Num cenário que reedita a história colonial baseada na repressão e na agressão, o Estado ocupante israelense cometeu um ato completo de pirataria marítima ao interceptar e deter o navio Madleen, integrante da “Frota da Liberdade”, em águas internacionais. Essa embarcação, que zarpou dos portos da consciência mundial carregada de ajuda humanitária e esperança, não levava senão uma mensagem de solidariedade com o objetivo de romper o bloqueio imposto a mais de dois milhões de palestinos na Faixa de Gaza.
A prisão dos solidários internacionais — entre os quais parlamentares, artistas e ativistas de diversas nacionalidades — pelo simples fato de levarem alimentos e medicamentos a crianças que morrem de fome e sede, revela o grau de selvageria da ocupação e seu desprezo por todas as normas e convenções internacionais. Esse crime é apenas um prolongamento direto da guerra genocida que Israel vem travando há mais de 600 dias contra Gaza, já responsável por mais de 55 mil mártires, mais de 115 mil feridos e mais de 15 mil desaparecidos sob os escombros — a maioria crianças e mulheres.
A pirataria israelense contra o Madleen representa uma violação flagrante do direito internacional humanitário e expressa a natureza colonial e racista dessa entidade, que não dá qualquer valor à lei nem à consciência mundial. Atacar uma embarcação humanitária dessa forma — por meio de cerco, interferência aérea, assalto naval direto e, por fim, intimidação e sequestro — constitui um crime internacional tipificado, que não pode passar sem resposta nem responsabilização.
Estamos diante de um crime composto, que começa com o cerco e a fome de um povo, e se estende à criminalização de todos que tentam prestar-lhe auxílio. O que se exige hoje não é apenas a libertação dos heróis do Madleen e de sua embarcação, mas uma mobilização internacional urgente para isolar o Estado ocupante, responsabilizá-lo por seus crimes e pôr fim de forma imediata e completa ao bloqueio criminoso contra Gaza. Convocamos também a intensificação da mobilização popular global e o envio de novas embarcações da liberdade, pois a mensagem do Madleen não poderá ser afogada pela máquina de repressão.
Por outro lado, não podemos senão saudar os livres do mundo que arriscaram suas vidas para romper o cerco — em especial a eurodeputada Rima Hassan e todos que a acompanharam nessa missão humanitária. A mensagem deles chegou ao coração do nosso povo, ainda que não tenha alcançado seus portos, e a história registrará seus nomes no livro da nossa luta, ao lado dos mártires, prisioneiros e resistentes.
Madleen não foi apenas um navio. Foi uma voz de liberdade diante da opressão, um grito global diante do genocídio. E seu sequestro não calará essa voz — apenas a tornará mais ressonante. Porque os povos livres não são vencidos, e porque a vontade de viver é mais forte do que a tirania do cerco.
As correntes serão quebradas, o cerco será vencido, e a Palestina triunfará.
Edição de texto: Alexandre Rocha