* Atualizado em 28/08/2023 às 15h20.
Em seu livro Resistência e Anistia, o jornalista Paulo Cannabrava Filho, editor da Revista Diálogos do Sul, resgata a história das lutas do povo brasileiro contra a ditadura repressiva e regressiva, de 1964 a 1985, contada pelos seus protagonistas e através de exaustiva pesquisa documental. O livro foi editado pela Alameda Casa Editorial.
A jornalista, historiadora e cientista política e Beatriz Bissio ressalta a importância de se abordar um tema tão relevante para o atual contexto político no Brasil, onde diversas pessoas estão negando o que ocorreu durante o período da ditadura militar no país.
“É o momento de voltar a trabalhar, obretudo com as novas gerações, a questão da memória da resistência e da luta”, diz Bissio, em declarações à Revista Diálogos do Sul.
Juca Martins
Passeata do Movimento pela Anistia. Eva Wilma, Renato Consorte, Carlos Augusto Strazzer, Denise Del Vecchio. SP. 1979.
De acordo com a professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o livro trata de um período importante da história brasileira: “alguns até deram sua vida para que tivéssemos novamente um processo democrático, se mobilizaram, elevaram suas vozes, saíram às ruas, foram perseguidos e torturados, estiveram anos separados de suas famílias. (…) Essa memória e a resistência de tantos brasileiros idealistas precisa ser preservada.”
Anistia sob ameaça
O livro foi lançado no marco da comemoração aos 40 anos da promulgação da Primeira Lei de Anistia, em 2019. À época, Paulo Cannabrava afirmou: trata-se de “um dos momentos mais críticos da história brasileira, confrontada por um poder que quer mudar o curso da história, em que os algozes do povo são heróis e as vítimas desses algozes são demonizados”. Por essa razão, ele considera esta uma obra mais do que oportuna “para mostrar à sociedade a verdade contada pelos protagonistas da história e fundada em farta documentação pública”.
Cannabrava relata, em sua obra, o que foi o processo da Justiça de Transição, a luta do povo pela pela democracia, o movimento por eleições diretas e pela anistia a todos os presos e perseguidos políticos. Essas conquistas, no entanto, estão sendo alvo de ataques por integrantes do governo Bolsonaro.
“Nós conquistamos a anistia ainda sob a ditadura. O Estado brasileiro decidiu não considerar criminosas aquelas pessoas que lutaram contra o regime. Então nós passamos a ter nossos direitos plenos”, diz Amelinha Teles à Diálogos do Sul. Ela foi presa política e torturada durante o governo de exceção e hoje é uma referência nacional na luta pela memória e Justiça.
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“Essa anistia é fruto de uma luta de mães, de companheiras, irmãs, muitas mulheres, muitos jornalistas, advogados(as), intelectuais, estudantes, sindicalistas e operários que participaram das manifestações em prol da anistia”, lembra Amelinha.
Amelinha, que faz parte da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, destaca que a anistia é um instituto nacional no Brasil e, por isso, não pode ser revista, já que é uma decisão de Estado. “Depois de 40 anos, a anistia se vê ameaçada por atitudes arbitrárias. A lei passou por todos os trâmites legais e institucionais, portanto não tem como voltar atrás”, explicou em 2019.
Anistia é um instituto jurídico e foi incorporada na Constituição Federal Brasileira no ano de 1988. Ela garante não só a anulação das condenações, como exige do Estado reparações pelas graves violações de direitos de cometidos pelos agentes de Estado. “O presidente foi eleito de acordo com a Constituição brasileira, mas não está agindo como manda essa Constituição, e os assessores que o orientam têm que enxergar isso, que é uma conquista consolidada do povo brasileiro. A anistia é necessária e histórica, não há como voltar atrás, acho bom que eles se lembrem disso”, assegura Amelinha.
O livro Resistência e Anistia é o confronto da verdade com aqueles que querem mudar o curso da história. “Um livro que conta toda a história e importância dessa conquista, o quanto a sociedade tem sido beneficiada, porque anistia significa liberdade e democracia, e a sociedade precisa disso para produzir, para crescer e se desenvolver”, diz Amelinha Teles, “nós precisamos conhecer a história do Brasil e esse livro contribui para isso”.
Você pode contribuir com o resgate dessa memória adquirindo seu exemplar de “Resistência e Anistia”, de Paulo Cannabrava, no site da Alameda Editorial, clicando aqui.
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