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ToggleA Revolução cubana continua sendo um farol para os povos que lutam por sua emancipação, pois só com a plena independência e o fim do colonialismo e das novas formas de dominação será alcançado o verdadeiro equilíbrio do mundo. Estas foram algumas das conclusões que tiveram o consenso dos mais de 600 delegados de 65 nações que participaram, de 28 a 31 de janeiro no Palácio de Convenções de Havana, da IV Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo.
O evento foi uma respeitosa reverência ao pensamento do Herói Nacional de Cuba, José Martí, que desde o século XIX advertiu sobre o perigo que representava Estados Unidos para toda a América, um tema amplamente debatido na reunião que recordou o 166º aniversário de nascimento do apóstolo da independência. Foi também uma homenagem às ideias do líder histórico da Revolução, Fidel Castro, um continuador do pensamento do Mestre, como também é conhecido Martí.
A IV Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo é um fórum multidisciplinar e plural para promover o intercâmbio de ideias entre intelectuais sobre a atual situação internacional.
Agência Cubana de Notícias
A IV Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo é um fórum multidisciplinar e plural para promover o intercâmbio de ideias
A revolução não é um acontecimento do passado: é um desafio
Perguntado sobre o legado de Martí e Fidel Castro, o teólogo brasileiro Frei Betto declarou a Prensa Latina que “Martí era um gênio, e os gênios têm essa capacidade de captar as coisas no ar”. Destacou que não importa que Martí não tivesse conhecimento de métodos científicos, nem que Fidel tampouco tivesse um guia marxista tradicional na Sierra Maestra, o importante para eles era estar ao lado dos sonhos do povo. “O vital é estar identificado com os sonhos dos cubanos; quem faz isso, sabe estabelecer estratégias de futuro e de luta, desenhar utopias e esses dois gênios cubanos souberam fazer com muita propriedade”.
De acordo com o reconhecido expoente da Teologia da Libertação, a revolução não é uma doutrina de um partido, é o esforço de um povo por sua independência, soberania e emancipação, e isso ocorre um Cuba, felizmente. Há que sublinhar esse elemento e, para manter viva a memória de Martí e de Fidel Castro, há que levar em conta que a revolução não é um acontecimento do passado: é um desafio.
Salientou que cada nova geração de cubanos deve pensar que não se trata de um fato em pretérito, mas de um compromisso com o futuro, e essa é a única maneira de comemorar 120, 180 anos e tantos mais do processo que triunfou em 1º de janeiro de 1959.
Betto disse que a esquerda da América Latina precisa fazer uma análise crítica sobre seu proceder nos últimos tempos e começar a realizar um trabalho dirigido à organização das massas populares. Sublinhou que a esquerda tem que ser autocrítica, sentar-se a pensar em que equívocos foram cometidos para permitir que a direita voltasse com tanta força em nossos países. “Não basta dizer que são coisas do imperialismo e isso todos já sabemos que jamais vai descansar e muito menos facilitar nossas tarefas”.
“Cometemos alguns erros, como por exemplo a corrupção, não fazer trabalho de alfabetização política com o povo e não organizar as bases populares”, lamentou o escritor brasileiro. “Muitos de nós nos equivocamos pensando que estar no Governo era estar no poder, e estar no poder é uma coisa e quem tem o poder é outra”. “Não soubemos fortalecer o poder popular e é a única coisa que permite que um Governo progressista tenha o verdadeiro poder”.
Assinalou que é vital fazer um trabalho para conscientizar e organizar as massas, como se fez em Cuba com os Comitê de Defesa da Revolução, a Federação de Mulheres Cubanas e os movimentos sindicais. Todos esses fatores se mobilizaram desde o início da Revolução quando a nação foi fortemente agredida. Enfatizou que é a única maneira e que Cuba tem lições para dar.
“A paz está muito ameaçada, como comprova a Venezuela”
Por sua parte, Edwin González, membro da Missão de Porto Rico em Cuba, denunciou no contexto do fórum internacional que Estados Unidos está realizando hoje um novo processo de colonização na América Latina, e isso é um mal que os povos devem lutar para erradicar.
Salientou que com toda essa influência do império – referindo-se a Estados Unidos- na América Latina vemos notáveis traços do colonialismo em repúblicas que há muitos anos se libertaram desse terrível flagelo. Em diálogo com Prensa Latina agregou que há governos e nações que parecem esquecer que conquistaram sua independência graças à espada do libertador Simón Bolívar, e agora abrem fogo contra a irmã Venezuela, e isso é uma grande pena.
Disse que tal exemplo é muito claro para ilustrar a influência colonial e esse problema é preciso erradicá-lo de uma vez por todas. Recordou que o tema colonial é importantíssimo e continua vigente em todos os debates das forças de esquerda e progressistas.
Lembrou que José Martí, a quem se dedica esse evento, teve um pensamento anticolonialista, e a prova disso foi a criação do Partido Revolucionário Cubano (PRC). “O PRC não foi constituído apenas para lutar pela independência de Cuba, mas para auxiliar e fomentar a de Porto Rico, e essa ideia nobre do Mestre teve a continuidade na figura do Comandante em Chefe, Fidel Castro”.
“Nós reiteramos nossa denúncia contra o colonialismo e não estamos pedindo nada estranho, só queremos o que nos pertence por direito como povo, nação latino-americana e caribenha, pelo qual continuamos na batalha, assegurou o independentista”. Além disso, fez um apelo para defender o Governo e o povo da Venezuela, alvo de uma guerra econômica e política orquestrada desde Washington e seguida por países servis da região. “Hoje a paz está muito ameaçada e vemos isso no caso da Venezuela; portanto, é um ponto para defender na nossa agenda”.
Cuba continua sendo um exemplo que inspira os povos a lutar
O presidente da Federação Mundial de Juventudes Democráticas, Lacovos Tofari, disse que Cuba continua sendo um exemplo que inspira os povos a lutar contra as correntes do imperialismo e do colonialismo. Assinalou que o processo social cubano proporciona os argumentos para convencer os povos de que um mundo melhor é possível.
Jovens de diferentes latitudes destacaram que a unidade é um fator chave, pois a dispersão sempre conspira contra as boas intenções das forças políticas da esquerda, e assim não se pode lutar pelo equilíbrio do mundo.
*Prensa Latina de Havana, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados
Tradução: Beatriz Cannabrava