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O chanceler russo Sergey Lavrov (Foto: MFA Russia / X)

Lavrov: hostilidade contra Maduro exemplifica arrogância e desprezo dos EUA pelo mundo

Ainda segundo Sergey Lavrov, não reconhecimento de Maduro como presidente da Venezuela aponta "completa hipocrisia, imposição e falta de respeito" dos EUA em relação às pessoas
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O chefe da diplomacia russa, Sergey Lavrov, afirmou em 14 de janeiro que o Kremlin espera “iniciativas concretas” da nova administração dos Estados Unidos, uma vez que Donald Trump assuma a Casa Branca, e destacou que, até que Washington formule as prioridades de sua política externa, não faz sentido tentar antecipar como Moscou vai reagir em uma eventual negociação que ainda não foi acordada.

Ao oferecer sua tradicional coletiva de imprensa anual sobre a diplomacia russa em 2024, Lavrov destacou que Trump, em recentes entrevistas a meios de comunicação estadunidenses, reconheceu que a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para o leste “é uma das causas do conflito” na Ucrânia.

“E Trump disse isso. Pela primeira vez, dos lábios não apenas de um líder estadunidense, mas de um líder ocidental, houve confissões honestas de que a Otan mentiu quando assinou numerosos documentos”, enfatizou.

Ele lembrou que, na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), “havia um consenso de alto nível, incluindo os presidentes, entre eles o (então) presidente (dos Estados Unidos, Barack) Obama em 2010, que dizia: ‘Nenhum país ou organização no espaço da OSCE pretende dominar, e nenhum país fortalecerá sua segurança à custa da segurança de outros’, e a aliança nortetlântica fez exatamente o que prometeu não fazer.”

Garantias e autodeterminação

A Rússia está disposta a debater “garantias de segurança para esse país que agora se chama Ucrânia”, afirmou o ministro russo das Relações Exteriores, que sublinhou ainda que “uma parte dessa questão” — em alusão à Crimeia, Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia — “já está decidida” em matéria de autodeterminação. Mas antes, “provavelmente no contexto de entendimentos mais amplos”, será necessário “eliminar” as ameaças à segurança da Rússia em seu flanco ocidental, afirmou.

Membros da futura administração dos Estados Unidos e o próprio presidente eleito – segundo o chanceler russo – admitem que é necessário levar em conta a “realidade no terreno”, termo com o qual a Rússia se refere aos territórios libertados no país vizinho eslavo. Mas, ao mesmo tempo, Trump “não disse uma única palavra sobre a necessidade de restabelecer os direitos da população de língua russa” da Ucrânia e, além disso, “temos que estar muito atentos a como e com quais métodos ele pretende ‘tornar a América grande novamente’, seu lema de campanha”, indicou.

Guerra na Ucrânia: conflito pode chegar ao fim em 2025?

Ele comentou que o interesse despertado por uma eventual cúpula entre os presidentes Vladimir Putin e Donald Trump se deve “ao que todos entenderam há muito tempo e agora começaram a reconhecer: que o problema não está na Ucrânia, o problema é que utilizam a Ucrânia. E estão utilizando para enfraquecer a Rússia, dada sua posição no sistema de segurança europeu.”

Lavrov não quis antecipar uma possível data para um encontro entre Putin e Trump. “Estamos conscientes da enorme responsabilidade do presidente que está assumindo pela situação em seu próprio país, levando em conta o legado que recebe, em particular na Califórnia e em Los Angeles. É terrível o que ocorre com as pessoas nessas regiões”, apontou. “Os danos (dos incêndios lá) são estimados em 150 bilhões de dólares, o que é até mais do que eles (os Estados Unidos) injetaram na Ucrânia, mas os números são comparáveis”, disse.

Venezuela, Conselho de Segurança, Irã…

Questionado sobre sua opinião a respeito de os Estados Unidos não reconhecerem Nicolás Maduro como presidente da Venezuela e apoiarem Edmundo González, como antes fizeram com Juan Guaidó, Lavrov enfatizou: “Washington está tonto com a ‘grandeza’ que acredita ter, em razão de sua impunidade, e atribui a si o direito de decidir o destino de todos os povos do mundo.”

Acrescentou: “E isso não ocorre apenas na Venezuela, nem se refere unicamente a González ou Guaidó. É uma forma de arrogância e desprezo pelo resto do mundo. É difícil comentar este tema: (por parte dos Estados Unidos) há uma completa hipocrisia, imposição, uma falta de respeito pelas pessoas e uma colossal superestimação da capacidade intelectual” do Estado estadunidense.

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Lavrov também falou sobre a relação “estratégica” com a China, dizendo que é necessário reformar o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Nesse sentido, apoiou a entrada da Índia e do Brasil como membros permanentes, insistiu que o acordo de cooperação assinado entre a Rússia e o Irã “não é dirigido contra ninguém” e garantiu que Moscou não sairá do Oriente Médio após a queda do governo de Bashar al-Assad, entre outros temas.

Enquanto o chanceler oferecia sua coletiva de imprensa, o Ministério da Defesa informou que a Ucrânia lançou, na madrugada de 14/01, 12 mísseis Atacams (estadunidenses) e Storm Shadow (britânicos) contra a região russa de Briansk, ao mesmo tempo em que porta-vozes das respectivas cidades confirmaram que houve ataques com drones em Saratov, Engels, Kazan e outras localidades em território russo.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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