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Eterno, Jorge Masetti segue defendendo a verdade sobre Cuba e a América Latina (Foto: Prensa Latina)

Jornalista e combatente, Jorge Masetti fez da verdade uma arma contra o imperialismo

Primeiro diretor da Prensa Latina, Jorge Masetti dedicou a vida a falar ao mundo sobre a jovem e ameaçada Revolução Cubana e derrotar a desinformação promovida pelos Estados Unidos

Jorge Luna
Prensa Latina
Havana

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Jorge Ricardo Masetti, primeiro diretor da Agência Informativa Latino-americana Prensa Latina, transitou de ágil e jovem jornalista de vários gêneros a experiente correspondente de guerra e, depois, a combatente revolucionário, defendendo sempre a verdade.

Em um 21 de abril, há 61 anos, desapareceu como guerrilheiro na selva de Salta, Argentina, seu país de origem, aos 34 anos de idade, mas sua curta vida foi intensa como lutador, buscando especialmente que o mundo conhecesse a verdade da jovem e ameaçada Revolução Cubana.

Com experiência em vários meios argentinos, conheceu — em Buenos Aires, onde nasceu em 31 de maio de 1929 — um grupo de exilados cubanos e, em 1958, esteve entre os primeiros jornalistas a entrevistar clandestinamente os líderes rebeldes na Serra Maestra, para esclarecer os objetivos da luta contra a ditadura de Fulgencio Batista, que contava com o apoio dos Estados Unidos.

Fruto desse trabalho jornalístico, que compartilhou com seu fuzil de combatente, publicou seu livro “Os que lutam e os que choram”, que reúne crônicas testemunhais do processo de libertação cubano.

Em um histórico discurso que a Prensa Latina guarda como um tesouro em seus arquivos patrimoniais, em outubro de 1960 (pouco mais de um ano e meio depois de fundar a agência de notícias), recordou: “Como correspondente de guerra, vínhamos lutar nas montanhas de Cuba, embora com muito arrojo dos combatentes, quase sem armas, e víamos, em contrapartida, os camponeses cubanos sendo massacrados por metralhadoras americanas.”

“Víamos cair, nas cidades, os estudantes cubanos, também sob metralhadoras americanas. Nós, correspondentes de guerra na linha de frente da luta, preparávamos nossas reportagens para mostrar ao leitor um povo que queria se libertar, metralhado por bombas e disparos da maior potência imperialista da Terra”, acrescentou.

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Convidado a Cuba pelo comandante Ernesto Che Guevara imediatamente após o triunfo de 1º de janeiro de 1959, participou da complexa organização da “Operação Verdade”, que reuniu, durante dois dias em Havana, cerca de 400 jornalistas estrangeiros para que conhecessem a realidade do país diante das campanhas de difamação de Washington e de seus principais meios de imprensa.

“Durante a guerra, combateram o povo de Cuba com metralhadoras e bombas; quando a guerra terminou, passaram a combater — e ainda combatem — a Revolução Cubana com notícias falsas”, prosseguiu Masetti, ao sublinhar a necessidade de criar uma agência própria capaz de romper o monopólio estadunidense sobre a opinião pública.

Assim surgiu, em 16 de junho de 1959, a Prensa Latina, cuja direção assumiu aos 30 anos de idade. “Já antes mesmo de criarmos nossa agência, começaram as calúnias, vindas diretamente do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Fomos atacados de todas as formas”, afirmou.

Mas Masetti nunca foi capturado. Tampouco seus restos foram encontrados. Conseguiu adentrar-se na selva, onde permanece desaparecido até hoje (Foto: Prensa Latina)

“Sendo uma pequena agência, e sendo mínimo o que podíamos fazer — chegar aos povos da América Latina onde os grandes jornais estão controlados por monopólios, assim como as grandes rádios e empresas de televisão —, nossa tarefa era pequena, mas o que foi feito contra nós foi enorme, devido a todo o poderio da propaganda norte-americana”, denunciou após 18 meses de atividade.

