Os conservadores que se preparem. A partir de 2021 a Câmara Municipal do Recife vai contar com a inédita presença de três vereadoras feministas. Apesar do aumento numérico das mulheres ter sido pequeno, de seis mulheres eleitas em 2012 e 2016 para sete agora em 2020, as três feministas eleitas querem e podem fazer a diferença. Cada uma é de um partido diferente, todas de esquerda: Cida Pedrosa (PCdoB), Dani Portela (Psol) e Liana Cirne Lins (PT).
Por conta das comemorações, reuniões e entrevistas após a vitória de ontem, as três ainda não tiveram tempo para conversar. Mas em entrevistas para o projeto Adalgisas, da Marco Zero Conteúdo, as três falaram da vontade de se unirem em projetos de lei e fiscalizações na Câmara Municipal que tenham a ver com políticas públicas para as mulheres.
Vereadora mais votada do Recife neste ano, com mais de 14 mil votos, Dani Portela fala sobre um “parlamento feminista”. “Não tive tempo ainda de conversar direito nem com a minha mãe, mas já vislumbro algo como o que aconteceu em Brasília. As deputadas federais criaram o parlamento feminista. Então a gente pode pensar na criação de um parlamento feminista aqui na Câmara Municipal do Recife. Estou totalmente disposta a fazer essa construção junto com Liana, junto com Cida, e com mulheres do nosso campo progressista de esquerda que trazem as pautas das mulheres centralizadas na luta”, comemora Dani.
Marco Zero
Dani Portela foi a mais votada para a Câmara Municipal do Recife
Eleita pelo PT, Liana Cirne Lins também já pensa em pautas conjuntas com as companheiras feministas na Câmara. “Pela afinidade e pelo fato de já nos conhecermos de outras disputas e termos uma relação muito boa, mesmo a gente nunca tendo conversado sobre isso formalmente, acredito que iremos desenvolver um trabalho muito alinhado na Câmara Municipal”, diz.
Liana fala em um “gabinete somado” entre as três para as pautas feministas. “Estou imaginando que a gente vai trabalhar conjuntamente, dialogando, conversando sobre como faremos, uma espécie de gabinete somado dos três mandatos. Todas as pautas feministas relativas aos direitos das mulheres serão pautas que a gente vai entrelaçar nos três gabinetes. Acredito que vai ser muito produtivo. Vamos pensar, propor e construir propostas juntas, sem protagonismos, mas sim num espírito de coesão, de companheirismo, porque na verdade a gente já vem fazendo isso nos movimentos, a gente já vem construindo juntas, nos encontramos nos espaços coletivos de construção feminista, que são muito marcados pela ética da cooperação e do somatório de forças”, diz.
Professora de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, Liana Cirne Lins vai começar o planejamento estratégico do mandato dela em dezembro. Até lá, se dedica, assim como Dani Portela, cem por cento à campanha de Marília Arraes (PT), que disputa o segundo turno com João Campos (PSB). Nesse ponto, Cida Pedrosa está no campo oposto, mas isso não é impedimento para a união das três.
“Onde eu estiver, eu sou uma feminista no poder. Não me afastarei nunca da pauta feminista, é inerente à minha luta desde pirralha”, diz Cida, que faz campanha para João Campos (PSB). “Uma das minhas pautas era a paridade de gênero nos cargos comissionados e essa foi uma bandeira que João abraçou publicamente”.
Cida lembra que essa próxima legislatura já é histórica pela presença das três feministas. Antes, apenas duas mulheres feministas haviam sido vereadoras. Júlia Santiago em 1943 e Edna Costa, em 1980. “Tiveram muitas mulheres lá, mas feministas, só essas duas. É muito fácil se colocar contra a violência contra a mulher. Quem seria a favor disso? Mas quando você mete a ferida no patriarcado, quando você discute cargo e poder, quando você fala da sexualidade…aí é onde o bicho pega. Não conversamos nós três ainda, mas é natural que a gente se junte, né?”.
Apesar de campo oposto das outras duas, Cida vai se aliar nas pautas feministas
Ainda que afirme que, em outras pautas que vão além do feminismo, possa existir divergências entre elas, Cida diz que “tudo que colocarem na pauta sobre direito das mulheres irei apoiar e defender”. E fará isso até depois que a igualdade de gênero seja (um dia?) conquistada. “Aí terá que haver vigilância. Nossa luta contra o racismo estrutural, o machismo e o capitalismo é eterna. O conservadorismo é algo que sempre nos ronda”, comenta.
Se Dani fala em parlamento feminista e Liana em gabinetes somados, Cida adiciona uma “frente ampla para o feminismo” a essa inédita e tão necessária coalizão feminista na Câmara Municipal do Recife. São as três vereadoras lá dentro e uma multidão aqui fora. “Qualquer atuação feminista tem que ser coletiva. É o que nos fortalece”, diz Cida.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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