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Gideon Sa’ar, ministro das Relações Exteriores de Israel (Foto: Reprodução / X)

Israel usa noção de antissemitismo para encobrir genocídio palestino e negar Nakba

Ministro das Relações Exteriores de Israel associa morte de dois israelenses a antissemitismo e equipara episódio à tragédia de sete milhões de palestinos alvo do terrorismo de Estado sionista

Casa da Memória de Jerusalém
Diálogos do Sul Global
Jerusalém

Tradução:

Todos os dias perdemos dezenas de cidadãos palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. A maioria das vítimas são crianças, idosos e mulheres. Alguns não podem sequer ser retirados dos escombros de casas e instituições de saúde que continuam sendo alvo de bombardeios israelenses em Gaza. Na Cisjordânia, o exército de ocupação israelense prossegue com a limpeza étnica nos campos de refugiados palestinos, demolindo suas casas e forçando-os ao deslocamento para áreas desprovidas de abrigo.

Em Jerusalém, o governo da entidade ocupante israelense segue atacando os locais sagrados islâmicos e cristãos, proibindo a liberdade de culto e judaizando a cidade sem qualquer freio.

Nesta quinta-feira (22), o ministro das Relações Exteriores da entidade ocupante, Gideon Sa’ar, ao comentar a morte de dois funcionários diante de um museu israelense em Washington, anunciou a realização de uma conferência denominada “Combate ao Antissemitismo”. 

Sa’ar busca, com essa conferência, encobrir a guerra de extermínio em curso na Palestina ocupada e ignorar o fato de que o exército de ocupação israelense abriu fogo contra cerca de 30 diplomatas estrangeiros que estavam em visita para observar a situação dos refugiados palestinos no campo de Jenin — um ataque que provocou indignação e protesto dos países representados pelos embaixadores presentes à visita.

O ministro Sa’ar não apenas enganou os jornalistas na coletiva de imprensa, como também tentou transferir a responsabilidade por cerca de 200 mil palestinos entre mártires, feridos, desaparecidos e prisioneiros. Ele ainda desestabilizou intencionalmente o equilíbrio propagandístico, já caótico, ao equiparar a morte de dois israelenses à tragédia de sete milhões de palestinos que sofrem com o terrorismo de Estado e dos colonos extremistas — entre os quais há cerca de dois milhões e meio de pessoas deslocadas, sem teto, sob ameaça constante de bombardeios com aviões e mísseis.

Durante sua apresentação à imprensa, Sa’ar tentou ainda mesclar a história judaica ao convidar sobreviventes do Holocausto da Segunda Guerra Mundial para o evento, numa tentativa de confundir deliberadamente a atual guerra de extermínio conduzida por Israel na Cisjordânia e na Faixa de Gaza com os crimes do regime nazista, ignorando de forma cínica e contraditória as consequências históricas da Nakba palestina.

Caminhões da vergonha: Israel zomba do mundo e massacra Gaza

Sa’ar não compreende que os palestinos jamais aceitaram trocar as suas vítimas, em sua própria terra — a Palestina —, pelas vítimas do nazismo na Europa, mesmo conhecendo profundamente as diferenças de motivação e contexto entre a Nakba e o Holocausto, o que desmonta por completo qualquer tentativa de associação entre ambos.

Enquanto se alongava em sua apresentação enganosa, Sa’ar demonstrava entusiasmo ao acusar a “propaganda palestina”, que não dispõe da gigantesca máquina de mentiras do sionismo, nem de seu braço terrorista — o exército e os colonos —, verdadeiras milícias armadas com apoio da entidade israelense que, por décadas, tem vitimado milhões de palestinos em sua própria pátria.

O mais apropriado ao ministro da “diplomacia” israelense teria sido confrontar a verdade expressa por importantes figuras políticas e militares israelenses já aposentadas, que, fartos dos crimes de guerra cometidos pelo governo Netanyahu — que custaram a vida de milhares de crianças palestinas —, vieram a público com declarações contundentes. Esperávamos do ministro Sa’ar, ao menos, o reconhecimento de que cerca de 250 jornalistas palestinos foram alvos diretos de bombardeios e disparos, além da imposição de restrições sem precedentes à imprensa palestina e internacional, impedindo-a de cobrir os acontecimentos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

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Essas falsidades e distorções devem ser somadas às razões pelas quais os governos que ainda não reconheceram o Estado da Palestina precisam, urgentemente, despertar. Isso apesar das intensas mobilizações populares que tomaram o mundo. É nosso direito defender a narrativa histórica do povo palestino desde a Nakba de 1948 e os sofrimentos que a precederam desde o início do século passado. Essa narrativa não necessita de libertação nem de forjamentos.

É também nosso direito expor as ações do governo terrorista de Israel, que culminou seu conflito com o povo palestino em uma guerra de extermínio cujas cenas se espalham por toda a Faixa de Gaza, onde as forças israelenses exterminaram os sinais da vida e a civilização de um povo inteiro — realidade semelhante à que se vive nos campos da Cisjordânia e nas aldeias que resistem de peito aberto ao terrorismo dos colonos.

Temos plena certeza de que Netanyahu transformou o rosto do Oriente Médio, mas não sob a ótica de sua visão terrorista de dominação da região — que se assemelha à do seu homólogo em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial —, mas sim sob uma nova perspectiva internacional que começa a isolar uma entidade que rejeitou todas as iniciativas de paz, tanto árabes quanto internacionais, para a resolução do conflito palestino-israelense.

Concluímos afirmando:

“Todos os que participarem da conferência em Quds intitulada ‘Combate ao Antissemitismo’ estarão cometendo uma cumplicidade tão grave quanto os crimes cometidos pelos nazistas contra suas vítimas judias na Europa. Esses indivíduos estarão, na verdade, alimentando o fogo dos verdadeiros antissemitas que se aproveitam de um conceito que já perdeu todo o seu significado real nos dicionários das línguas humanas. Não sejam sionistas. Sejam judeus que respeitam os direitos dos legítimos donos da terra, como fizeram os judeus que rejeitaram o sionismo e denunciaram a narrativa enganosa de Netanyahu.”

Palestina, 22 de maio de 2025

Edição de Texto: Alexandre Rocha


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Casa da Memória de Jerusalém

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