“Mas não era apenas porque éramos uma pequena agência de notícias, era porque éramos uma agência revolucionária. Assim como fizemos a revolução em nosso povo, nós, jornalistas revolucionários da América Latina, queríamos revolucionar o ambiente jornalístico latino-americano de forma muito simples, muito clara: nada mais do que com a verdade”, insistiu Masetti.

No 2º Encontro Internacional de Jornalistas, realizado em Baden, Áustria, em outubro de 1960, afirmou: “O jornalista deve ser objetivo, (mas) não imparcial, não tem o direito de ser imparcial, porque ninguém decente pode ser imparcial entre o bem e o mal, entre a guerra e a paz.”

Masetti apresentou aos jornalistas internacionais dezenas de provas da pressão exercida por Washington sobre diretores de jornais para que não contratassem os serviços noticiosos da Prensa Latina.

Em pouco mais de um ano à frente da agência – que logo completará 66 anos de atividade ininterrupta –, Masetti teve que viajar com frequência, procurando equipamentos, convênios de intercâmbio e pessoal. Nesse período, a agência conseguiu abrir 16 correspondências na América Latina e em outros pontos do mundo, as quais foram imediatamente hostilizadas, muitas vezes mediante o uso da violência. Segundo um de seus passaportes argentinos, recuperado recentemente, em 1959 viajou de Havana ao México (duas vezes), Argentina, República Árabe Unida (Egito), Itália, Venezuela, Colômbia e Panamá, assim como a Nova York e Miami, nos Estados Unidos.

Em 1960, viajou à Argentina e fez seis breves visitas aos Estados Unidos (Nova York, Miami e Nova Orleans), todas com o objetivo de consolidar o funcionamento técnico e comunicacional da Prensa Latina.

“Tivemos inconvenientes praticamente com quase todos os governos da América Latina”, disse, e enumerou as detenções e expulsões de correspondentes, assim como os fechamentos das correspondências em várias capitais, além das manobras da Sociedade Interamericana de Imprensa contra a jovem agência.

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Masetti, além disso, alertou os jornalistas internacionais que não se tratava apenas de fechar a Prensa Latina, mas de invadir e esmagar a Revolução Cubana: “Uma das coisas que mais me preocupa é que o mundo não fique sabendo que Cuba vai ser invadida, que Cuba vai ser agredida. Vão inventar qualquer mentira, vão recorrer a qualquer subterfúgio para que a agressão que vão realizar contra Cuba passe despercebida.”

Referia-se, assim, aos preparativos da iminente invasão mercenária por Playa Girón, derrotada em poucas horas pelo povo cubano e que Masetti cobriu como correspondente de guerra da Prensa Latina.

Após a vitória cubana, na qual também participou como miliciano, Masetti realizou – junto com outros jornalistas – entrevistas com os criminosos de guerra capturados.

O jornalista argentino permaneceu na direção da agência até março de 1961, para então assumir um posto de maior risco dentro da Revolução. Quis aprofundar sua preparação militar para se incorporar à luta de libertação continental, liderada pelo comandante Ernesto Che Guevara.

Em outubro de 1961, aparentemente utilizando outros passaportes, viajou à Argélia para conviver durante vários meses com os combatentes da Frente de Libertação desse país do norte da África. Após sua independência, Masetti retornou ao país – em julho de 1962 – em missão oficial do governo cubano.

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No final desse mesmo ano, sob o nome de guerra Comandante Segundo, ingressou em Salta, Argentina, como parte avançada da guerrilha guevarista que já operava na vizinha região de Beni, na Bolívia. Nos primeiros meses de 1964, sua tropa foi hostilizada por forças da Gendarmaria argentina, sofrendo baixas e detenções.

Mas Masetti nunca foi capturado. Tampouco seus restos foram encontrados. Conseguiu adentrar-se na selva, onde permanece desaparecido até hoje.

Ali, o jornalista, correspondente de guerra e combatente internacionalista, segue defendendo a verdade sobre Cuba e a América Latina.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Jorge Luna

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