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Hiroshima, 1945 – Gaza, 2023: um olhar sobre os holocaustos operados pelos EUA e seus aliados

Tudo é incerto, não há qualquer esperança. Como no Japão de 1945, as portas se fecharam sobre Gaza: resta a destruição e a morte mais cruel!
Carlos Russo Jr
Diálogos do Sul Global
Florianópolis (SC)

Tradução:

Quase toda esta página é motivo para reflexão sobre o passado e um aprendizado para o presente: o holocausto praticado pelo Estado de Israel contra os palestinos, que principiou há 56 anos e hoje atinge seu auge, com o planejado extermínio da população de Gaza.

Sempre sob a batuta do Império Norte-Americano, “o senhor das armas e da guerra”, autor e coautor dos holocaustos de Hiroshima, Nagasaki e Gaza.

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1945 – A Guerra já estava vencida pelos Aliados

Em maio de 1945, a Segunda Guerra praticamente chegava a seu fim com a rendição da Alemanha Nazista às tropas Soviéticas. Em abril de 1945, falecera repentinamente o presidente dos USA, F. Roosevelt e seu vice, H. Truman decidira agir contra a supremacia soviética na Europa libertada.

O Projeto Manhattan fora criado para exploração mortal da energia nuclear por norte-americanos, ingleses e canadenses, em 1941, inclusive por recomendação de Albert Einstein (que disto se arrependeria após o holocausto japonês). Recebeu um grande impulso nos últimos anos do conflito com a ajuda imprescindível de cientistas nucleares nazistas, que haviam se entregado às forças americanas.

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Em agosto, o Japão era único país beligerante que ainda não assinara a rendição, mas absolutamente enfraquecido, começara a retirada de suas tropas da China e da Indochina. Sem prévio aviso, primeiro a população civil de Hiroshima e, três dias após, a de Nagazaqui, foram aniquiladas por bombas atômicas despejadas pela Força Aérea dos USA.

Falemos, agora, do holocausto imposto à população civil japonesa!

Recordemos o dia em quase 100 mil pessoas, em Hiroshima, morreram incineradas pela bomba atômica e cujo efeito da radioatividade continuou matando milhares por meses e anos.

Para tal, não existe uma fonte melhor que o diário escrito por um médico japonês, o Doutor Hachiya, que morreu poucos meses após por envenenamento radioativo.

Nos 78 anos do bombardeio a Hiroshima e Nagasaki, mídia dos EUA se cala

Ali se aprende mais sobre os fatos sucedidos que em qualquer outra descrição posterior. Seu relato abrange 56 dias entre o 6 de agosto, dia fatídico da detonação da bomba, que os norte-americanos denominavam familiarmente de “little boy”, e o 30 de setembro em 1945.

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Tudo é incerto, não há qualquer esperança. Como no Japão de 1945, as portas se fecharam sobre Gaza: resta a destruição e a morte mais cruel!

Goverment Media Office In Gaza
Israel já explodiu em Gaza 1,5 vezes a força de explosão que USA realizou em Hiroshima!

Mais de trezentas mil pessoas foram exterminadas!

O HOLOCAUSTO de civis japoneses, na verdade, somente tinha um único objetivo: recado aos soviéticos, que somente quatro anos após, em 1949, testariam sua própria bomba nuclear!


E chegamos ao holocausto de Gaza

Em 1948, em ação estrategicamente sincronizada, organizações terroristas judaicas como Irgun, Haganah e Stern explodiram o QG das forças britânicas instalado no Hotel Rei David, na Palestina, já escrevendo com sangue e terror o princípio da fundação do Estado de Israel. Mais de 90 mortos!

A Faixa de Gaza surgiu em 1949, quando a Palestina foi dividida em três partes: Estado de Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaza.

Gradualmente, os palestinos foram sendo expulsos de seus territórios milenários e confinados aos dois territórios. Muitos, no desespero daqueles que tudo perderam, iniciaram uma diáspora para outros países árabes, semelhante àquela imposta aos judeus há dois milênios atrás.

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Desde então, os massacres cometidos contra o povo palestino jamais pararam!

Por exemplo, em Deir Yassin e nos acampamentos de refugiados de Sabra e Chatila no Líbano, em 1982, e o da aldeia de Qana! Sempre sob o respaldo político e as armas fornecidas pelos U.S.A.

