“A literatura foi um campo de batalha para as mulheres no século 19”, afirma a historiadora e pós-doutora Laila Thais Correa e Silva. A especialista participou do Dialogando com Paulo Cannabrava da última terça-feira (13).
Na conversa, a pesquisadora aborda a importância da produção literária feminina como ferramenta de resistência e o impacto da escrita de autoras como Josefina Álvares de Azevedo (1851-1913), Inês Sabino (1853-1911) e Maria Benedita Câmara Bormann (Délia, 1853-1895), que desafiaram o patriarcado e reivindicaram direitos políticos e sociais em um período marcado por exclusões.
Essas mulheres não apenas escreveram, mas criaram redes de apoio e veículos próprios para garantir que suas vozes fossem ouvidas, explica Correa e Silva: “Josefina fundou um jornal onde só mulheres escreviam. Era uma forma de garantir um espaço de expressão sem a interferência masculina”, observa. Publicações como “A Família”, inclusive, circulavam por todo o Brasil e até em Paris, articulando ideias feministas muito antes do sufrágio feminino ser reconhecido.
Era produção de literatura aliada a manifestos políticos, ressalta a pesquisadora: “Josefina escreveu uma peça teatral em meio às discussões da Constituinte Republicana, reivindicando o direito ao voto feminino. Foi um dos primeiros documentos literários a tratar diretamente da questão”. A peça foi encenada no Rio de Janeiro e recebeu atenção internacional, sendo citada até mesmo em jornais feministas de Paris.
Outro ponto levantado por Laila é o apagamento sistemático dessas escritoras na historiografia oficial: “Elas estavam lá, publicando, influenciando, debatendo. Mas foram excluídas do cânone literário e dos registros históricos por desafiar as normas estabelecidas”, critica.
Neste sentido, a pesquisadora também faz um paralelo entre a literatura feminina do século 19 e a produção contemporânea. “O que Conceição Evaristo faz hoje, ao transformar a escrevivência em um ato político, tem raízes no que essas mulheres fizeram há mais de um século. A literatura sempre foi um campo de resistência e de luta por equidade”, afirma.
Ao fim da entrevista, Laila reforça a importância de recuperar essas vozes e inseri-las no debate atual: “Conhecer essas autoras é entender que a luta das mulheres por espaço e direitos não começou agora. Resgatar suas obras é um passo fundamental para a memória e a justiça histórica”, avalia.
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube. Confira: