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Impacto da expansão monetária do G-4 nos países emergentes

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Shyan Saran*

Shyan Saran
Shyan Saran

A economia mundial transborda de liquidez depois das sucessivas manobras de expansão monetária adotadas nos últimos anos pelas quatro economias mais avançadas – Estados Unidos, União Europeia, Japão e Grã Bretanha – o Grupo dos Quatro (G-4).

Quando a política  do tipo juros zero não basta para estimular suas economias, os bancos centrais destes países compram ativos em grande escala, como títulos da dívida ou obrigações hipotecarias garantidas a fim de injetar liquidez no sistema bancário

O objetivo é  oferecer créditos às empresas e para a indústria para estimular o consumo.

Imediatamente depois da crise financeira e econômica mundial de 2008, diante do perigo de colapso financeiro, tanto as economias avançadas como as emergentes adotaram políticas de estímulo para reavivar a demanda, manter o intercambio comercial e combater o estancamento.

Durante a fase recessiva de 2008-2009, a expansão monetário desempenhou um papel importante no manejo da crise, ajudando igualmente tanto as economias avançadas como as emergentes

Não obstante, ainda que as economias emergentes tenham toureado  a crise e retomam o crescimento, o G-4 continua estancado, com seus mercados reprimidos e alto nível de desemprego. Esta situação os induziu a persistir com doses ainda maiores de expansão monetária com o objetivo de reanimar a circulação do crédito e incentivar a demanda.

Antes da crise, os bônus do Tesouro dos Estados Unidos somavam entre 700.000 e 800.000 milhões de dólares. Atualmente acendem a mais de dois trilhões de dólares.

Através da terceira rodada de expansão monetária, iniciada em setembro de 2012, a Reserva Federal dos EUA se comprometeu a adquirir 40 bilhões de dólares mensais de obrigações hipotecarias garantidas, enquanto o desemprego se mantenha acima de 6,5 por cento.

O Banco Central Europeu, por sua vez, injetou 637 bilhões de dólares para dar liquidez à eurozona, e calcula-se que a  expansão monetária produzida pela Grã Bretanha foi de 572 bilhões de dólares.

Recentemente o Banco do Japão iniciou uma manobra expansiva de 1,4 trilhões de dólares ao longo de dois anos para superar a deflação depressiva atual e alcançar a meta de dois por cento de inflação.

Nestes anos, o balanço dos bancos centrais do G-4 aumentou, de 11 a 12 por cento do Produto Interno Bruto desses países, para o atual nível sem precedentes de 23 por cento. Em valores monetários passou de 3,5 trilhões de dólares em 2007 para os nove bilhões de dólares do presente.

Apesar de que a taxa de juros esteja no nível zero do G-4, suas economias permanecem estancadas, é inevitável que ingentes capitais fluam do grupo para economias emergentes ou em desenvolvimento, em busca de remuneração mais alta para o capital. Estima-se que 40 por cento do aumento da base monetária dos Estados Unidos na primeira fase de expansão monetária seguiu esse caminho, enquanto na segunda fase, o fluxo estimado está em torno de um terço.

Esses ingentes deslocamentos de capitais têm um impacto importante sobre as economias emergentes e em desenvolvimento. As corporações que têm acesso a créditos a baixo custo estão contraindo enormes endividamento e aumentando sua exposição em moedas estrangeiras. Dessa maneira, tornam-se cada vez mais vulneráveis ante futuros incrementos dos tipos de juros e das paridades cambiais nos países desenvolvidos.

Por sua vez, o forte ingresso de capitais especulativos nos países emergentes revaloriza suas divisas, expande o crédito e causa pressões inflacionarias.

Esses capitais são em grande medida propensos a movimentos repentinos em busca de maiores rendimentos e, sua volatilidade implica um alto risco para as economias receptoras.

A política monetária não convencional do G-4 tem sio criticada pelas nações emergentes, inclusive o grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

A magnitude da expansão monetária do G-4 tem tido consequências sobre a economia global, já que suas moedas – que não são totalmente conversíveis – constituem os pilares do sistema financeiro mundial.

O dólar estadunidense é a principal moeda de reserva mundial e, junto com o euro, a libra britânica e o iene  japonês , integra a cesta de divisas que o Fundo Monetário Internacional utiliza para cotizar sua própria “moeda sintética”, os Direitos Especiais de Giro.

Isto explica o papel determinante das moedas do G-4 no mercando financeiro mundial e o impacto das expansões monetárias sobre as economias de nosso mundo globalizado e interconectado.

É necessário, portanto, que o G-4 atue com grande responsabilidade e trabalhe em conjunto com as economias emergentes para minimizar os efeitos adversos de suas políticas de expansão.

Seria particularmente importante forjar um consenso sobre a prevenção da potencial crise financeira e as alterações que podem acarretar às economias em desenvolvimento uma vez que cessem as expansões monetárias e aumentem os tipos de juros no G-4.

A retirada repentina de fluxos em massa de capitais é um cenário previsível que é necessário antecipar e controlar.

A crise financeira asiática de 1997-1998 foi disparada, em parte, por uma precedente versão da expansão monetária acometida pelo Japão depois da explosão da bolha imobiliária e das bolsas no início dos anos 1990. Também a então enorme injeção de empréstimos a baixo juros provocou uma bolha financeira, pressões inflacionarias e instabilidade monetária nas economias asiáticas.

Uma crise maior e mais profunda pode afetar às economias emergentes e em desenvolvimento se não adotem políticas coordenadas diante dos já evidentes sintomas de risco.

O Grupo dos 20 deve considerar esta problemática como uma prioridade de sua agenda.

*Shyam Saran, ex ministro de Relações Exteriores da Índia, atual presidente do Research and Information Systems for Developing Coutries (RIS) e membro do Centre for Policy Research em Nova Délhi – IPS para Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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