Após se impor o bloqueio aos palestinos no Gueto de Gaza, Israel lançou contra a mesma quatro ataques militares prolongados: 2008, 2012, 2014 e 2021. Milhares de palestinos foram mortos, incluindo centenas de crianças, enquanto dezenas de milhares de casas, escolas e edifícios foram simplesmente, incinerados!

Cannabrava | Genocídio em Gaza

E o holocausto do povo palestino chega agora, em 2023, ao seu apogeu!

Israel, na verdade, reproduz o extermínio do povo judeu no século passado por Hitler e seus sequazes, utilizando a mesma arma de extermínio étnico: matança indiscriminada de mulheres, crianças, jovens ou velhos, a destruição de todos seus haveres e templos religiosos!

Antes, o nazismo espoliou o povo judeu em todos os países que ocupou. Agora, Israel, visando a expansão sionista, ponta de lança dos U.S.A. no Oriente Médio, quer toda a terra pertencente a um povo “inferior”: o palestino!


O holocausto japonês

Os rostos derretidos de Hiroshima, a sede dos cegos. Dentes brancos salientes nos rostos desfeitos. Ruas, cujas margens são cadáveres. O jovem morto sobre uma bicicleta. Lagos cujas águas evaporaram, cheios de mortos…

Um médico sobrevivente cercado por quarenta feridos, queimados, lesados, enlouquecidos. “O senhor ainda está vivo?”. Quantas vezes o doutor Hachiya teve de ouvir essa pergunta?

A noite é iluminada não por eletricidade, mas pela luz do incêndio da cidade, onde os cadáveres estão queimando. Tudo cheira a sardinhas queimadas.

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Quando tudo aconteceu, a primeira coisa que o médico sentiu é que estava completamente nu. E assim ficou. No silêncio da cidade, onde somente se ouve o crepitar, todas as figuras se movem sem barulho, como num filme mudo de terror.

O doutor Hachiya caminha até o hospital, o melhor da cidade e lá ouve os primeiros relatos de pacientes sobre o ocorrido. Compartilha-se tudo, pois tudo ainda é enigmático, um acontecimento absolutamente inexplicável!

E em meio aos mortos e feridos, o autor em seu diário procura coletar peça por peça do ocorrido, suas hipóteses irão se transformando à medida que sua experiência aumenta.

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Uma vez que tudo se passa em um hospital, as observações se atêm quase que exclusivamente sobre àqueles que o procuram em seu sofrer e aos que o mantém em funcionamento. Arrolam-se nomes de seres ainda vivos que em poucos dias também estarão mortos.

O hospital é o melhor da cidade, uma espécie de paraíso comparado com os outros, por isso tantos o procuram e muitos conseguem nele se abrigarem.

Não há mais energia elétrica! À noite, as únicas luzes acessas são os incêndios na cidade. E os mortos incinerados em holocausto são os doadores dessas luzes.

Quebrando tabu: bombas de Hiroshima e Nagasaki levaram mesmo à rendição do Japão?

Grupos de pessoas se reúnem em torno de uma única vela e começam a falar do acontecimento. Cada um deles procura complementar o seu relato por meio do relato dos outros e é como se tivessem de juntar fotos esparsas de um filme.

Se alguém decide ir à cidade vai-se abrindo caminho por entre a destruição, ou escavando em busca de bens abandonados; volta-se, então, para a companhia dos moribundos, ainda esperançosos de viver.

“Será verdade que só em seu maior infortúnio conseguimos ver os outros seres humanos como nós mesmos? Será o infortúnio aquilo que os homens mais possuem em comum?”, pergunta-se o médico.

Ele já pressentira que sobre Hiroshima se abatera uma catástrofe que fora planejada, testada e executada com a maior precisão possível pelos U.S.A.!


O holocausto de Gaza

Somente imagens parciais da aniquilação humana e da destruição material chegaram até nós. Ainda mal aventamos a real profundidade do martírio imposto aos seres humanos!

Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização internacional criada em 1971 por médicos e jornalistas. Ela relata: “A Faixa de Gaza está sofrendo com falta de alimentos, água, gás, combustível, eletricidade e recursos médicos, agravando cada vez mais a situação da população palestina que habita o território”.

