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Interferência: EUA têm sob controle os dois principais candidatos à presidência do Paraguai

Intromissão aberta e descarada é ocultada pelos meios de comunicação paraguaios
Sergio Rodríguez Gelfenstein
Resumen LatinoAmericano
Assunção

Tradução:

Na situação atual, quando se entrou na etapa final da corrida eleitoral, os dois candidatos com chances de ganhar as eleições, Santiago Peña, da Associação Nacional Republicana (Partido Colorado) e Efraín Alegre, do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) reuniram-se separadamente com o embaixador dos Estados Unidos, Marc, e publicaram ostensivamente as fotos do encontro. Ambos são candidatos do sistema e fortes aliados dos Estados Unidos, de maneira que esta atitude não é vista como ingerência.

Há umas poucas semanas, tudo indicava que o candidato colorado Peña seria o vencedor das eleições, a menos que acontecesse de surpresa algum fato imprevisível. Tal evento ocorreu em 26 de janeiro passado, quando os Estados Unidos impuseram sanções econômicas ao vice-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez, e ao ex-presidente Horacio Cartes por “corrupção”, depois de ter proibido há meses sua entrada no país.

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Tal como ocorreu em Honduras com o ex-presidente Juan Orlando Hernández, Washington manteve suas candidaturas, as apoiou contornando as acusações de organizações internacionais independentes e de parte importante da opinião pública de seus próprios países, para depois arremeter contra eles quando já não lhes servem para sua arremetida conservadora e contrária aos interesses dos povos.

Vale dizer que existindo condições objetivas e subjetivas para produzir uma mudança similar ao que vem ocorrendo em boa parte da América Latina, a divisão da esquerda não lhe permite ser um ator eleitoral importante.

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Em meio à dinâmica eleitoral, o candidato do PLRA fez algumas concessões para atrair um setor da esquerda que faz parte da Frente Guasú. Entre as declarações eleitoreiras de Alegre, ressalta o anúncio de que caso vença as eleições, estabelecerá relações com a China, o que não passa de uma manobra eleitoreira, segundo a opinião da maioria dos analistas paraguaios.

Nesse quadro, a decisão dos Estados Unidos de colocar Cartes na lista de políticos corruptos do departamento de Estado não passa de uma nova manobra ingerencista. Por isso, qualquer empresa ou cidadão que faça negócios com Cartes será sujeito a sanções por parte de Washington. Em uma manobra desesperada, Cartes cedeu a seus filhos as ações de suas empresas, com o objetivo de evitar as sanções, buscando sobreviver como empresário, uma vez que sua carreira política parece ter chegado ao fim.

Intromissão aberta e descarada é ocultada pelos meios de comunicação paraguaios

John Flannery/Flickr
Cartaz 1939 celebrando um acordo entre os EUA (bandeira de 48 estrelas) e o Paraguai (imagem ilustrativa)




Intromissão aberta

Com esta disposição, os Estados Unidos explicitam uma intromissão aberta e descarada no processo eleitoral, que foi ocultada pelos meios de comunicação paraguaios. Esta ação criou um verdadeiro problema para a candidatura de Santiago Peña que cresceu politicamente pela mão do ex-presidente e é conhecido como seu pupilo mais próximo.

Quando a decisão dos Estados Unidos já não pôde ser ocultada, e os meios de comunicação – como movidos por uma varinha mágica – iniciaram um frontal e homogêneo ataque contra Peña, este se reuniu com o embaixador dos Estados Unidos depois de fazer uma declaração à imprensa afirmando que, caso ganhe as eleições, a prioridade de sua política exterior será fortalecer as relações do Paraguai com os Estados Unidos, Israel e Taiwan.

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Desta maneira, enviava uma mensagem direta à classe empresarial, sobretudo se considera-se que alguns setores dela, sobretudo os vinculados à produção de carne e soja – priorizando seus grandes interesses corporativos – de forma cada vez mais evidente opinam favoravelmente acerca da necessidade de estabelecer relações com a China.

A declaração da embaixada dos Estados Unidos, de 26 de janeiro passado, foi particularmente dura ao afirmar que “antes, durante e depois de seu mandato presidencial”, Cartes incorreu em um “padrão coordenado de corrupção” que inclui subornos a funcionários e legisladores.

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O próprio embaixador estadunidense Marc Ostfield assegurou que, durante mais de uma década, Cartes aproveitou sua riqueza adquirida ilegitimamente e sua influência “para expandir seu poder político e econômico nas instituições paraguaias”.

Por esta razão a Oficina de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) dos Estados Unidos resolveu sancionar Cartes por sua “implicação em uma corrupção sistemática que solapou as instituições democráticas no Paraguai”. A OFAC também congelou os ativos financeiros que pudesse ter nos Estados Unidos, além do que foram impostas sanções específicas contra quatro empresas controladas por Cartes e sua família. Com esta ação, os Estados Unidos debilitaram o Partido Colorado que agora busca distanciar-se do ex-presidente.


Vínculo incomodo

Nesse quadro, Peña, sub-repticiamente buscou desvincular-se de sua relação privilegiada com Cartes. Caso ganhe as eleições, para manter-se, vai fazer tudo o que esteja a seu alcance para favorecer as instruções da embaixada dos Estados Unidos porque esta parece ser sua melhor carta para a vitória. O que, claro, inclui seu afastamento de Cartes do qual não pode afastar-se agora porque precisa dele para ganhar as eleições dada a grande influência que o ex-presidente mantem sobre importantes setores do Partido Colorado. Não obstante, seguindo instruções da Embaixada dos Estados Unidos, evitou criticar Cartes publicamente.

Esta situação parece contraditória, porque a decisão dos Estados Unidos de envolver Cartes na corrupção poderia ter sido interpretada como favorável para o PLRA. Na realidade, como disse um analista paraguaio, o que fez a embaixada dos Estados Unidos é uma tentativa para colocar sob seu controle tanto liberais como colorados, de maneira que não haja saída à margem de qualquer destes dois partidos, sabendo que quem ganhe estará em total sintonia com os Estados Unidos.

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Segundo o site do partido Frente Ampla do Paraguai, tendente à candidatura de Alegre, a oposição começou a insistir na necessidade do “voto útil” em favor deste, a fim de derrotar Peña. Afirmam que todas as pesquisas indicam um enfrentamento entre Alegre e Peña, razão pela qual estão apelando pela criação de uma frente única em que “os demais candidatos de oposição oponham a possibilidade de alternância optando pelo melhor colocado”.

De outro lado, a partir de seu tradicional oportunismo extremo, o PLRA indica que no cenário atual, deve ocorrer uma alternância que obrigue à designação de um candidato único da oposição, como opção que ofereceria grandes possibilidades de derrotar o Partido Colorado. Não se deve esquecer que o PLRA fazia parte da coalizão de governo que levou ao poder Fernando Lugo, para depois fazer uma aliança com os colorados que propiciaram o golpe de estado de 2012 para ocupar o poder. De maneira que a traição é parte natural de sua ação política. A embaixada dos Estados Unidos sabe disso. E é a partir disso que está construindo sua mudança “gatopardiana” no país guarani.

Sergio Rodríguez Gelfenstein | Resumen Latinoamericano
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Sergio Rodríguez Gelfenstein Consultor e analista internacional venezuelano, formado em Relações Internacionais pela Universidade Central da Venezuela, Magna Cum Laude, e mestre em Relações Internacionais pela mesma universidade. Candidato a Doutor em Estudos Políticos pela Universidad de los Andes (Venezuela)

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