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Rússia e Turquia anunciam estratégia para desbloquear exportações na Ucrânia

Soma de trigo e outros cereais armazenados já somam mais de 25 milhões de toneladas e, caso não seja escoada, pode triplicar em poucos meses
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Para evitar uma crise alimentar no mundo, a Rússia e a Turquia – com a mediação da Organização das Nações Unidas (ONU) – alcançaram um acordo preliminar para desbloquear as exportações de trigo e outros cereais ucranianos – que neste momento ascendem a pouco menos de 25 milhões de toneladas armazenadas – por uma via marítima segura a partir do porto de Odessa. Mas para torná-la realidade, ainda falta que a Ucrânia esteja de acordo, como terceiro implicado no esquema. 

Quando visitar Istambul na quarta-feira, o chanceler russo Serguei Lavrov e seu homólogo turco, Mevlut Cavusoglu, “intercambiarão opiniões sobre a situação atual da crise ucraniana e as possibilidades de retomar as conversações de paz entre a Rússia e a Ucrânia”, de acordo com um comunicado da chancelaria russa. 

Embora o ministério russo de Relações Exteriores não faça referência ao possível acordo, se dá por confirmado que os chefes das diplomacias russa e turca tratarão de amarrar as franjas do documento já consensuado, para estabelecer mecanismos que permitam a saída de alimentos a partir da Ucrânia. 

Soma de trigo e outros cereais armazenados já somam mais de 25 milhões de toneladas e, caso não seja escoada, pode triplicar em poucos meses

Kremlin
A Turquia se compromete a ajudar a Ucrânia a tirar as minas da frente do porto de Odessa para garantir um corredor marítimo seguro

Pontos consensuais

A primeira informação interessada sobre o pré-acordo de russos e turcos – os ucranianos o rechaçaram na forma em que estava redigido e não só pelas inspeções de seus barcos –, foi produzida na segunda-feira anterior por meio do periódico russo Izvestia, que em sua versão online adiantou seus principais pontos, que em síntese são:

A Turquia se compromete a ajudar a Ucrânia a tirar as minas da frente do porto de Odessa para garantir um corredor marítimo seguro e em um lugar com coordenadas alavancadas. A Rússia quer inspecionar os barcos que se dirigem para o porto ucraniano para verificar que não transportam armas. Uma vez carregados de cereais, os barcos mercantes, navios de guerra turcos os esperarão em águas internacionais para escoltá-los até portos da Turquia.

Desse modo, o diário russo confirmou os rumores aparecidos na imprensa turca, no fim de semana passado, de que “os esforços diplomáticos de Ankara estão tornando possível que Istambul se converta logo, em coordenação com a ONU, em um centro para regular a interação de Rússia e Ucrânia, com o fim de garantir a segurança das exportações marítimas de cereais ucranianos”.

Porém a Ucrânia, segundo apontam várias agências noticiosas, rechaça que os barcos mercantes sejam inspecionados pela Rússia e só aceita que o façam Turquia e a ONU. Além disso, se resiste a desproteger Odessa, seu principal porto, sobretudo depois de perder Mariupol no mar de Azov, devido ao que considera o risco de um desembarque de tropas russas. 

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“No momento não há nenhum acordo. Temos uma declaração do presidente Putin, que disse que a Ucrânia deve tirar as minas das entradas do porto, o que permitirá que os navios – depois que nossos militares comprovem que não trazem armas – entrem em um porto, carreguem cereais e depois, inclusive com nossa ajuda, se for necessário, rumem para águas internacionais”, assinalou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ao comentar nesta terça-feira a informação de Izvestia.

Peskov admitiu que também há “reticências por parte da Ucrânia”. O chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, escreveu a respeito em sua conta no Twitter: “(O presidente russo Vladimir) Putin diz que não usará as rotas comerciais para atacar Odessa, mas também assegurou que não tinha nenhuma intenção de invadir nosso país. Não podemos confiar em Putin, suas palavras nada valem”. 

No entanto, não se deve excluir que Kiev termine por aceitar o acordo turco-russo porque, em caso contrário, para o outono próximo a quantidade de seus cereais bloqueados poderia triplicar e alcançar 75 milhões de toneladas, conforme reconheceu Zelensky no domingo anterior na televisão ucraniana.

Otimismo

Hulusi Akar, ministro turco de Defesa, que nesta terça-feira falou por telefone com seu homólogo russo, Serguei Shoigu, sobre a situação na Ucrânia e na Síria, é otimista e afirma que o acordo com a Rússia está quase pronto. “Se avançou muito neste tema”, sem entrar em detalhes, adiantou a meios turcos na véspera da chegada de Lavrov a Istambul.

O canal de notícias da televisão pública da Turquia, TRT, informou nesta terça-feira que “de acordo com fontes do governo (turco), esta mesma semana poderia ser celebrada em Istambul uma reunião de enviados da Turquia, Rússia, Ucrânia e  ONU” para resolver o problema da exportação de cereais ucranianos.

O canal assegura que a Turquia, a ONU e a Ucrânia “confirmaram sua participação” e que, para fixar a data, só falta a resposta da Rússia.

Juan Pablo Duch, correspondente de La Jornada em Moscou.
Tradução de Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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