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Foto: Marc A. Hermann - MTA / Flickr

Investigações contra prefeito de Nova York miram amplo esquema de corrupção

Eric Adams é o primeiro prefeito de Nova York a ser acusado criminalmente na história da metrópole e afirma que investigação tem motivação política
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O prefeito da maior cidade dos Estados Unidos, cuja residência oficial foi revistada por agentes federais na primeira hora da última quarta-feira (25), foi formalmente acusado de crimes federais por corrupção, incluindo suborno.

Com isso, Eric Adams é o primeiro prefeito de Nova York a ser acusado criminalmente na história da metrópole – uma cidade com uma longa história de atos corruptos por parte de seus políticos, incluindo prefeitos. O ex-capitão da polícia, que prometeu impor mais lei e ordem, agora enfrenta cinco acusações de conspiração relacionada a suborno, fraude e recebimento de contribuições de um governo estrangeiro.

As principais acusações giram em torno de sua relação próxima com o governo da Turquia, desde que foi candidato e depois prefeito eleito. Durante esse período, segundo os promotores, ele aceitou viagens de luxo e dezenas de milhares de dólares em troca de facilitar, entre outras coisas, a construção de um edifício-sede da missão conjunta das Nações Unidas e do consulado da Turquia.

Mas essa não é a única investigação sobre seu governo: há pelo menos quatro centradas em corrupção e, embora ainda não tenham sido formalmente acusados, essas indagações já provocaram a renúncia de vários de seus principais colaboradores, entre eles Edward Caban, comissário de polícia; David Banks, secretário de Educação encarregado do maior sistema de escolas públicas do país; uma sub-prefeita, que é noiva de Banks; e a advogada oficial da prefeitura.

Vários irmãos desses altos funcionários estão sob investigação, pois tinham negócios possivelmente beneficiados por contratos do governo municipal. Além disso, vários de seus colegas em seu governo receberam ordens para comparecer diante dos promotores, e dois ex-chefes do Departamento de Bombeiros já foram acusados de atos de corrupção relacionados aos de Adams.

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“Este foi um esquema de vários anos para comprar favores com apenas um político emergente de Nova York: Eric Adams”, declarou na quinta-feira (26) o promotor federal, Damian Williams, em entrevista coletiva onde a acusação formal foi apresentada. Ele acrescentou, junto com o diretor assistente do FBI em Nova York, que Adams “violou as leis elaboradas para garantir que funcionários públicos como ele não estejam a serviço do melhor pagador, muito menos de um governo estrangeiro”.

Adams, em uma coletiva de imprensa em frente à sua residência oficial, rejeitou as acusações e ouviu um coro crescente de políticos exigindo sua renúncia ao cargo. O democrata afirmou não estar surpreso e pediu aos nova-iorquinos: “esperem para escutar nossa defesa antes de formularem um julgamento”. Ele repetiu que se manterá focado em suas tarefas de governar a cidade.

Não foi surpresa porque, desde o ano passado, já se sabia que Adams e vários de seus colegas estavam sob investigação, e os agentes federais haviam apreendido pelo menos dois telefones celulares e um dispositivo móvel do prefeito. Tampouco foi surpresa porque Adams esteve sob suspeita de corrupção não só agora, mas durante vários momentos de sua carreira política, e embora ao longo dos anos vários de seus colegas tenham sido acusados, até agora ele havia se salvado.

Ele sempre insistiu que as investigações são motivadas por interesses políticos, e às vezes usou o argumento de que são motivadas por racismo. O prefeito democrata também sugeriu que é vítima de vingança do governo de Joe Biden por suas críticas sobre a imigração, usando parte do argumento de Donald Trump sobre investigações judiciais motivadas politicamente.

Apesar da saída forçada de vários de seus principais chefes de governo, de cenas como a apreensão de telefones celulares do prefeito e de terem sido encontrados vários hotéis e outros presentes tanto de funcionários como de empresários turcos, ele aparentemente pensava que era invulnerável e que gozaria de plena impunidade, mas talvez isso tenha chegado ao fim, quando o ex-capitão da polícia terá que se apresentar ante as autoridades.

Adams não foi preso, embora tenha causado grande agitação a chegada de veículos do FBI às 6 da manhã na Mansão Gracie, a residência oficial do prefeito, onde foi realizou uma segunda busca e foram confiscados outros de seus telefones e mais objetos.

Eleições: Trump e Kamala seguem empatados

Quando faltam cinco semanas para a eleição, o republicano Donald Trump pode fazer declarações cada vez mais extremas — desde que seu opositor tem problemas mentais até que talvez a polícia deva ter licença para cometer brutalidades — e continuar empatado com a aspirante democrata, normalizando o que antes seria considerado loucura e suicídio político.

No último fim de semana, em um discurso de campanha em Erie, Pensilvânia, ele se atreveu a dizer que sua ideia para frear o crime é “permitir um dia realmente violento… uma hora de tratamento duro, e digo realmente duro… Todos ficarão sabendo e [o crime] chegará ao seu fim imediatamente”. Ou seja, liberar completamente as forças policiais, já que “a esquerda liberal” não deixa que a polícia faça o necessário porque “querem destruí-los, e querem destruir nosso país”.

