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Governo dos EUA ‘proíbe’ cúpula política de sugerir cessar-fogo em Gaza

Governo segue optando por continuar sua cumplicidade com o que muitos especialistas qualificam como crimes de guerra praticados por Israel
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

O Departamento de Estado ordenou, desde a passada sexta-feira (13), a todo o pessoal diplomático estadunidense não mencionar as palavras cessar-fogo ou diminuição de conflito Israel-Hamas, enquanto a secretaria de imprensa da Casa Branca denunciou legisladores federais que se atreveram a apelar por um cessar-fogo como algo “repugnante” e “vergonhoso”. 

Por ora, essas palavras aparentemente estão proibidas pela cúpula política em Washington, enquanto o mundo observa o incessante bombardeio israelense da população civil em Gaza e preparativos para um ataque terrestre, tudo com assistência militar estadunidense.

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A Casa Branca não identificou os legisladores que estava criticando, mas até o momento 12 legisladores federais, incluídos os progressistas Ilhan Omar e Alexandra Ocasio-Cortez, apresentaram resoluções na câmara baixa apelando por um cessar-fogo. A deputada Rashid Tlaib, a única palestina-estadunidense no Congresso, declarou: “estou apelando por um cessar-fogo imediato para salvar inumeráveis vidas, sem importar sua ou etnia. Nosso governo deve lidar com compaixão por todas as vidas civis. Creio em meu coração que a maioria dos estadunidenses deseja deter a matança e a violência. Crimes de guerra não podem ser respondidos com crimes de guerra”.

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Mas estas posições e declarações são a exceção na Washington oficial, onde os apelos pela paz por parte de funcionários do governo, incluindo o presidente e seu gabinete, são quase inexistentes. Quase 400 dos 435 integrantes da câmara baixa do Congresso já se somaram a uma resolução de “apoio a Israel” que condena o Hamas, apela a essa organização a cessar seus ataques e se compromete com o apoio incondicional a Israel sem mencionar a situação em Gaza. Várias delegações de congressistas viajaram a Israel no passado fim de semana.

Governo segue optando por continuar sua cumplicidade com o que muitos especialistas qualificam como crimes de guerra praticados por Israel

DW
Biden, segundo se tem reportado, está contemplando viajar a Israel em breve para reiterar essa posição oficial.




Biden e Trump

Em suas primeiras declarações, o presidente Joe Biden pareceu endossar a ação militar de Israel contra o Hamas ao afirmar que “Israel tem o direito de responder e de fato o dever de responder a estes ataques viciosos”. Essa afirmação foi repetida durante mais de uma semana por Biden e sua equipe. Biden, segundo se tem reportado, está contemplando viajar a Israel em breve para reiterar essa posição oficial.

Por sua vez, Donald Trump e os demais candidatos presidenciais republicanos ofereceram sua firme apoio a Israel sem condições, da mesma forma que o candidato independente Robert F. Kennedy Jr. 

Só reconhecimento do Estado Palestino vai dar fim à violência israelense

O influente senador republicano Lindsey Graham fez eco de alguns dos comentários mais extremistas do governo israelense quando declarou na semana passada que “estamos em uma guerra religiosa. Eu estou com Israel. Façam todo o inferne necessário para defender-se. Esmaguem o lugar”, em aparente referência a Gaza. Neste fim de semana, resolveu meter o Irã em sua mensagem bélica.


Única exceção

Entre os candidatos presidenciais, a única exceção ao apoio pleno a Israel é a do candidato progressista independente e filósofo político Cornel West, que condenou tanto a violência de Hamas como a de Israel. “Eu poria fim à matança de gente inocente – sejam palestinos ou israelenses – “ao apelar por um fim da ocupação israelense apoiada pelos Estados Unidos”.

“A resistência violenta à opressão é a linguagem desesperada de um povo ocupado”, agregou.

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Mas ao se elevar a taxa de mortes em Gaza, o governo estadunidense se encontra cada vez mais pressionado para explicar o que está fazendo para proteger aos civis em Gaza, incluindo os poucos cidadãos estadunidenses. No domingo, Biden comentou em uma entrevista a CBS News que uma ocupação por Israel de Gaza seria “um grande erro” mas pareceu apoiar a ação militar em Gaza. “Aniquilar os extremistas é um requisito necessário”, disse.


Blinken

Por sua vez, em sua missão diplomática no Oriente Médio, o secretário de Estado Antony Blinken continua endossando sem condições o direito de Israel de “assegurar que o Hamas nunca possa repetir o que fez”, enquanto insta Israel a “tomar toda possível precaução para evitar prejudicar civis”.

No domingo (15), quando Blinken foi questionado outra vez se era possível estabelecer um cessar-fogo para permitir o ingresso de assistência humanitária em Gaza, respondeu que isso não poderia ocorrer já que o Hamas continua atacando Israel.

Basta aos discursos! Líderes precisam agir. Israel já matou 700 crianças palestinas

No entanto, teve que titubear um pouco diante da demanda de Israel de que mais de um milhão de palestinos abandonem seus lares, comentando que “escutamos diretamente do presidente da Autoridade Palestina Abbas e virtualmente de outros líderes com quem falei na região, de que essa ideia não é factível, e portanto não a apoiamos. Cremos que se deveria permitir às pessoas ficarem em Gaza, sua casa. Mas também queremos assegurar que estejam fora de perigo e que estão recebendo a assistência que necessitam”. Porém, um dia depois, grande parte de um milhão de palestinos foram deslocados.


Manifestações

Continuam as manifestações em várias cidades dos Estados Unidos em defesa dos direitos dos palestinos, e vários dos meios nacionais estão publicando notas e opiniões críticas sobre o apoio incondicional estadunidense ao regime israelense. “Já é hora de os Estados Unidos deixarem consentir timidamente o uso de violência e mais violência por Israel como sua resposta reflexiva aos palestinos que viveram por 56 anos sob uma ocupação militar asfixiante”, escreve Rashid Khalidi, professor da Universidade de Columbia, em um artigo publicada pelo New York Times nesta segunda-feira (16).  

Ele advertiu que Washington está à beira de decidir que ações de Israel apoiará, algo que “fará aos Estados Unidos uma parte plena do que segue, ainda se Biden e sua equipe o entenderem ou não”.

Por ora, a cúpula política em Washington – com seus poucos dissidentes – parece estar optando por continuar sua cumplicidade com o que muitos especialistas qualificam como crimes de guerra.

Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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