“O bloqueio total imposto à população tem consequências terríveis e a verdade é que haverá uma enorme catástrofe humanitária. Com o corte da eletricidade, hospitais dependem de geradores para manter em funcionamento incubadoras e aparelhos em unidades de terapia intensiva. ”

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“Um colega nosso, cirurgião, teve que realizar uma amputação de uma criança sem anestesia. Foi a forma que conseguiu fazer. Uma situação indescritível, catastrófica e desumanizante. ”

Mais de dez mil pessoas, dentre estas quatro mil crianças, foram exterminadas! Quantas ainda o serão na ofensiva das tropas de Israel- USA?

Avisa o Hitler Judeu, Netanyahu: a ofensiva contra os palestinos está apenas começando! E seu Comandante declara: “destruiremos até o último daqueles animais!”.


Voltemos ao Japão de 1945 e encontremos as similaridades com Gaza

Numa catástrofe de tais dimensões, o que significa sobreviver?

As anotações doutor Hachiya, um médico moderno consciencioso, habituado a pensar cientificamente, e, em face de um fenômeno tão maldito, não consegue compreender com o que está lidando!

Só no sétimo dia ele fica sabendo, por uma visita vinda de fora, que Hiroshima fora assolada por uma bomba atômica!

Aqueles que hoje condenam Rússia deixaram impune destruição a Hiroshima e Nagasaki

Um capitão do exército, seu amigo, lhe traz de presente uma cesta de pêssego. “É um milagre o senhor ter sobrevivido! Afinal a explosão de uma bomba atômica é uma coisa horrível”.

Desde os primeiros dias, cumprimentam o doutor Hachiya pelo fato de estar vivo. É um homem respeitado e amado; entre as visitas que recebe estão pacientes agradecidos, companheiros de escola, amigos do tempo em que a cidade existia, parentes. A alegria por ele ter sobrevivido não tem limites.

Entre os fenômenos mais notáveis do hospital está a irregularidade da morte. De homens que entram queimados e marcados, espera-se que morram ou que recuperem a saúde. É duro assistir ao agravamento cada vez mais intenso de seus estados; alguns, porém, parecem superar esta fase, pouco a pouco melhoram, acredita-se que já estejam salvos, quando inesperadamente adoecem novamente e subitamente apresentam risco de vida. Há outros, inclusive enfermeiros e médicos que de início parecem ilesos. Trabalham de noite e de dia com todas as suas energias e, de repente, apresentam sinais de doenças e estas se agravam progressivamente até eles morrerem.

Jamais se saberá com certeza se alguém escapou do holocausto atômico; os efeitos retardados da bomba põem abaixo todos os prognósticos médicos normais.

O médico logo percebe que está tateando no escuro e esforça-se de todas as maneiras, mas por não saber de que doença se trata, vê-se a si próprio numa era pré-medicina e tem que se contentar em oferecer consolo em vez de cura.

Ao mesmo tempo em que anda às voltas com a decifração dos sintomas da doença nos outros, o doutor Hachiya torna-se, ele próprio, paciente. Cada sintoma que descobre nos outros, ele procura secretamente no próprio corpo.

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A sobrevivência é precária e nada estará assegurado tão cedo. Gaza e Hiroshima, Hiroshima e Gaza!

Jamais, entretanto, o médico perde o respeito pelos mortos, e fica horrorizado com o desaparecimento deste respeito por parte de outros. Quando vai à pequena cabana de madeira, aonde um colega vindo de fora faz autópsia, não deixa de curvar-se respeitosamente perante o cadáver.


Cada morto é único! Merece todo o respeito, senhores Netanyahu e Biden!

Toda noite, corpos são queimados ante a janela de seu quarto do hospital. Bem ao lado do local onde isto ocorre, há uma banheira. Na primeira vez em que presencia uma cremação, ouve alguém perguntar dessa banheira “quantos você já queimou hoje?”. A impiedade desta situação o revolta profundamente.

A honradez e honestidade deste diário estão acima de qualquer suspeita. O autor é um homem de cultura e moral elevadas. Como todos nós, está preso às tradições de sua origem. Suas questões e dúvidas se movem no interior da esfera médica na qual são permitidas e necessárias.

Ele acreditou na guerra, aceitou a política militarista do seu país, e embora tenha observado no comportamento da casta de oficiais militares muita coisa que não o agradou, considera seu dever patriótico calar sobre isso. Mas é justamente esse estado de coisas que torna seu diário mais impressionante.

