“A guerrilha no Brasil fez um bom trabalho. Mostrou que houve resistência.” A frase dita com orgulho por Ivan Seixas, jornalista, escritor e ex-preso político, resume o tom da entrevista concedida ao programa Dialogando com Paulo Cannabrava no dia 17 de abril.
Aos 16 anos, Seixas foi capturado e brutalmente torturado ao lado do pai por fazer parte do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT). Quase seis décadas depois, ele lançou o livro “Contos Guerrilheiros”, obra literária que mistura ficção e realidade para preservar a memória dos que resistem ao regime militar.
Ivan denuncia que muitos ainda tratam a ditadura como um período de ordem e progresso: “As pessoas acham que ditadura é passeio, mas esquecem que era proibido até fazer festa de aniversário sem avisar à polícia. O controle era absoluto, e a repressão, brutal.” O militante foi mantido desaparecido por oito meses, torturado, e só foi liberto após quase seis anos de prisão sem processo ou condenação, relata.
Sobre seu livro “Contos Guerrilheiros”, ele afirma: “não é só literatura, é um ato político contra o esquecimento”. Os personagens dos contos têm nomes fictícios, mas representam figuras reais da luta armada, como Carlos Lamarca e o próprio pai de Ivan, assassinado sob tortura. “A literatura é uma arma para combater o negacionismo e mostrar que sempre houve resistência no Brasil”, destaca.
Seixas critica o que chama de “esquerda domesticada”, afirmando que falta ao campo progressista um verdadeiro projeto de ruptura. “A esquerda atual não quer tomar o poder, só participa do jogo eleitoral. Mas sem ruptura, sem enfrentar o imperialismo e a burguesia, não há transformação”, assevera.
O entrevistado aproveita para rejeitar qualquer comparação entre os guerrilheiros e os golpistas de 8 de janeiro: “Nós enfrentamos uma ditadura real, com violência de Estado. Os que pedem anistia hoje querem impunidade antes mesmo de serem julgados. Isso é inaceitável.”
“Se precisar, faço de novo: vou combater”, diz ex-guerrilheiro sobre ameaça de ditadura no Brasil
Para Ivan, só haverá democracia plena no Brasil quando as Forças Armadas forem desmilitarizadas e formadas sob uma nova lógica. “Hoje, a estrutura militar ainda é herdeira do golpismo. Enquanto não desmontarmos isso, o risco de retrocesso sempre estará presente”, sugere.
Ao final, o jornalista deixa um recado direto: “Me orgulho de tudo o que fiz. E faria de novo. Porque o Brasil é nosso, não deles. A luta pela libertação nacional continua.”
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube: