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Toggle- Atualizado em 27/02/2025 às 12h55.
O fogo não dá trégua às florestas de Río Negro, Neuquén e Chubut, na Patagônia Argentina: consumiu pelo menos 24.494 hectares. Hoje, há cinco grandes focos:
- Parque Nacional Lanín, em Neuquén: 4 mil hectares queimados;
- Parque Nacional Nahuel Huapi, em Rio Negro: quase 11 mil;
- Mallín Ahogado, El Bolsón, em Río Negro: quase 3 mil;
- Epuyén, em Chubut: cerca de 3.500;
- e Atilio Viglione, em Chubut — 3.200.
O vento forte impede que os brigadistas entrem nos focos de incêndio e trabalhem de dentro. Assim, o fogo avança sobre áreas de mais difícil acesso.
Macarena Mendoza não dorme há cinco dias, como todos em seu bairro. É vizinha de El Bolsón e professora de música em escolas da região. Enquanto conversa por telefone com o Página/12, da calçada de sua casa, vê uma fumaça branca e densa que se aproxima das florestas. “Não aguentamos mais. Há crianças e adolescentes em choque, mães que não dormem, aviões voando sobre nós, fumaça e cinzas, rostos cobertos de fuligem, vizinhos organizados preparando refeições, um monte de pessoas dando tudo de si: salvando suas casas, preparando espaços para as crianças, fazendo coletas para comprar motobombas e mangueiras”, relata e acelera enquanto avança na lista.
O incêndio começou na quinta-feira em uma trilha próxima ao Cajón del Azul: “Nessa zona não há rede elétrica, não houve tempestades, por isso entende-se que o incêndio foi causado por ação humana, seja por negligência ou intencionalmente. Isso a Justiça determinará”, conta.
Para ela, o contexto é complexo para formular uma hipótese: não descarta que seja intencional, pois há grandes interesses em jogo (imobiliários, por exemplo), tampouco um descuido, um cigarro mal apagado, uma garrafa descartada no lugar errado ou um fogo onde não se deve. Só em El Bolsón já se perderam 100 casas, e em Mallín Ahogado houve uma vítima fatal. Mas o incêndio está longe de cessar.
Sufocar o fogo
Macarena destaca o cuidado entre vizinhos e o trabalho comunitário. Também, entre a angústia e a raiva, pergunta-se: “Que tipo de conto macabro é este em que uma família que perdeu tudo no incêndio da semana passada sente culpa por não poder ajudar outra que está na mesma situação hoje?”.
O chefe do Serviço de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais de Bariloche, Orlando Báez, confirmou o que os especialistas ambientalistas vinham alertando: faltam recursos e, para atender a um incêndio, descuida-se de outro. “Isso não pode continuar acontecendo porque, como diz o ditado, ‘estamos despindo um santo para vestir outro’, e a realidade é que se precisa de uma maior quantidade de elementos, tanto em pessoal quanto em meios aéreos, para poder atender ao que está, lamentavelmente, acontecendo na Patagônia. Tomamos conhecimento de incêndios no Parque Lanín, em Neuquén, e em Chubut. É alarmante e preocupante”.
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“Embora os brigadistas já estivessem em uma situação trabalhista precária e os recursos fossem escassos, o corte piorou”, apontou Mendoza. Com a decisão do Governo Milei de aplicar o orçamento de 2023 no ano passado, o capital disponível para lidar com os incêndios foi ainda menor, e a prevenção ficou a cargo das províncias.
Diferentes pessoas alertaram que o dano às florestas não impacta apenas a flora e a fauna, mas também as economias locais. Os governadores patagônicos — incluindo de Tierra del Fuego, Santa Cruz e La Pampa — assinaram um acordo de trabalho conjunto, pois as três províncias estão sendo duramente afetadas, o que obriga a “dar uma resposta regional, unificada e coordenada”. Embora tenham prometido fortalecer as tarefas de prevenção e controle de incêndios, o comunicado não trouxe nenhuma medida específica clara.
Incêndios intencionais e inimigos internos
Os governos das províncias de Chubut e Río Negro se anteciparam aos resultados das perícias para afirmar que os incêndios foram intencionais e alimentaram um inimigo interno. O governo de Chubut não hesitou em acusar uma comunidade mapuche, que havia sido recentemente despejada.

Macarena Mendoza confia em seus vizinhos: “Na região de El Bolsón e em toda a Comarca Andina, há muitas comunidades mapuches. Convivemos todos os dias, somos companheiros e nos cruzamos no trabalho, no supermercado… Nós não acreditamos que alguém da comunidade tenha sido capaz de atentar contra a floresta. Seria como atentar contra si mesmos. Não faz sentido. Nós, que vivemos aqui, nos conhecemos todos, convivemos todos os dias, o ano todo — inclusive no inverno, com a neve — e sabemos que ninguém da comunidade mapuche seria capaz de fazer algo assim”.
Na madrugada de segunda-feira, os Bombeiros Voluntários de Puerto Madryn declararam como controlado um incêndio em uma zona rural que consumiu 30 mil hectares de pastagem e mata baixa. Nos próximos dois dias, será mantida a vigilância sobre as cinzas.
Informe: Natalia Rótolo.
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