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ToggleAo começar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, era impensável que Kiev – levando em consideração o arsenal que tinha e a mermada capacidade de sua indústria – pudesse resistir já quase um ano, tampouco que neste lapso tenha podido recuperar a metade do território que perdeu nos primeiros meses dos combates ou frear os avanços russos para Kiev e Kárkov.
Mas hoje – irreconciliáveis as posições das partes beligerantes – resta muito para que Moscou logre alcançar as metas que fixou para sua “operação militar especial” e para que, no outro extremo, Kiev cumpra seu sonho de voltar a ter o território que lhe pertencia até 1991, antes do colapso da União Soviética.
Portanto, imersos russos e ucranianos em um cenário que só leva a mais mortes e devastação, não se vislumbra um fim próximo das hostilidades e, em muito, isso se deve a que, nestes onze meses e de forma gradual, a Ucrânia tem recebido ingente ajuda estrangeira por parte dos Estados Unidos e seus aliados.
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O respaldo externo à Ucrânia ultrapassará este ano, em todas as modalidades em que se outorga, uma cifra aproximada de 100 bilhões de euros, e uma parte considerável desta soma, difícil de quantificar, serve para financiar a entrega de armamento variado, que vai dos primeiros e simples Javelin, projéteis antitanque portáteis, aos sofisticados sistema de defesa antiaérea Patriot, com mísseis de longo alcance, pendente ainda a possibilidade de fornecer os modernos tanques Leopard, de fabricação alemã.
Cada vez que Washington e seus aliados sobem a qualidade do armamento entregado a Kiev, Moscou o considera uma intromissão inadmissível e adverte que isso pode desatar um conflito nuclear. Assim o disse quando chegaram ao arsenal ucraniano os sistemas móveis de lançamento de mísseis Himars. O repetiu com os de defesa NASAMS e Patriot, e o faz agora com as possibilidades de que apareçam nos campos de batalha os tanques Leopard, embora além das enérgicas palavras não tenha empreendido nenhuma ação para neutralizar o que qualifica de afronta.
Os Estados Unidos, que marcaram a pauta aos demais membros do chamado Grupo de Contato, a coalizão de países aliados da Ucrânia, bloqueiam até agora a entrega de armas que possam impactar o território da Rússia, embora não reconheça como tal a península da Criméia, absorvida em 2014, nem as quatro regiões anexadas em setembro passado.
Os ataques ocasionais que, de vez em quando, se produzem em solo russo, nunca são reivindicados pela Ucrânia e se levam a cabo com armas de produção própria e, de um tempo para cá, em Moscou se chega ao exagero de instalar, nos tetos de alguns edifícios oficiais, como as câmaras do Parlamento ou do governo e da residência presidencial de Novo Ogoriovo, baterias antiaéreas para protegerem-se de hipotéticos ataques de drones não identificados.
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Cronologia
A sequência cronológica do fornecimento de armas à Ucrânia mostra, por um lado, a extraordinária capacidade de aprendizagem dos militares ucranianos para manejar armas cada vez mais modernas e complexas e, por outro, como – mês a mês – o material entregue deixou de ser especificamente para fins de defesa e, segundo se infere do mais recente, já parece destinado a usar-se sobretudo como recurso de ataque em uma eventual ofensiva.
Em fins de fevereiro e começo de março de 2022, apareceram os FGM 148 Javelin, mísseis portáteis contra tanques de fabricação estadunidense, que permitiram frear o avanço dos tanques e carros blindados russos sobre a cidade de Kiev. Pouco depois começaram a chegar os estadunidenses FIM-92 Stinger e os britânicos Startstreak, ambos mais efetivos que os Javelin.
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Desde março, o exército ucraniano usa os drones de alta tecnologia Bayraktar TB2, artefato que é vendido por 5 milhões de dólares por um consórcio de propriedade do genro do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, os quais – diferentemente dos drones “suicidas” iranianos que a Rússia comprou a 40 mil dólares cada um – podem ser utilizados em missões de especial importância enquanto, óbvio, não sejam derrubados.
Em abril, a Grã Bretanha começou a mandar seus obuses rebocados M-77, e chegaram os também britânicos mísseis guiados terra-ar Brimstone e os mísseis estadunidenses Harpoon, contra barcos de guerra e também alvos em terra.
O verão esteve marcado pela entrega, em junho, dos sistemas estadunidenses de lançamento de mísseis múltiplos Himars e os lança-foguetes múltiplos M270 MLRS, limitados a um máximo de 80 quilômetros de alcance, o primeiro, e 60 quilômetros, o segundo.
