Matteo Salvini, o líder do partido de extrema-direita Liga e atual ministro do Interior italiano tinha anunciado o fim da coligação de governo com o Movimento 5 Estrelas com a apresentação de uma moção de censura ao governo do qual faz parte.
Com as pesquisas apontando para a possibilidade de atingir a maioria absoluta apenas com o apoio de outro partido da extrema-direita (Irmãos de Itália) ou com a Força Itália de Berlusconi, Salvini deu o golpe final no atual governo ao fim de 14 meses de mandato.
Nesta terça-feira (20), o parlamento italiano foi obrigado a interromper as férias para discutir a crise política e a moção de censura. E foi no discurso de abertura do debate que o primeiro-ministro Giuseppe Conte — que não pertence a nenhum dos partidos da coligação — antecipou-se anunciando a sua demissão.
Conte não poupou críticas a Salvini, a quem acusou de “seguir os seus próprios interesses e os do seu partido” com uma iniciativa que “coloca o país sob sérios riscos”, atirando a Itália a “uma espiral de incerteza política e instabilidade financeira”.
“Não precisamos de homens com plenos poderes, mas sim com uma cultura institucional e sentido de responsabilidade”, afirmou Conte, referindo-se aos discursos em que Salvini reclamou eleições antecipadas e “um governo com plenos poderes”, avivando memórias dos discursos de Mussolini.
Reafirmando acusações de deslealdade, críticas ao hábito do líder da Liga de agitar a cruz nos seus comícios e até insinuações às ligações de Salvini com a Rússia que colocam dificuldades ao seu governo, Conte colocou o destino do seu governo nas mãos do presidente Sergio Mattarella.
Foto: União Européia
Conte não poupou críticas a Salvini, a quem acusou de “seguir os seus próprios interesses e os do seu partido”
Nesta quarta-feira (21), o chefe de Estado italiano deverá iniciar uma série de contatos com os líderes partidários para encontrar uma saída para a crise.
Tal saída pode passar pela manutenção de Conte à frente de um executivo de transição que prepare o Orçamento para 2020, enquanto decorram negociações que aproximem o Movimento 5 Estrelas do Partido Democrático, liderado por Nicola Zingaretti.
A ideia foi lançada pelo antigo primeiro-ministro e atual senador Matteo Renzi, que foi o principal alvo do 5 Estrelas quando esteve à frente do governo. Para acalmar os militantes daquele partido, Renzi acrescentou que não faria parte desse governo.
Caso aconteça esta “reconciliação” entre os dois partidos que passaram a última campanha eleitoral trocando ataques, Matteo Salvini seria frustrado no seu plano de assumir o governo italiano através de eleições antecipadas.
Caso não restem outras alternativas ao presidente após as negociações das próximas semanas a não ser convocar eleições, esta será a primeira vez desde a II Guerra Mundial que a Itália realizará eleições no outono, uma estação política desde então reservada à preparação do Orçamento do Estado do ano seguinte.
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