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ToggleHonduras recebeu 9,65 bilhões de dólares em remessas, representando 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, durante 2024, segundo dados do Banco Central de Honduras (BCH), colocando a nação hondurenha como um dos que mais depende das remessas na região.
O economista Martín Barahona comenta que essa cifra é preocupante pela dependência que gera no país. Ele acrescenta que esse fluxo de dinheiro se distribui principalmente pelos departamentos com maior população de Honduras, como Cortés e Francisco Morazán. “Por essa razão, é importante qualquer mudança nas políticas migratórias dos Estados Unidos, pois isso afeta a economia de Honduras”, assinalou Barahona.
A migração é um fenômeno que se intensificou na região latino-americana nos últimos anos, especialmente nos países do triângulo norte da América Central. Segundo o diretor do Observatório de Migração Internacional em Honduras (OMIH) da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH), César Castillo, o fenômeno migratório sempre esteve presente na história de Honduras, mas se intensificou após o impacto do furacão Mitch em 1998, que elevou os níveis de pobreza e desigualdade, além de destruir grande parte da infraestrutura do país.
“Após o furacão Mitch, recordemos que surgiu o tema do status de proteção temporária (TPS). Aqueles que têm TPS são os que ingressaram após 1998, o que gerou um aumento considerável no fluxo migratório, tornando-o uma ameaça constante.” Por outro lado, Castillo assegura que, a partir de 2014, surgiu um novo fenômeno migratório envolvendo crianças não acompanhadas, uma situação impulsionada pela decadência socioeconômica do país.
Números dos retornados
Segundo os registros do OMIH e do Instituto Nacional de Migrações (INM), desde 2014 até o presente, estima-se que cerca de 500 mil hondurenhos foram retornados ao país. No entanto, não se trata apenas de pessoas retornadas dos Estados Unidos, mas também do México, que nos últimos anos tem recebido solicitações de refúgio.
“Os hondurenhos são os que mais pedem refúgio no México. Em 2024, terminamos como o país com o maior número de petições de asilo, com mais de 27 mil, destaca César Castillo.”
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Por outro lado, segundo o Fórum Social da Dívida Externa e Desenvolvimento de Honduras (FOSDEH) em seu relatório “Cultura do desterro (1980-2020)”, estima-se que mais de 300 hondurenhos abandonem o país a cada dia.
O problema estrutural da migração
A falta de oportunidades, pobreza e insegurança são os principais fatores que impulsionam o aumento do fenômeno migratório em Honduras. Segundo Castillo, o problema no país é que ele não conseguiu se desenvolver, ao contrário de outros na região. Além disso, esses fatores são os principais responsáveis por fazer com que as pessoas decidam abandonar seus lares em busca de melhores condições de vida.
Jennifer, mãe de três filhos, originária da zona norte de Honduras, decidiu em janeiro de 2011 abandonar o país e tentar a sorte nos Estados Unidos, como tantos outros centro-americanos. Após chegar aos Estados Unidos, ela detalha os tipos de trabalho que teve ao longo dos anos e o impacto que isso teve em sua vida.
“Isso mudou minha vida de muitas formas. Sentimos muita falta do nosso país, mas nunca se compara. Temos melhores oportunidades aqui, tanto de trabalho quanto de tranquilidade. Pelo menos onde sou originária, há poucos empregos disponíveis. Este país nos ensina a abrir mais a mente, a empreender outros projetos, algo que não nos ensinam lá.”
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Jennifer explica que a criminalidade pode estar presente em muitas partes do mundo, mas, no caso de Honduras, o imposto de guerra é um fator determinante. Ela explica que, para muitas pessoas que são vítimas desse imposto, o custo é maior do que os próprios ganhos.
Estado de exceção em Honduras
Segundo o informe da Associação por uma Sociedade Mais Justa (ASJ) “Extorsão sob a Lupa: A dois anos do estado de exceção de 2018 a 2024”, mais de 304 mil famílias em Honduras foram vítimas de extorsão.
De acordo com o informe “Resultados: Pesquisa semestral de remessas familiares (agosto de 2024)”, elaborado pelo Banco Central de Honduras, com base em dados do Banco Mundial, os fluxos globais de remessas alcançaram 857,3 bilhões de dólares em 2023, marcando um crescimento de 1,8%.
No entanto, o aumento em países de baixa e média renda foi mais modesto, situando-se em 656 bilhões de dólares, com um incremento interanual de apenas 0,7%. Esse comportamento reflete as diferenças significativas entre as regiões, embora as remessas continuem sendo cruciais para financiar economias em desenvolvimento e aliviar pressões nas contas correntes de muitos países.
Crescimento das remessas
Na América Latina e no Caribe (ALC), as remessas cresceram 7,7% em 2023, representando 76,5% do total mundial, principalmente graças à recuperação do mercado de trabalho nos Estados Unidos. O México continua sendo o maior receptor na região, seguido por Guatemala e República Dominicana. Em particular, Honduras experimentou um aumento notável: os fluxos para o país em 2023 foram 26 vezes superiores aos registrados no ano 2000, consolidando-se como o quinto maior receptor de remessas na região.
De acordo com o informe do Banco Central, foi constatado que 91,1% dos consultados residem nos Estados Unidos, 5,3% na Espanha, 0,6% no México, 0,5% no Canadá e 2,5% em outros países.
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O estudo revela que 25% dos entrevistados migraram em busca de uma melhor qualidade de vida, enquanto 20% o fizeram devido ao desemprego, sendo essas as principais causas identificadas. Outros fatores mencionados incluem a reunificação familiar e a insegurança, que também influenciam significativamente a decisão de emigrar.
Além disso, o perfil demográfico dos entrevistados indica que a maioria provém das zonas urbanas de Honduras, como o Distrito Central, San Pedro Sula e La Ceiba, e nos Estados Unidos residem em sua maioria – 63,3% – na Flórida, Texas, Califórnia, Nova York, Luisiana, Carolina do Norte e Geórgia.
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Quanto à atividade econômica, os entrevistados responderam que se desempenham em diferentes ofícios, sendo a construção (27,5%) e os serviços de limpeza e cuidado de pessoas (16,4%) os setores mais representativos, os quais obtêm uma renda mensal de 4.281 e 2.281 dólares, respectivamente.
Também se destacam outras atividades, como trabalhar em hotéis, restaurantes e comércio, que representam 17% dos entrevistados, além de um percentual que se dedica a outras atividades: 15,3% em jardinagem, educação e enfermagem. Essa diversidade de ocupações reflete a capacidade de adaptação dos migrantes às oportunidades disponíveis no país de residência.
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A migração hondurenha reflete um problema estrutural: a falta de oportunidades, a pobreza e a insegurança obrigam milhares de pessoas a abandonar seus lares em busca de uma vida melhor. Embora as remessas sejam vitais para a economia do país, sua dependência limita o desenvolvimento sustentável.
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