Diante da reação a essas declarações, a campanha de Trump decidiu que a melhor resposta — parecida à que ele ofereceu quando comentou que desejava ser “ditador por um dia” — era que “o presidente apresentou isso como uma piada”. Além disso, seu chefe de campanha assegurou que Trump só queria transmitir suas credenciais como “o presidente da lei e da ordem” (não mencionou que ele é um criminoso condenado que ainda enfrenta múltiplas acusações por crimes federais).

EUA: eleições em meio à ditadura

Ao mesmo tempo, e como costuma fazer, usou a tática de estudante do ensino médio de zombar e insultar seus opositores, desta vez declarando que a candidata presidencial democrata, e vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, está “mentalmente incapacitada” e insinuou que ela estava louca.

No entanto, o problema para Trump é que seus ataques não estão tendo o impacto que ele desejaria nas pesquisas nacionais e nos estados-chave que determinarão o resultado final da eleição, onde os candidatos estão em empate técnico. “Nenhum dos candidatos desfruta de uma vantagem significativa”, relata o New York Times, enquanto o Washington Post informa que Harris tem uma vantagem de apenas dois pontos a nível nacional — ou seja, dentro da margem de erro. Outra pesquisa para o jornal Guardian que comparou as propostas econômicas de ambos os candidatos registrou que os eleitores preferem as oferecidas por Harris em relação às de Trump, uma mudança notável, já que durante meses as pesquisas mostravam que os eleitores achavam que Trump era o melhor para lidar com a economia.

O mais recente evento nacional para as campanhas foi nesta terça-feira (1), quando os candidatos à vice-presidência, o republicano J.D. Vance e o democrata Tim Walz, se enfrentaram em um debate — o único — transmitido de Nova York. Já que Trump rejeitou um segundo debate com Harris, este pode ser o último encontro nacional entre os concorrentes antes da eleição de 5 de novembro. Ao mesmo tempo, a menos que algo desastroso aconteça, não se espera que este debate entre os candidatos à vice-presidência tenha um grande efeito sobre a competição.

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Enquanto isso, os efeitos do eixo anti-imigrante da campanha de Trump e Vance — onde repete em quase todos os seus atos que os imigrantes são fonte de quase todos os problemas nacionais, que estão “envenenando o sangue” dos Estados Unidos e que, se vencerem, realizarão as maiores deportações em massa da história — seguem se expressando por todo o país, sobretudo em zonas rurais e pequenos povoados. Depois de semanas atacando imigrantes — inclusive os autorizados — em Springfield, Ohio, Trump ampliou seus ataques a lugares como Charleroi, Pensilvânia, ao sul de Pittsburgh, e outras cidades, apesar de os moradores — tanto democratas quanto republicanos — opinarem que os imigrantes/refugiados que chegam legalmente trazem algo positivo. Mas a retórica do ex-presidente continua gerando novas inseguranças. “Os imigrantes em Charleroi estão vivendo com medo agora”, declarou o imigrante da Libéria Amos Yougar ao New York Times. E isso faz parte do objetivo da estratégia de Trump.

“Como se tem dito há muito tempo, o predicado do fascismo é que um terço da sociedade observe enquanto outro terço é brutalizado e que o último terço boceje e permita que ocorra. Donald Trump é mentalmente instável e um fascista buscando seu momento. E um terço deste país está comprovando ser tão louco e sanguinário quanto ele”, comenta o repórter e criador das séries aclamadas The Wire e Treme, David Simon.

Eleição nos EUA: neoliberalismo, desilusão popular e o voto de vingança

Ao mesmo tempo, o enfoque de Trump na migração e, em particular, na fronteira, tem feito com que o tema seja um dos principais no debate eleitoral, mantendo os democratas na defensiva sobre o assunto. Harris se viu obrigada a visitar a fronteira na semana passada para anunciar que aplicará medidas de maior controle lá, e na segunda-feira (30) a Casa Branca anunciou que limitará ainda mais o acesso ao asilo — tudo em resposta à ofensiva de Trump e dos republicanos nesse tema.

E apesar de sua postura anti-imigrante racista, Trump continua gozando de apoio significativo entre os eleitores latinos. Embora Harris tenha vantagem sobre Trump de 54 a 40% entre latinos registrados, segundo uma pesquisa da NBC News/Telemundo, essa margem de 14 pontos é o nível mais baixo para os democratas nas últimas quatro eleições presidenciais. E Trump está ganhando mais apoio entre esse setor do que há quatro anos.

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Onde os democratas, com Harris à frente, estão vencendo é na arrecadação de fundos para financiar a eleição. O Partido Democrata, apenas em contribuições diretas, arrecadou 200 milhões de dólares a mais que os republicanos. Trump, como sempre fez, está arrecadando fundos para si mesmo, oferecendo desde bíblias “endossadas por Trump” (a 60 dólares), moedas comemorativas (100 dólares) e agora relógios de ouro incrustados com diamantes (por “apenas” 100 mil dólares cada). “Se esse homem conseguir voltar à Casa Branca, ele pegará todos os candelabros, colocará no jardim e os venderá em uma venda de garagem”, afirmou a jornalista conservadora Nellie Bowles no Free Press.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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