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ToggleAo conformar seu gabinete e grupo de assessores, Donald Trump está criando um governo dos ricos, pelos ricos e para os ricos. Trump, que ganhou a Casa Branca com promessas populistas e, com isso, obteve o apoio de eleitores que sentem que foram abandonados pelo sonho americano, incluindo um amplo setor de trabalhadores desencantados com a cúpula em Washington, nomeou o gabinete mais rico em tempos modernos, colocando vários multimilionários em diversos postos-chave, incluindo diplomatas, em seu novo governo, que entrará em funções no próximo dia 20 de janeiro.
O mais notável desse elenco de futuros servidores públicos megarricos é o homem com a maior fortuna pessoal do planeta, o imigrante sul-africano Elon Musk, para quem está sendo criada uma agência governamental não oficial, ainda amorfa e ambígua, chamada Departamento de Eficiência Governamental. Ele pessoalmente investiu mais de 200 milhões para apoiar a campanha eleitoral de Trump.
O próximo gabinete será um dos mais ricos da história, reporta o Washington Post, com multimilionários nomeados para secretarias de Comércio e Educação, além de outros “super-ricos” para o Tesouro e Interior. Tudo indica que seu gabinete será ainda mais rico do que o que teve durante sua primeira presidência, que tinha um valor combinado total de mais de 6 bilhões de dólares, o mais rico da história até aquele momento. Este próximo terá um valor combinado de pelo menos 10 bilhões. E se incluirmos Musk como parte do próximo gabinete, o valor combinado será de aproximadamente 360 bilhões (segundo a Forbes, Musk tem um patrimônio líquido de 353 bilhões de dólares). À frente desse gabinete estará o presidente eleito, que tem uma fortuna pessoal calculada em 5,5 bilhões.
Incluindo todos esses, o valor combinado é maior que o PIB de centenas de países, incluindo Finlândia, Chile e Nova Zelândia, calcula o Axios.
Clube dos super ricos
Pelo menos 11 postos-chave nomeados no governo de Trump são ocupados por multimilionários (com fortunas superiores a um bilhão), casados com multimilionários ou próximos de entrar nesse clube exclusivo, calcula o The Guardian. Outros nessa lista incluem o sogro de Ivanka, filha de Trump, o magnata do mercado imobiliário Charles Kushner, nomeado embaixador na França; Warren Stephens, nomeado embaixador na Grã-Bretanha; e Steve Witkoff, outro magnata do mercado imobiliário, nomeado enviado presidencial ao Oriente Médio, entre outros que são multimilionários, seja individualmente ou por matrimônio.
O valor médio do elenco nomeado para o gabinete – incluindo Trump e seu vice-presidente, J.D. Vance – é de 616 milhões, uma cifra que é 616 vezes mais alta que a riqueza média de uma família estadunidense, calculada em pouco mais de um milhão de dólares, segundo a Americans for Tax Fairness, uma coalizão de mais de 400 organizações a favor de uma reforma fiscal para um sistema tributário mais justo.
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O valor combinado do gabinete de Joe Biden em seu primeiro ano era de 118 milhões.
“Está nomeando seus amigos ‘infernalmente ricos’ para encarregar-se de cada faceta de nossa economia, corrompendo nosso governo às custas dos estadunidenses comuns”, acusou a senadora liberal democrata Elizabeth Warren na semana passada. Muitos críticos alertam que haverá incessantes e graves casos de conflitos de interesse entre os milionários no comando do governo e suas prioridades econômicas pessoais.
Redução de impostos para os ricos
O patrimônio líquido médio de uma família estadunidense é de 192.900 dólares, segundo a Reserva Federal. Os salários reais da grande maioria dos trabalhadores estadunidenses estão estagnados desde o início dos anos 80.
Enquanto isso, entre as primeiras ações prometidas pelo novo governo de Trump está uma redução dramática nos impostos, sobretudo para os mais ricos.
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Os grandes ganhadores da eleição, opina a Americans for Tax Fairness, são os 815 multimilionários estadunidenses (com fortunas superiores a um bilhão), que coletivamente controlam 6,7 trilhões de dólares da riqueza nacional, um novo recorde. O total da riqueza dos multimilionários aumentou em 3,8 trilhões – 131% – desde que foram implementadas as reduções de impostos por Trump durante sua primeira presidência, há sete anos.
Os 12 multimilionários mais ricos agora têm um patrimônio líquido combinado de mais de 2 trilhões; a fortuna dessa dúzia mais rica aumentou 193% em pouco menos de quatro anos, reporta o Inequality.org, projeto do Institute for Policy Studies.
Um ex-oficial da CIA e veterano das forças especiais como embaixador no México
O presidente eleito Donald Trump nomeou como seu próximo embaixador no México o coronel aposentado Ronald D. Johnson, um ex-oficial da CIA e ex-membro das forças especiais do exército, cujas missões incluíram combates em El Salvador nos anos 1980 e na região dos Balcãs.
Johnson foi embaixador dos Estados Unidos em El Salvador durante o primeiro mandato presidencial de Trump, entre 2019 e 2021. O presidente eleito anunciou a nomeação de Johnson como embaixador no México em um comunicado no qual destacou que “trabalhará de perto com nosso grande indicado a secretário de Estado, Marco Rubio, para promover a segurança e prosperidade de nossa nação por meio de firmes políticas do American First”, acrescentando: “juntos, colocaremos fim ao crime imigrante, interromperemos o fluxo ilegal de fentanil e outras drogas perigosas para nosso país, e faremos a América segura novamente”.
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Em 1984, Johnson ingressou no serviço militar ativo em tempo integral como comandante de um destacamento das forças especiais sediado no Panamá. De acordo com sua ficha biográfica do Special Warfare Center and School (SWCS), ele foi selecionado para frequentar o Colégio de Guerra do Exército na CIA. Grande parte de sua carreira militar, segundo o SWCS, ocorreu em áreas sob o Comando Sul. “Ele liderou operações de combate em El Salvador como um dos 55 conselheiros militares autorizados durante a guerra civil nos anos 1980“, informa o SWCS. Também foi destacado para os Balcãs nos anos 1990, como parte de uma equipe da CIA e da Agência de Segurança Nacional (NSA). Aposentou-se das forças armadas em 1998 com o posto de coronel.
Após concluir sua carreira militar, Johnson trabalhou na CIA, onde participou de “operações e experiências de combate de nível global em ações integradas com unidades de missões especiais”. Além disso, foi o representante sênior tanto do Diretor de Inteligência Nacional quanto da CIA no Comando Sul dos Estados Unidos.
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Quando foi designado pela primeira vez como embaixador em El Salvador, segundo uma ficha biográfica do Departamento de Estado, Johnson era o responsável pelo enlace de ciência e tecnologia com o Comando de Operações Especiais para a CIA em Tampa, Flórida. Antes disso, de 2013 a 2017, foi Assessor Especial do Comando Sul, gerenciando a colaboração com a comunidade de inteligência, o Departamento de Estado, o FBI, a USAID e outras entidades. Tratou de temas regionais, incluindo combate ao narcotráfico, antiterrorismo, direitos humanos e refugiados.
Johnson possui um mestrado da Universidade Nacional de Inteligência.
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Em 2020, recebeu o Prêmio Susan Cobb por Serviço Diplomático Exemplar do Departamento de Estado, entre outros reconhecimentos, incluindo dois concedidos em El Salvador.
Johnson é fluente em espanhol e vive com sua esposa cubano-americana em Miami, Flórida.
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