Em julho, o exército ucraniano recebeu os mísseis táticos terra-ar AGM-88 HARM estadunidenses e, em agosto, os carros blindados antiaéreos Gepard alemães com dois canhões e alcance de 5 quilômetros e meio.
Sistemas antiaéreos
Em outubro, se somaram os sistemas antiaéreos alemães ÍRIS-T com um alcance de até 40 quilômetros; em novembro, o sistema norueguês de mísseis terra-ar NASAMS, e em dezembro, os avançados sistemas estadunidenses de defesa antiaérea Patriot.
Para se ter uma ideia aproximada dos fornecimentos por tipo de arma, um repasse das notícias confirmadas pelos respectivos governos durante um período de meio ano, desde março até fins de agosto, arroja o seguinte panorama:
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Em artilharia – canhões, obuses, morteiros – tanto de fabricação em países da Otan como da época soviética, destacam cerca de 200 unidades de AHSção Krab, M77, M114, Caesar, M109 A3GM, FH70 e Panzerhaubitze 2000, de fabricação na aliança do atlântico norte proporcionados por Estados Unidos, Canadá, Austrália, Grã Bretanha, França, Noruega, Itália e Países Baixos.
Dos equipamentos da época soviética, a República Checa deu 20 DANA e Estônia pelo menos 9 D-30. Dinamarca, Lituânia e Polônia enviaram morteiros M-10 e LMP-2017, sem que se tenha precisado a quantidade. Salvo em um luto polonês de 100 unidades.
Em matéria de lançadores múltiplos de mísseis, no mesmo período, os Estados Unidos entregaram 8 unidades de Himars 142, a República Checa 20 de RM-70, Alemanha 3 de MARS II e a Grã Bretanha um número não precisado de M-270.
A isto há que acrescentar centenas de veículos para transporte de tropas, tanques da época soviético T-72 (só a Polônia deu 240 unidades), carros de combate YPR-765, M80A e BVP-1.
Também se deve agregar cerca de 50 mil aparatos portáteis de projéteis terra-ar e contra tanques como Piorun, Starstreak, Mistral, Stinger e Javelin; sistemas de mísseis também portáteis M72, Strela, Panzerfaust 3, AT4, NLWA e RPG-18.
Estados Unidos, Grã Bretanha e Alemanha
Estados Unidos, Grã Bretanha e Alemanha encabeçam, nessa ordem, a lista de meia centena de países que fornecem armas à Ucrânia. O governo de Volodymyr Zelensky se sente capaz de lançar uma ofensiva na primavera e confia que brevemente a coalizão de aliados da Ucrânia conseguerá consenso que permita a entrega de cerca de 100 tanques Leopard, somando os que aceite entregar a Alemanha e os que possam reexportar Polônia, Finlândia, Dinamarca e outros seis países, que só esperam o visto do proprietário dos direitos.
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Entretanto, o mais recente pacote de ajuda militar à Ucrânia – amarrado na recente reunião na base militar de Ramstein, Alemanha – se diferencia dos anteriores e inclui mais artefatos e sistemas que podem ser usados com fins de ataque.
Para dar um exemplo, no que se refere só a carros de combate, Estados Unidos ofereceram 109 Bradley, 90 Stryker e 53 MRAP; Suécia, 50 CV90; Alemanha, 40 Marder 1A3; França, 40 AMX-10RC; e Canadá, 200 Senator.
Da mesma forma, os Estados Unidos prometeram 22 rampas móveis de lançamento de mísseis antitanque TOW, 6 veículos equipados como centro de mando de operações, 12 veículos para transportar projéteis, 350 jipes HMMWV.
E a Grã Bretanha, 14 tanques Challenger 2; Dinamarca, sistemas de artilharia móveis Caesar, encarregados à França; Suécia, obuses móveis Archer; Polônia, sistemas de defesa antiaérea C-60 e 70 mil projéteis para estes, e metralhadoras; Estônia, obuses FH-70 e D-30, além de morteiros; Letônia, sistemas de mísseis antiaéreos Stinger, dois helicópteros e metralhadoras.
O que continua? Sem dúvida, o seguinte pacote de armamento que os grandes consórcios da indústria militar dos Estados Unidos e seus aliados já estão preparando, à margem da decisão que seja tomada pela Alemanha a respeito de seus tanques Leopard.
Juan Pablo Duch | Correspondente do La Jornada em Moscou.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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