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Foto: Lawrence Jackson / Casa Branca

Harris descarta estratégia de Biden e quer distância da figura impopular do presidente

Discurso de Harris na Convenção Democrata foi voltado à economia, diferente da retórica de Biden sobre a “ameaça de Trump à democracia”
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Chicago

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Nesta segunda-feira (19), o primeiro dia da Convenção Nacional Democrata estreou com apelos à unidade de líderes sindicais, prefeitos, legisladores e até algumas estrelas e figuras do mundo esportivo, e culminou com os primeiros discursos de despedida do presidente Joe Biden, que foi forçado por seu partido a ceder sua candidatura presidencial à sua vice-presidenta Kamala Harris.

Com o Partido Democrata construindo a coalizão que, esperam, levará ao triunfo nas eleições nacionais de novembro — não apenas para a Casa Branca, mas para retomar o controle da Câmara Baixa e manter o do Senado — essa primeira noite ofereceu um contraste com sua oposição republicana.

Kamala Harris apareceu surpreendentemente na convenção para oferecer um agradecimento ao seu chefe, Biden. “Joe, obrigado por sua liderança histórica de nossa nação, por tudo o que você fez por nossa nação”, declarou. “Ao ver todos aqui esta noite, vejo a beleza de nossa nação, as pessoas de todos os cantos de nossa nação unidas para declarar, ‘estamos avançando’”, e concluiu com seu lema “Quando lutamos, ganhamos”.

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Biden foi a estrela da noite. Uma longa ovação e milhares gritando “obrigado Joe, obrigado Joe”. O presidente declarou que “a democracia prevaleceu, a democracia cumpriu e a democracia precisa ser preservada”, ao lembrar a ameaça que representou e continua representando Donald Trump à democracia, com seu apoio aos supremacistas e às forças ultradireitistas.

O mandatário ofereceu uma lista de suas principais conquistas, desde o campo econômico até limitar os custos de medicamentos à legislação sobre mudanças climáticas, que disse ser a mais ambiciosa do mundo, no que parecia ser um discurso de campanha que, ao mesmo tempo, era uma tentativa de passar o bastão para Harris.

“Não há país no mundo que não pense que somos o líder do mundo. E o mundo está melhor por isso. Quem pode liderar o mundo melhor que os Estados Unidos?”, insistiu.

Ele se congratulou por ter reduzido o cruzamento de migrantes em 50% menos que Trump, disse “não demonizaremos os migrantes” e, revertendo a frase de Trump contra migrantes, acrescentou: “Trump está envenenando o sangue do nosso país”.

Ele terminou declarando: “tenho mais cinco meses no meu mandato, e tenho muito a realizar”. Agregou: “amo meu trabalho, mas amo mais meu país”, disse em referência à sua decisão de ceder a candidatura, e chamou à unidade para eleger Harris e o candidato a vice-presidente Tim Walz. “Serei o melhor voluntário [de campanha] para Kamala e Tim”, prometeu.

O público democrata

Foi notável o mosaico de raças e etnias na arena em comparação com a esmagadora brancura da convenção republicana do mês passado, assim como as forças sociais presentes. Enquanto Donald Trump atacou os sindicatos, Harris recebeu o apoio de quase todos os principais sindicatos nacionais e da central trabalhista AFL-CIO, com os delegados gritando “Sindicato, sim, sindicato sim”.

O líder sindical mais popular foi Shawn Fain, o presidente do sindicato dos trabalhadores automotivos UAW, que no ano passado triunfou em sua greve histórica contra as três maiores empresas automotivas do país. Ele disse: “esta eleição se resume a uma única pergunta: de que lado você está? De um lado, temos Kamala Harris e Tim Walz, que estiveram do lado da classe trabalhadora. Do outro lado estão Trump e Vance, os servidores da classe bilionária que só servem a si mesmos. Para a classe trabalhadora, é muito simples. Kamala Harris é uma de nós, uma lutadora pela classe trabalhadora. Donald Trump é um ‘esquirol’ (traidor)”. Então, Shaun tirou o paletó para mostrar uma camiseta com essa mesma mensagem.

