesquisar
Protesto mapuche em frente ao La Moneda em junho de 2011 (Foto: Luis Fernando Arellano)

Governo do Chile vai propor reforma para reconhecer povos e territórios mapuche

Segundo Gabriel Boric, comunidades mapuche serão ouvidas a fim de criar mecanismos para responder às necessidades e desafios que atingem os povos indígenas

Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou na noite da última quinta-feira (22) que, no segundo semestre de 2025, enviará ao Parlamento uma reforma com o objetivo de reconhecer constitucionalmente os povos originários que habitam o território nacional, além de um novo sistema de restituição de terras ancestrais.

“Com isso, o país ganha em paz e unidade”, disse em um discurso de 11 minutos em cadeia nacional, admitindo: “arrastamos, há muito tempo, um doloroso conflito entre o Estado do Chile e o povo mapuche, que trouxe despojo, violência e postergação para milhões de compatriotas mapuche e não mapuche, por várias gerações”.

Embora tenha evitado referir-se às causas históricas do conflito, ele admitiu que os tratados assinados em meados do século 19, que estabeleciam tanto as formas de relacionamento como os limites territoriais, foram desrespeitados pelo Estado chileno, o que resultou no despojo de milhões de hectares.

Segundo o governante, 200 anos depois, “temos uma nova oportunidade única e irrepetível de alcançar a justiça e a paz”.

Boric se referia assim às propostas da “Comissão Assessora Presidencial para a Paz e o Entendimento”, que há três semanas apresentou “um caminho de solução claro e concreto”, após dois anos de sessões nas quais ouviu mais de cinco mil pessoas das quatro regiões onde o conflito está presente.

Nesse processo, no entanto, não participaram uma série de organizações indígenas que optaram pela luta armada e pela sabotagem à indústria agrícola e florestal, e têm cerca de uma centena de militantes presos.

Boric: “Durante o segundo semestre, daremos o primeiro passo com o objetivo de mudar o sistema de terras indígenas e iniciaremos o processo de consulta ao povo mapuche” (Foto: Luis Fernando Arellano)

Boric afirmou que o atual sistema de distribuição de terras “é um dos principais fatores que agravam e perpetuam o conflito”, pois as comunidades que solicitam a restituição precisam esperar, inclusive, décadas — e, no ritmo atual, levaria mais de 100 anos para resolver a demanda.

“Essa lentidão e a incerteza são intoleráveis. Por isso, durante o segundo semestre, daremos o primeiro passo com o objetivo de mudar o sistema de terras indígenas e iniciaremos o processo de consulta ao povo mapuche sobre a nova institucionalidade e os mecanismos propostos pela comissão”, afirmou Boric.

Outro aspecto, acrescentou, será o fortalecimento do programa de apoio às vítimas da violência rural, com o objetivo de “oferecer um acompanhamento suficiente, profundo e continuado, incluindo atenção psicossocial, além de atualizar o cadastro de vítimas”. Haverá ainda um projeto de lei de reparação integral.

Ele também propôs como necessário criar uma institucionalidade que responda às necessidades e desafios dos povos indígenas, pois “a violência, mas também a desconfiança e o abandono, afetaram o desenvolvimento de uma zona que possui grandes riquezas culturais e naturais, com um potencial infinito”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Aldo Anfossi

LEIA tAMBÉM

Fentanil droga campeã de overdoses nos EUA acende alerta para América Latina (2)
Fentanil: droga campeã de overdoses nos EUA acende alerta para América Latina
Beto Almeida Não podemos defender o protagonismo do Sul Global e excluir a Venezuela
Beto Almeida: Narrativa de que Venezuela passa fome é propaganda imperialista
Eleições no Chile direita vai às primárias com 3 adoradores de Pinochet
Eleições no Chile: direita vai às primárias com 3 adoradores de Pinochet
Nova era anti-imperialista O efeito bumerangue dos ataques de Trump à América Latina (1)
Nova era anti-imperialista? O efeito bumerangue dos ataques de Trump à América Latina