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ToggleVale a pena comentar alguns dos muitos aspectos e reações suscitadas pelo discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seu pronunciamento, seguido de entrevista coletiva, foi paradigmático e ficará na história. Vai ter um antes e um depois de Lula.
Quem me conhece sabe que não sou petista e menos ainda lulista por isso, pode estranhar eu estar promovendo Lula. Votei nele em eleições passadas, por opção única. Tenho minhas reservas sobre o seu papel no cenário político desde os anos 1970. Mas isso não vem ao caso. Sou marxista-leninista desde criancinha e isso me impõe análise fria das conjunturas.
O mundo mudou. Lula mudou e eu também mudei. É a lei inexorável da natureza. Vejam, até a Globo teve que mudar.
Por que a Globo mudou?
Chamo aqui a atenção de vocês para um fato escancaradamente evidente, mas pouco observado. A CNN cobriu integralmente as sessões da Suprema Corte e cobriu integralmente o discurso e a coletiva oferecida pelo ex-presidente Lula. A Globo jamais faria isso.
A rede dos Marinho tem alto nível profissional em vários aspectos, mas politicamente é cavernaria. Vai pro lixo da história por tudo o que patrocinou e gerou de dano para o país.
Qual é da CNN? Ela é um instrumento do imperialismo. Veio para ajudar a dominação do império. E o que eles têm de sobra é profissionalismo e o saber utilizar os meios. Ela não vai mudar uma linha de seus editoriais, seus comentaristas continuarão a ser furibundos anti-petistas, anti-lulistas, neoliberais e entreguistas. Contudo, ao cobrir a coletiva de Lula, por exemplo, ela está conquistando esse espaço para seu proselitismo principal: a submissão ao império.
É uma concorrente poderosa, está em toda parte do mundo, tem uma audiência global que a Globo nunca vai ter. Tem credibilidade. Após a CNN ter mostrado não era mais possível a Globo esconder.
Efeito Lula
Outro aspecto bastante risível: nas fotos da última reunião do governo, todos aparecem de máscaras para anunciar a compra de vacinas. Não tem como escapar da piada pronta. O efeito Lula fez o Bolsonaro colocar máscara.
E, de fato, o cenário para a coletiva no Sindicato dos Metalúrgicos estava bem montado. Perfeito no que tange ao simbolismo. Ali Lula nasceu para a política, dali foi levado para o cárcere de Curitiba e dali renasceu para o embate político.
Tem um aspecto do ser humano, principalmente em situação de desespero, que é o apelo ao pai, à mãe, a Deus, seja lá o protetor que for. É natural e os machos oligarcas e burgueses se aproveitaram disso para gerar o patriarcalismo, o machismo e outras formas de dominação. A verdade é que a natureza se impõe e todo líder tem algo de pai. Mao Tsé-Tung, Ho Chi Minh, Fidel Castro foram paizões.
Depois de tantas mortes, negações, ameaças com armas, síndromes dos golpes, a nação órfã esta ansiosa por um pai, um guia, um mestre que lhe mostre o caminho. Na terça-feira (09) eu citei que até Fernando Henrique Cardoso admitiu que o que falta é um guia, alguém que indique o caminho.
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Pois bem. Lula se comportou como um pai. Pai generoso que perdoa e aponta caminho. Perfeito. É tudo que esse provo precisava nessa hora de tanto tormento. Uma palavra tranquilizadora, uma esperança.
Lula mostrou que está preparado, não há dúvida. Falou à nação aquilo que devia ser a voz cotidiana do governo. Difícil alguém escapar à comparação.
Era isso que estava faltando: protagonismo. Sair da defensiva e assumir a vanguarda, proativa, assertiva. É um recado claro para as esquerdas. Assumir, tirar a bunda da cadeira e assumir o papel patagônico de organizar e educar as massas. Levar a verdade ao povo, francamente, colocar as coisas no lugar.
Ricardo Stuckert
Lula durante entrevista coletiva após anulação das condenações da Lava Jato.
Frente ampla ou de esquerda
Lula sabe que uma frente de esquerda não leva à derrota do governo militar de ocupação. A figura de Bolsonaro é eleitoralmente forte. É necessário, portanto, uma frente ampla.
A frente de esquerda, claro, desde já tem que se organizar e, uma vez a frente ampla no poder, ou seja, uma vez restaurada a democracia, a frente de esquerda haverá de se fortalecer, cimentar suas raízes populares e provocar avanços, mudar a direção.
Militares no governo
A turma de pijama está alvoroçada. São os militares retirados, em suas associações, que durante a campanha de 2018 diziam que se Lula ganhasse haveria golpe. Não precisou golpe porque não deixaram Lula sequer concorrer.
O general Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-comandante da Escola de Comando de Estado-Maior do Exército e o general Eduardo José Barbosa, presidente do clube de reservista, manifestaram sua inconformidade.
“Lugar de ladão é na cadeia… foi uma bofetada na cara da nação arremessar a Operação Lava Jato na lata de lixo”, vaticinam, revelando o pensamento básico da categoria. Para eles, Lula é uma criatura deplorável.
Estranho isso. Realmente difícil entender.
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Lula, respondendo às perguntas dos jornalistas, esclareceu que, desde a democratização, iniciada no governo Sarney, seu governo foi o único que reconheceu e prestigiou os militares, dando aumento de soldo, renovando equipamentos que estavam sucateados, dando condições para a Embraer produzir aviões e foguetes para a FAB, comprando caças, abrindo estaleiros e ofertando um submarino atômico para a Marinha.
A questão militar está sem ser sequer estudada pelas lideranças políticas. Houve um distanciamento difícil de trabalhar. A animosidade de ambas as partes dificulta o entendimento. Mas é preciso trabalhar para superar isso, colocar as forças armadas para cumprirem seu papel constitucional de guardiões da soberania.
Eu recomendaria a Lula ir para os Estados Unidos, descer em Nova York. Será uma festa. O New York Times já escreveu que Lula é o futuro para o país. É uma voz dos democratas muito importante. Em seguida, desembarcar em Washington. Tenho certeza de que, mesmo sem marcar audiência, o presidente Joe Biden o receberá.
Ter uma conversa séria com o governo estadunidense. Quer sobre o respeito aos direitos humanos e a proteção à floresta amazônica, quer sobre democracia. É preciso dizer para o Comando Sul não interferir no processo eleitoral e mandar seus subordinados de volta aos quartéis. Essa é a questão crucial! Temos um governo militar de ocupação subordinado ao comando sul dos Estados Unidos.
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