Sindicalistas e esportistas marcam presença na convenção

As convenções políticas geralmente são um desfile de políticos eleitos tentando entusiasmar os delegados e seus convidados e transmitir uma mensagem muito ensaiada para uma audiência massiva de televisão que vê uma pequena parte do espetáculo. Mas nesta segunda-feira foram os não políticos que conquistaram o público, como o líder sindical Fain e Steve Kerr, o treinador da equipe campeã olímpica de basquete dos Estados Unidos e também treinador do Golden State Warriors da Califórnia. “A alegria, a compaixão, o compromisso com nosso país que vimos nas Olimpíadas, isso é o que Kamala Harris e Tim Walz têm, a liderança real, não a que busca nos dividir”.

Houve frases notáveis para marcar a diferença entre Harris e Trump. Jasmine Crockett, deputada federal do Texas, disse que “Kamala Harris tem um currículo, Trump tem uma ficha criminal”. Também afirmou que a pergunta é se “um vil violador violará a visão dos eleitores?”.

O deputado Jamie Raskin, que foi um dos que guiou a investigação legislativa sobre a tentativa de golpe de Estado de Trump em 2020, declarou que a batalha contra Trump é realmente “uma luta contra o fascismo” e contra o que chamou de “republicanos bananeiros”.

Outros oradores da noite de segunda-feira incluíram a legisladora Alexandria Ocasio-Cortez, uma líder da ala progressista do partido, que foi a primeira a mencionar o tema de Gaza desde o pódio, argumentando que Harris está “trabalhando incessantemente por um cessar-fogo em Gaza”, mas não exigiu mais.

A primeira noite da convenção também é geralmente reservada para ex-líderes do partido e, portanto, a ex-secretária de Estado e primeira mulher candidata presidencial do partido, Hillary Clinton, apareceu na convenção para oferecer outro tributo a Biden e sublinhar o papel histórico de Harris como a primeira mulher vice-presidente e declarar que será a primeira mulher presidenta.

A apresentação de Biden marcou — além da recepção de quem será coroada nesta quinta-feira (22) como sua sucessora — o início de seu adeus à sua carreira política de 50 anos. Nem todos estarão tristes por isso, e sua saída da disputa será um tema tratado de maneira muito delicada para evitar abordar o que alguns dizem ter sido um putsch (golpe).

Kamala Harris que escapar da sombra impopular do chefe

Poucos dias antes de os democratas se reunirem em Chicago para a convenção, Harris tentou escapar da sombra impopular de seu ainda chefe Biden, moderar suas posições mais progressistas de quando era senadora e focar sua mensagem na economia, tudo como parte de um esforço urgente para definir sua candidatura presidencial com menos de três meses para as eleições nacionais.

Evidentemente, a prioridade é uma imagem de unidade em público. Na última quinta-feira (15), ambos realizaram eventos conjuntos pela primeira vez desde que o presidente finalmente cedeu às pressões da liderança do partido e abandonou seu esforço cada vez mais cambaleante de reeleição.

Mas o fato de esta primeira reunião em público ter levado três semanas para acontecer reflete o fato de que Harris acredita que é necessário se distanciar do cada vez mais velho presidente que continua sendo pouco popular em várias partes do país.

55% dos estadunidenses desaprovam como Biden está exercendo sua presidência, um número que é apenas um pouco mais alto que os 52% que desaprovam Trump, segundo uma média de pesquisas nacionais calculada pela ABC News. Harris é mais popular do que ambos os políticos.

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“Harris não dirá isso diretamente em público, mas seus assessores dizem no privado: ela deseja romper com Biden”, explicam os jornalistas políticos Mike Allen e Jim Vanderhei do site Axios.

Reconhecendo que a economia, especialmente a inflação e o preço dos produtos básicos, são um tema-chave para o eleitorado, Harris está tentando dar uma virada na mensagem emitidas por Biden quando era candidato — que enfatizava a ameaça à democracia representada por Trump — para uma que se foque mais em temas econômicos cotidianos para as maiorias.

O ato conjunto de 15 de agosto, aliás, focou em questões econômicas, especialmente o abuso das empresas ao elevar os preços dos produtos básicos, incluindo os farmacêuticos.

Mas Harris não tem em seus planos dedicar muito tempo a eventos públicos com Biden. Na convenção nacional democrata, só foi reservado a Biden — o presidente do país e, portanto, o democrata supremo — falar na primeira e sempre menos importante noite do grande evento político. É uma hora menos importante do que a oferecida ao ex-presidente Barack Obama, que falou na segunda noite (nesta terça-feira, 20), ou Bill Clinton, que toma o microfone nesta quarta. A vice-presidente e candidata presidencial será coroada nesta quinta-feira ao culminar o magno evento.

Biden “descartado”

Neste país, não é surpreendente que, em meio a um ciclo eleitoral, os políticos se afastem de políticas impopulares de seus aliados, mas a velocidade com que a cúpula democrata parece estar abandonando Biden está surpreendendo os meios de comunicação e comentaristas, e aparentemente até o próprio presidente.

“Biden comentou a seus assessores e parceiros mais próximos que está aceitando as razões pelas quais saiu da contenda presidencial no mês passado, mas ainda sente frustração com membros de seu próprio partido que ele acredita que o tiraram”, relatou o portal Politico na semana passada. Segundo algumas versões, Biden está particularmente irritado com a ex-presidente da câmara baixa Nancy Pelosi por não ter lhe dito abertamente que ela estava promovendo seu fim.

Embora Pelosi negue ter chamado outros líderes para tirar Biden da disputa, ela reconheceu em uma entrevista ao The New Yorker que expressou a quem conversava que “deveria haver uma mudança na liderança”. E em várias entrevistas nas últimas duas semanas, Pelosi admitiu ter expressado que a equipe eleitoral do presidente não era muito competente: “nunca fiquei muito impressionada com sua operação política”.

Essas são palavras afiadas da grande dama da cúpula democrata de 84 anos sobre um presidente de seu próprio partido. Biden, quando um de seus assistentes perguntou sobre Pelosi, respondeu que “ela fez o que tinha que fazer” para dar aos democratas a melhor chance de ganhar em novembro, e acrescentou que Pelosi “se importa com o partido” e não com os sentimentos, relatou o Politico.

Mas também afirma-se que Biden tem ressentimento com o ex-presidente Obama, seu ex-chefe quando era vice-presidente, porque aparentemente ele não o defendeu quando outros no partido começaram a promover a saída do presidente da contenda.

O outro líder principal do partido, o chefe da maioria no Senado Chuck Schumer, outro que em privado incentivou o presidente a abandonar seu esforço de reeleição, declarou ao Politico, em uma expressão clássica de um político apunhalando outro com palavras bonitas: “o presidente Biden é um patriota e deu um exemplo para todos os americanos ao mais uma vez colocar seu país acima de tudo”.

O rei está morto, viva o rei.

Democratas prontos para lançar campanha de Harris

Biden, Harris e a cúpula do Partido Democrata chegaram à Convenção Nacional nesta segunda para consolidar seu partido em torno da campanha da atual vice-presidenta e seu companheiro de chapa, Tim Walz, usando o espetáculo cuidadosamente coreografado com o objetivo de emitir as imagens e mensagens necessárias para tentar ganhar a eleição presidencial que acontece em novembro.

Mas milhares de manifestantes oriundos de mais de 21 estados também chegaram a Chicago esta semana com a demanda de que Harris e os democratas ponham fim ao apoio até agora incondicional ao genocídio perpetrado por Israel em Gaza. Mesmo dentro da convenção, pelo menos 30 delegados oficiais permanecem “não comprometidos” com qualquer candidato enquanto esperam e exigem que Harris rompa com a política do presidente Joe Biden e declare que agirá imediatamente para frear o genocídio.

As pesquisas nacionais registram que uma ampla maioria da população americana apoia um cessar-fogo e, em estados-chave para a eleição como Michigan, Arizona, Geórgia e Pensilvânia, a guerra em Gaza poderia afetar a participação de eleitores democratas e até definir o resultado da eleição nacional.

Harris expressou sua “preocupação” com a situação do povo palestino diante da taxa mortal de dezenas de milhares, mas ainda não mostrou estar disposta a romper com as políticas de Biden que incluem um cheque em branco para Israel.

Sobre Gaza, como muitos outros temas, assessores e estrategistas de Harris a aconselharam a manter uma mensagem tão ambígua quanto possível para tentar captar o maior apoio popular. Mas isso pode ser complicado em uma convenção onde diferentes grupos e correntes do partido exigem maior clareza da candidata sobre suas políticas econômicas, impostos, direitos de imigrantes, aborto, mudança climática, controle de armas de fogo e muito mais.

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Até agora, as tentativas de Harris de definir suas políticas receberam uma recepção mista. O Washington Post qualificou suas propostas econômicas recentes em seu discurso sobre o tema na sexta-feira como “truques”, organizações ambientalistas criticaram a candidata por se afastar de suas posições anteriores para proibir o fracking, e, em geral, comentaristas reiteraram que ninguém sabe com precisão quais são as posições de Harris em geral.

A convenção está repleta de mensagens políticas muito bem desenhadas, e não há um forte debate público sobre os grandes temas que o país enfrenta, nem se esperam expressões dissidentes do púlpito, embora, sim, entre os delegados e vários dos participantes que formam parte do mosaico diverso das bases democratas.

Os quatro dias têm como ato central os discursos na convenção em todas as noites, entre os quais se destacam os dos aristocratas do partido, incluindo Biden – relegado ao primeiro e menos importante dia – e os ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton, junto com os principais líderes do partido, algumas estrelas e mais. Todos os oradores festejam a candidatura presidencial da primeira mulher negra e incessantes elogios à sua inteligência, experiência e compromisso com o povo.

Fora da convenção, protestos

O outro grande evento desta segunda-feira foi nas ruas, onde milhares de pessoas de vários pontos do país chegaram diante das grandes barras de segurança ao redor da arena da Convenção para a “Marcha pela Palestina”.

Faayani Aboma Mijana, porta-voz da coalizão de mais de 270 organizações que lideraram a marcha, informou que estas incluem agrupações muçulmanas, judaicas, imigrantes, assim como organizações pró-direitos das mulheres e da comunidade LGBT, contra a violência policial, entre outras.

“A demanda central é o fim de toda assistência americana a Israel, frear o genocídio e defender a Palestina”, explicou Mijana em entrevista ao La Jornada. Embora alguns ativistas democratas e até alguns progressistas tenham tentado convencer os organizadores a não levar suas demandas às ruas devido aos perigos de violência — imagens que poderiam lembrar as cenas caóticas da Convenção Democrata nesta mesma cidade em 1968 —, tudo isso poderia beneficiar os republicanos. Os ativistas insistem que não têm outra opção diante do genocídio apoiado por Washington.

“Somos amplos, profundos e diversos. Somos justamente o povo que os democratas dizem representar”, comenta Mijana ao La Jornada. “É importante que estejamos à vista e sejamos ouvidos na Convenção Democrata, já que é lá onde estão algumas das pessoas mais ricas e poderosas do país. Nós, o povo, não seremos ignorados”.

Chicago, “a terceira cidade mexicana nos EUA”

O blues urbano, os mártires de Chicago, as lutas centenárias de imigrantes, o 68 e os “sete de Chicago”, as maiores marchas de migrantes do século, a bolsa mercantil onde se decide a vida ou morte de produtores agrícolas a nível mundial, Benito Juárez, a terceira cidade mexicana do país, tudo isso diante de um mar sem sal — o lago Michigan — são o cenário da Convenção Nacional Democrata.

De repente aparece, sem nada que ofereça aviso prévio e no meio de uma quadra que antes era uma praça, Haymarket Square, o local onde nasceu o que se festeja ao redor do mundo — com exceção dos Estados Unidos — todo Primeiro de Maio. Ali há um monumento meio estranho, com figuras sem rosto, que registram os eventos de 4 de maio de 1886, quando durante um comício do movimento por uma jornada de trabalho de 8 horas — que havia organizado uma mega marcha de 80 mil trabalhadores no primeiro de maio — alguém lançou uma bomba matando vários policiais e outros, pelos quais líderes anarquistas foram culpados e quatro deles julgados e executados, conhecidos mundialmente como “os mártires de Chicago”.

Placas ao redor da base do monumento colocadas por centrais sindicais e sindicatos de várias partes do mundo, incluindo uma da Frente Autêntica do Trabalho do México, outras de federações trabalhistas da Alemanha, Argentina, França e uma do AFL-CIO, com mensagens sobre a solidariedade proletária, mantêm vivos os fantasmas deste local que continua tendo relevância contemporânea na luta e defesa dos direitos trabalhistas tanto aqui como ao redor do mundo.

Também oferecem um aviso àqueles que se atrevem a resistir e se rebelar, dos extremos a que podem chegar os repressores de expressões de luta popular, algo que os organizadores de uma marcha de protesto que está sendo organizada nos arredores da convenção democrata criticam.

Alguns assinalam que há paralelos com o que aconteceu nesta cidade no verão de 1968, quando o Partido Democrata realizou sua convenção nacional aqui em meio a uma guerra cada vez mais impopular (Vietnã), protestos estudantis nacionais, e pouco depois de um presidente democrata abandonar sua candidatura à reeleição (Lyndon B. Johnson) devido a essa guerra.

Em 1968, os protestos em Chicago de milhares contra a guerra e pelos direitos civis foram violentamente reprimidos no que alguns chamaram de um motim policial, sob ordens de um prefeito e caudilho democrata, Richard Daley. Parte da repressão foi o famoso julgamento dos supostos líderes dos protestos, que foram batizados como os “7 de Chicago”.

Porém, hoje em dia, o prefeito é alguém considerado progressista, oriundo do grande sindicato dos professores, e a cúpula democrata deseja evitar uma repetição de 68 — vale lembrar que perderam a eleição presidencial naquele ano —, embora alguns ativistas e jornalistas tenham saudades.

A convenção é assim realizada em uma cidade que por si só seria a 20ª economia mais rica do mundo. É uma cidade marcada por seu passado migrante — poloneses, italianos, alemães, irlandeses, porto-riquenhos, centro-americanos —, mas, sobretudo, é em grande parte uma metrópole mexicana.

A cultura mexicana está estampada pela cidade, desde a gastronomia a murais e artes plásticas e, claro, na música. E até estátuas de Benito Juárez no centro, o Museu Nacional de Arte Mexicano, e as federações e clubes de oriundos e os bairros mexicanos de Pilsen e La Villita, entre outros.

A “mexicanização” de Chicago tem uma história complexa nutrida por décadas de imigração de Michoacán, Guanajuato, Jalisco e vários outros estados, a ponto de que hoje uma em cada cinco pessoas nesta cidade se identifica como mexicana.

A migração interna de outras partes dos Estados Unidos também moldou esta cidade, especialmente a dos afro-americanos dos campos do sul que chegaram às indústrias desta urbe.

O blues de Chicago é uma manifestação viva dessa migração, com o blues acústico rural do sul se conectando com a eletricidade industrial urbana. B.B. King, Buddy Guy (cujo clube ainda funciona às vezes com a presença do ícone) e outros seguem sendo parte da rota sonora que se escuta hoje na cidade.

Entre os discursos e fóruns do grandioso espetáculo da Convenção Nacional Democrata, e os protestos do lado de fora, a metrópole ainda sabe como manter o ânimo em tempos difíceis e, ao mesmo tempo em que sofre, sabe que também deve-se festejar outro dia de vida. Ou seja, aqui se sabe cantar o blues.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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