Pesquisar
Pesquisar

Graças ao socialismo, Rússia provou em 1917 que é possível construir um novo mundo

Revolução russa derrotou autocracia czarista, um regime de dominação aparentemente invencível, rumo a uma nação mais justa humana
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Recentemente, o mundo recordou um dos mais altos episódios da vida contemporânea: a Revolução Russa, que ocorrera há 105 anos.

Como em imagens sucessivas, voltaram a desfilar pela memória de homens e mulheres de todos os países acontecimentos que iluminam essa lembrança: os canhonaços do Cruzeiro Aurora, a fortaleza de Pedro e Paulo, a mobilização dos operários da fábrica Putilov, o Smolny, o assalto ao Palácio de Inverno tomado em noite memorável por um destacamento liderado por Antonov-Ovseenko, que recebera a tarefa de Lenin.

A Revolução Russa de 1917 esteve precedida de outros grandiosos episódios. Talvez o primeiro foi a rebelião dos escravos, liderada por Espártaco, o gladiador trácio que pôs em choque o Império Romano.

Não triunfou, mas deixou como legado duas expressões que perduram: os homens crucificados na Via Ápia, como a expressão da crueldade dos Césares, e a bandeira vermelha que agitaram os alçados ao marchar para o combate. Esta última continua sendo o símbolo do valor e do heroísmo dos povos em todos os confins do planeta.

Vencer fascismo demanda mudar o caminho. Para isso, precisamos de uma Revolução

Depois, viriam outros episódios: em 1630, a Revolução Industrial que derivara no Cartismo; a Revolução Francesa de 1789, que com suas bandeiras de Igualdade, Liberdade e Fraternidade abrira passagem a um processo social que marcara época; as Revoluções de 1830 e 1848, nas quais o proletariado de Paris começara a desempenhar um papel significativo aplastando definitivamente os restos da monarquia absolutista dos Luíses.

Em 1871, e depois da guerra Franco-Prussiana, assomaria a Comuna de Paris, o primeiro governo operário da história humana, que duraria apenas 71 dias e que foi bestialmente afogado em sangue pelo abominável Adolfo Thiers, esse “Sila francês”, como certeiramente o definira Marx.

Depois, e já no século XX, a Insurreição de Moscou, quando os operários do bairro de Presnia, sob a condução de Babushkin, empregaram as barricadas como forma preferida de combate. E certamente a ação de Petrogrado, que evocamos em nossos dias e abrira a rota a uma experiência virtualmente inédita na história humana: a instauração de um governo de novo tipo, de corte socialista.

A Revolução Russa, para afirmar-se, teve que vencer obstáculos descomunais: a guerra civil que se prolongou até 1921; a agressão de 14 nações que atacaram militarmente o Estado Soviético com o propósito de aniquilar a experiência nascente; e a sequela da Primeira Guerra Mundial que deixara na Rússia uma espantosa herança de fome, destruição e miséria. Assim, a partir dos escombros, teve de construir-se o Poder Soviético.

“Paz, pão e terra”: mulheres operárias foram decisivas na Revolução de Fevereiro, na Rússia

A Revolução Russa, graças ao socialismo, pôde demonstrar que era possível acabar com a autocracia czarista, um oprobrioso regime de dominação que parecia invencível, e gerar a construção de um mundo novo, mais humano e mais justo; converter um país extremamente pobre e atrasado na segunda potência mundial em apenas quatro décadas; derrubar o sistema colonial, abrindo passagem ao surgimento de dezenas de países independentes e soberanos; vigorar a luta dos povos afirmando as tarefas da libertação e do desenvolvimento, como se pode confirmar  com as experiências vitoriosas de Vietnã, Coréia, Cuba e outros povos; promover a cultura, a ciência e a tecnologia, alcançando níveis nunca antes vistos. Houve as façanhas de Yuri Gagarin e Valentina Tereshkova, os avanços em matéria de saúde, educação, moradia e emprego, assim como a luta contra os males consubstanciais à sociedade capitalista.

Revolução russa derrotou autocracia czarista, um regime de dominação aparentemente invencível, rumo a uma nação mais justa humana

Blog Ciclo
Como dissera César Vallejo nas páginas de Mundial, em 1917, o ideal russo “foi o dono do futuro da humanidade”

No Peru, esta experiência foi saudada entusiasticamente por José Carlos Mariátegui. Para ele, a Revolução Russa constituiu a máxima expressão do socialismo contemporâneo. Ele nos disse: “um acontecimento cujo alcance histórico não se pode ainda medir”.

Porém, nosso Amauta teve também o acerto de valorar a figura dominante deste singular processo, cujo nome despertou sempre o pavor dos exploradores de todos os países. De Lenin, disse em efeito: “O líder russo possuía uma extraordinária inteligência, uma extensa cultura, uma vontade poderosa e um espírito abnegado e austero. A estas qualidades se unia uma faculdade assombrosa para perceber fundamente o curso, e adaptar a ele a atividade revolucionária”.

Adeus Império? Encontro entre Scholz e Xi pode guardar aliança Rússia-China-Alemanha

Em apenas cinco linhas, soube desenhar uma personalidade inteira e mostrá-la no todo os seus traços distintivos. E é que, para ele, Lenin era, em efeito, “um homem terso, simples, cristalino, atual, moderno”. Tinha todas as virtudes para ser considerado como a figura cume, e a expressão emblemática da Revolução Mundial. Assim passou à história.

A queda do socialismo na URSS foi resultado de erros e deformações em sua aplicação, do trabalho constante do inimigo interno e externo e da traição de uma liderança que operou às costas do povo. Mas não gerou – como esperavam os áulicos do capitalismo – a vitória deste sistema de dominação.

O mundo Unipolar, regido pelos Estados Unidos, faz água hoje por toda parte. E em todas as partes os povos lutam por estabelecer um regime socialista assentado nas bases teóricas e políticas do socialismo do século XX, e por isso o chamam – para o terror das carpideiras do Império – de o socialismo do século XXI.

Como dissera César Vallejo nas páginas de Mundial, em 1917, o ideal russo “foi o dono do futuro da humanidade”.

Gustavo Espinoza M. | Colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

LEIA tAMBÉM

50 anos da Cadernos do Terceiro Mundo uma nova ordem informativa em prol do Sul Global
50 anos da Cadernos do Terceiro Mundo: uma nova ordem informativa em prol do Sul Global
album-referente-aos-festejos-nacionais-do-5o-aniversario-da-proclamacao-da-d4c858
Golpe e proclamação da República: a consolidação do liberalismo econômico no Brasil
A miséria humana diante da barbárie em Os últimos dias da humanidade, de Karl Kraus
A miséria humana diante da barbárie em "Os últimos dias da humanidade", de Karl Kraus
O perigo do nazismo e dos neopentecostais
O perigo do nazismo e dos neopentecostais