Pois nele, não vivenciamos apenas a destruição de Hiroshima pela bomba atômica americana, mas nos tornamos testemunhas do efeito que tem sobre o médico a conscientização da derrota do Japão. Assim como hoje testemunhamos o desespero de uma população inteira sendo dizimada a cada hora, a dia que passa!

Na cidade totalmente destruída, não é ao inimigo que se sobrevive, mas à família, aos colegas e concidadãos. Por isso, a notícia da capitulação do Japão no décimo dia após a bomba, teve um impacto mais duro.

Tal anúncio atinge mais duramente os pacientes do hospital que a própria destruição da cidade, a própria doença e a morte dolorosa que muitos deles têm diante dos olhos. Nenhuma mudança de rumo é concebível: há que se suportar ferimento e morte em todo o seu peso, eles não se deixam mitigar.

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Tudo é incerto, não há qualquer esperança. As portas se fecharam também sobre Gaza: resta a destruição e a morte mais cruel!

É curioso acompanhar, no decorrer dos dias que se seguem, a consciência do doutor Hachiya. Existiu um Poder do Mal. O Poder dos militares que conduziram o país ao infortúnio, em contraponto ao Imperador, que em seu entendimento, desejava o bem do país!

Dessa forma subsiste uma instância de poder, para o doutor, que é a verdadeira estrutura de subsistência que permanece inabalada. A partir de agora seus pensamentos giram incessantemente em torno do Imperador. Este, como todo o país, fora vítima dos militares.

Tudo aquilo que desde sempre se observou nos militares, sem que se ousasse expressá-lo: a arrogância, a estupidez, o desprezo por todo aquele que não pertence à sua amaldiçoada casta! A mesma amaldiçoada casta que fere Gaza!

No hospital de Hiroshima continuam chegando pessoas que, espantadas em encontrar o médico com vida, o felicitam. Por muito tempo ainda os pacientes, que morrem, seguem sendo cremados em frente à janela do hospital: a mortandade continua.

É como uma nova e mortal epidemia, desconhecida. Sua causa exata e sua evolução ainda não foram investigadas.

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Só pelas autópsias, se começa aos poucos a compreender com o que se está lidando. O desejo de investigar essa nova doença não abandona o doutor por um instante sequer.

O mais intangível, porém, nesse homem, é seu respeito pelos mortos. Já se falou aqui como é difícil de suportar que as pessoas se acostumem à morte; para o doutor Hachiya esta permanece sempre algo muito sério, não se tem a sensação de que para ele, os mortos se amalgamaram numa máscara na qual o indivíduo não mais conta. Ele pensa em cada morto como numa pessoa.

Não se deve esquecer que ele é um médico, portanto, profissionalmente exposto à indiferença perante a morte. Porém, com tudo o que aconteceu, tem-se a impressão de que, para ele, importa cada indivíduo que vive e viveu, cada indivíduo tal como era efetivamente ou tal como carrega na própria lembrança.

O 44º dia após a desgraça é dedicado à memória dos mortos! Com sua bicicleta, o médico vai à cidade e visita cada lugar consagrado para os que se foram, pelos seus próprios e também por aqueles de cuja morte tomou conhecimento.

“Cerro os olhos para visualizar uma vizinha que morrera e ali ela aparece. Tão logo abro os olhos, a imagem se desvanece e ao fecha-los novamente, ela torna a aparecer”.

O médico procura seu caminho por entre os escombros e não se pode dizer que vagueia perdido, ele sabe exatamente que procura e o acha: o lugar dos mortos! Nada se poupa, traz tudo de novo à mente. Ora por cada um deles.

O holocausto de Gaza nos torna presente os relatos do médico do holocausto do Japão. Todos possuem autores explícitos ou encobertos: os U.S.A., sua indústria armamentista e ponta de lança no Oriente Médio: a Israel de Netanyahu!

Obs.: Israel já explodiu em Gaza 1,5 vezes a força de explosão que USA realizou em Hiroshima!


Referências:

1. Hachiya, M.. Diário de Hiroshima./ 2. Canetti, E. A consciência das palavras.

Carlos Russo Jr | Colunista na Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Carlos Russo Jr Carlos Russo Jr., coordenador e editor do Espaço Literário Marcel Proust, é ensaísta e escritor. Pertence à geração de 1968, quando cursou pela primeira vez a Universidade de São Paulo. Mestre em Humanidades, com Monografia sobre “Helenismo e Religiosidade Grega”, foi discípulo de Jean-Pierre Vernant.

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