Conteúdo da página
ToggleO presidente da Rússia, Vladimir Putin, sabedor de que a ordem dos fatores não altera o produto, decidiu inverter a sequência dos passos que falta dar para formalizar a anexação das quatro regiões separatistas da Ucrânia. Para dar maior revelo midiático ao que o Kremlin denomina como “acontecimento histórico”, na última sexta-feira (30) – sem passar ainda pelo trâmite do Legislativo e da Corte Constitucional – ocorreu a assinatura dos respectivos tratados de adesão à Federação Russa.
A cerimônia teve como cenário a sala de São Jorge do Grande Palácio do Kremlin, no mesmo lugar em que Putin firmou os tratados de anexação da Criméia e da cidade de Sebastopol em 2014. Compareceram como testemunhas os legisladores russos, tanto da Duma (Câmara baixa) como do Conselho da Federação (Câmara alta).
Assista na TV Diálogos do Sul
Uma vez que o mandatário russo estampou sua assinatura nos respectivos tratados de adesão com Denis Pushilin, de Donetsk, Leonid Pasechnik, de Lugansk, Vladimir Saldo, de Kherson, e Yevgueni Balitsky, de Zaporíjia, era previsto que Putin fizesse uso da palavra em apoio ao ingresso à Rússia destas novas entidades federais.
Na quinta-feira, pode ver-se o palco que estava sendo montado em um lado da Praça Vermelha, junto às muralhas do Kremlin, com esse tema em grandes letras na frente e no alto: “Donetsk, Lugansk, Kherson, Zaporíjia – Rússia” e, de um lado, “Sempre juntos”.
Vanessa Martina, editora da Diálogos do Sul, fala à Sputnik sobre Referendo de Lugansk
Praticamente todo o centro de Moscou, conforme avisou a prefeitura da capital da Rússia, foi fechado para o trânsito e houve uma presença policial mais numerosa que o habitual.
Depois da solene cerimônia de firma, faltam apenas três simples trâmites para consumar a anexação de aproximadamente 15% do território do vizinho país eslavo, cerca de 100 mil km².
Em uma primeira reação de Kiev, o presidente Volodymir Zelensky convocou também para sexta-feira uma reunião de urgência do Conselho de Defesa e Segurança Nacional da Ucrânia e adiantou, mediante um comunicado, que “nada mudam os pseudos referendos” e que “será restaurada a integridade territorial do país”.
Reprodução – Instagram
Segundo Maria Zakharova, Moscou e Washington estão negociando o cumprimento do Tratado START III de armas nucleares
O que vem depois?
Ninguém sabe. As únicas certezas são que o governo de Zelensky vai continuar tentando recuperar o que considera território ucraniano, embora seja declarado parte da Federação Russa, e que a maioria dos países do muno, inclusive os que se consideram próximos a Moscou, não vão reconhecer a anexação. Além disso, os Estados Unidos e seus aliados continuarão proporcionando armamento moderno à Ucrânia.
A guerra, concordam muitos, vai continuar sem trégua e fica a incógnita se a Rússia poderá manter os territórios – ocupados, para os ucranianos; próprios para os russos – com a impopular convocação dos homens russos, sem ter que cumprir sua ameaça de usar as armas nucleares.
Assista na TV Diálogos do Sul
Um dos mais ferventes partidários da invasão da Ucrânia, Igor Guirkin, conhecido por seu pseudônimo Streltsov, que até sua caída em desgraça chegou a ser “ministro da Defesa da república popular de Donetsk”, disse na quinta-feira que, agora, depois dos referendos, “não há outra opção senão ganhar a guerra”.
No outro extremo, a analista liberal Tatiana Stanovaya sustentou que a unidade da elite russo pode tornar-se em pedaços diante destas perguntas: a Rússia está disposta a pagar qualquer preço para derrotar a Ucrânia? Em que momento a Rússia está disposta a parar? Existe algum preço que o Kremlin não queira pagar pela Ucrânia?”. E concluiu: “Ao que parece, as respostas de Putin e da elite russa já não são iguais”.
Estados Unidos, atitude cínica
A porta-voz da chancelaria local, Maria Zakharova, em seu briefing semanal, arremeteu na quinta-feira contra os Estados Unidos por seguirem proporcionando armamento à Ucrânia, com uma ajuda financeira “que logo vai alcançar a astronômica cifra de 26 bilhões de dólares”.
Segundo a porta-voz da diplomacia russa, “o regime de (Volodymir) Zelensky e seus patrocinadores estadunidenses negam aos habitantes do leste e do sul da Ucrânia seu direito à livre determinação, não querem aceitar a realidade e ignoram este princípio do direito internacional”.
Zakharova acrescentou: “Ao contrário, põem em dúvida com verdadeiro cinismo o procedimento do plebiscito e seus resultados, os qualificam como insignificantes e dizem que nada têm que ver com a democracia”.
Ao mesmo tempo – e pelo menos é uma boa notícia no meio da crescente tensão que marca a relação bilateral –, Zakharova confirmou que Moscou e Washington estão negociando o cumprimento do Tratado START III de armas nucleares, suspenso de comum acordo desde o começo de 2020 devido à pandemia de covid-19.
Juan Pablo Duch, correspondente do La Jornada em Moscou.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
Assista na TV Diálogos do Sul
Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.
A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.
Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:
-
PIX CNPJ: 58.726.829/0001-56
- Cartão de crédito no Catarse: acesse aqui
- Boleto: acesse aqui
- Assinatura pelo Paypal: acesse aqui
- Transferência bancária
Nova Sociedade
Banco Itaú
Agência – 0713
Conta Corrente – 24192-5
CNPJ: 58726829/0001-56
Por favor, enviar o comprovante para o e-mail: assinaturas@websul.org.br