Etimologicamente, “ser norteado” significa estar sob a influência do Norte.
A Diálogos do Sul sabe bem que cada palavra assume um papel crucial no fazer jornalístico, sobretudo quando nos engajamos verdadeiramente na luta por democracia, soberania e bem-estar aos povos.
Por isso, insubmissos ao Norte como somos, orgulhosamente nos definimos como desnorteados, ou, em outras palavras, sulientados, no melhor sentido deste neologismo.
Somos sulientados por escolher o Sul Global como nosso universo existencial, de colaboração e respeito mútuo, e acreditamos que esse conjunto de países pode constituir uma alternativa ao desenvolvimento imposto pelas potências industrializadas do Norte, de natureza hegemônica e espoliadora. Valorizamos nossas próprias tradições, cultura e história como paradigma para a construção do futuro comum.
Somos desnorteados quando buscamos nos livrar de uma relação vertical, impositiva, de ideais questionáveis aos quais fomos submetidos por décadas, e construir uma relação horizontal, dialógica, inclusiva e integracionista que compreenda os países do Sul, mesmo em outros continentes, todos eles nossos companheiros de viagem.
Estar sulientado é acreditar no sonho bolivariano da Pátria Grande Latino-Americana e Caribenha, livre de hegemonias alienantes e da ditadura do capital financeiro. É exigir respeito à soberania dos povos, aos princípios já consagrados de não intervenção, de solução pacífica das controvérsias entre as Nações.
Entendemos que a paz é obra política de responsabilidade de todos os habitantes da Terra, e que ela inexiste enquanto houver uma criança passando fome, seres humanos subjugados por outros e ocupações predatórias do solo. Entendemos que defender a natureza é garantir a sobrevivência do próprio planeta e da humanidade, e que o bem maior da natureza é o ser humano.
Compreendemos que o Atlântico Sul deve ser declarado um lago de paz, já que suas águas banham países capazes de resolver harmoniosamente seus desafios diplomáticos. Neste sentido, reivindicamos que a região seja preservada da ação das potências bélicas e seus propósitos de dominação.
Seguimos os passos daqueles que se insurgiram na luta contra as condições vis impostas aos nossos povos, infligindo-lhes a pior das servidões: a intelectual, do atraso e do desconhecimento, talvez a principal causa dos males que nos atormentam.
Incentivamos a busca de novos caminhos, inspirados em figuras como Martí, Mariátegui, Salazar Bondy, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Marta Harnecker, entre outros, que se empenharam na formulação de um pensamento latino-americano libertário e criador, e de nossos estadistas, a exemplo de José Artigas, Cézar Sandino, Lázaro Cárdenas, Getúlio Vargas, Salvador Allende, Juan Domingo Perón, Manuel Alfaro, Omar Torrijos, Fidel Castro, Che Guevara, responsáveis por grandes transformações vividas por nossos países.
Na condição de herdeiros da revista Cadernos do Terceiro Mundo, nos propomos fazer da Diálogos do Sul um cenário de debate dos principais problemas do Brasil e da América Latina, tornando o veículo um fator de estreitamento das relações Sul-Sul, englobando países do Mediterrâneo, do Oriente Médio, da Ásia e da África, que são ou foram vítimas do mesmo processo espoliador. Nosso projeto está aberto à colaboração de todos os que pensam da mesma forma.
Como desnorteados e sulientados que somos, desejamos realizar um projeto de mídia alternativa, um espaço de reflexão que ajude a compreender melhor os fatos que nos cercam, na perspectiva da criação de um mundo melhor, buscando a verdade sonegada pelas versões da mídia e da historiografia colonizadas. Acima de tudo, lutamos para sermos conduzidos por nós mesmos.
* Atualizado em 22/05/2024 às 15h50.