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ToggleO Departamento de Estado dos Estados Unidos decidiu, na semana passada, proibir a ex-presidenta argentina Cristina Kirchner (2007-2015), seus dois filhos – Máximo e Florencia Kirchner – e um ex-funcionário de entrarem no país, sob a acusação de estarem supostamente envolvidos em casos de corrupção.
Com ironia, a ex-mandatária respondeu em suas redes sociais: “Será por uma criptofraude? Porque, sinceramente, não cometi nenhuma criptofraude nos Estados Unidos nem em nenhum outro lugar. E minha filha, menos ainda”, afirmou. E continuou: “Meu filho teria abusado sexualmente de alguma jornalista ou escritora na loja mais cara de Nova York? Ou subornado alguma prostituta estadunidense para que não revelasse que contratou seus serviços, temendo que isso prejudicasse sua campanha? Tampouco… E agora, vão voltar a dar 20 bilhões de dólares ao presidente da criptofraude? Lembrem-se que ele também não será reeleito”.
Segundo afirmou o secretário de Estado estadunidense, Marco Rubio, em um comunicado divulgado na última sexta-feira (21), Cristina Kirchner e Julio de Vido – ex-ministro do Planejamento Federal, Investimento Público e Serviços durante os governos da ex-presidenta – teriam abusado de seus cargos ao orquestrar e se beneficiar financeiramente de múltiplos esquemas de suborno ligados a contratos de obras públicas, o que teria resultado no desvio de milhões de dólares do erário. “Múltiplos tribunais condenaram Cristina Kirchner e De Vido por corrupção, o que minou a confiança do povo argentino e dos investidores”, alegou Rubio.
A duas vezes ex-presidenta e atual líder do Partido Justicialista (PJ) foi condenada, em 2022, a seis anos de prisão e à inabilitação perpétua para exercer cargos públicos pelo crime de administração fraudulenta contra a administração pública. No entanto, ainda aguarda um pronunciamento definitivo da Suprema Corte.
A ex-mandatária fez referência ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (2017-2021), e afirmou: “Provavelmente ele ainda não engoliu o fato de que, em 2019, após ter ordenado ao Fundo Monetário Internacional (FMI) conceder 45 bilhões de dólares a seu amigo Mauricio Macri [ex-presidente da Argentina, 2015-2019] para ajudá-lo na campanha de reeleição, nós vencemos as eleições”. Ela também criticou o fato de agora tentarem entregar ao atual chefe do Executivo argentino, o ultradireitista Javier Milei, um novo acordo com o FMI no valor de 20 bilhões de dólares, precisamente no momento em que ele está sendo acusado de uma megafraude com a criptomoeda $Libra.
De forma irônica, a líder kirchnerista continuou: “Videla e Massera nunca foram proibidos de entrar nos Estados Unidos” – referindo-se ao general Jorge Rafael Videla, presidente da Junta Militar, e ao almirante Emilio Eduardo Massera, um de seus integrantes.
¿Será por una cripto estafa? Porque, la verdad, no hice ninguna cripto estafa en Estados Unidos ni en ningún otro lado. Y mi hija, menos.
¿Mi hijo habrá abusado sexualmente de alguna periodista o escritora en la tienda más cara de Nueva York? ¿O habrá sobornado a alguna… pic.twitter.com/OEEKHweXyZ
— Cristina Kirchner (@CFKArgentina) March 21, 2025
E diretamente a Milei, disparou: “Sozinho, você não dá conta… nem da economia, nem da política. Por isso, sai correndo para pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional e a Trump… Está muito na cara, Milei (…); não conseguiu se conter e logo saiu postando, deixando todas as digitais de que foi um pedido seu”.
No mesmo dia, justiça ratifica condenação a Kirchner
Coincidindo abertamente com o veto à entrada nos Estados Unidos, na última sexta-feira (21), a Sala 4 da Câmara Federal de Cassação Penal da Argentina, por unanimidade, ratificou as condenações contra Cristina Kirchner, José López e Lázaro Báez no caso de suposta fraude em obras públicas. Também manteve a condenação contra o ex-ministro da Produção Julio de Vido, mas rejeitou o recurso do Ministério Público pelo crime de associação ilícita – que jamais foi comprovado.
Os juízes da sala, presidida por Mariano Borinsky e integrada por Gustavo Hornos e Diego Barroetaveña, pertencem ao chamado “Partido Judicial”, alinhado ao ex-presidente direitista Mauricio Macri. Durante seu governo (2015-2019), esse grupo atuou em estreita colaboração com a embaixada dos Estados Unidos, aparelhando as estruturas judiciais por meio de métodos de corrupção.
A Câmara rejeitou os recursos de apelação dos condenados e também do procurador Mario Villar, confirmando a decisão da mesma sala que, em novembro passado, manteve as penas impostas pelo Tribunal Oral 2. A sentença inclui seis anos de prisão e inabilitação perpétua para exercer cargos públicos por defraudação à administração pública – acusação que tampouco foi comprovada.
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O caso Vialidade foi arquivado por falta de provas e reaberto em meio a uma das maiores perseguições midiáticas, judiciais, de inteligência ilegal e políticas contra Cristina Kirchner. O processo não se sustentaria em nenhuma organização de justiça internacional.
Além disso, envolve outras oito pessoas e agora segue para a Suprema Corte, cuja credibilidade está no nível mais baixo da história e poderá levar um longo tempo para tomar uma decisão sobre o processo.
Sanção contra Kirchner não surpreende
O comunicado do governo dos Estados Unidos, assinado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, já era esperado. Ele e outros integrantes do lobby cubano-estadunidense de Miami participaram aberta e publicamente de diversos golpes de Estado na região e também atuaram ativamente contra Cristina Kirchner.
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Além disso, é impossível ignorar a feroz atuação dos Fundos Buitres (abutres) contra a ex-presidenta. Durante a crise financeira de 2001 na Argentina, investidores abutres compraram títulos da dívida por valores irrisórios, aprofundando a crise econômico-social. Quando Néstor Kirchner assumiu a presidência, em maio de 2003, trabalhou para pôr fim ao pagamento da dívida e, em 2005, decidiu expulsar o FMI do país e fechar o escritório que o fundo ocupava dentro do Banco Central da República Argentina, responsabilizando-o pela situação dramática e suas consequências.

Inimiga dos fundos abutres
Os fundos abutres tentavam cobrar bilhões de dólares da Argentina, o que motivou Cristina Kirchner a iniciar uma luta contra os grupos e a liderar uma campanha diplomática e política em organismos internacionais com o apoio de países que, em momentos críticos, também foram vítimas da pilhagem promovida por esses fundos.
Então, em 2014, foi formada a American Task Force (Força-Tarefa Americana), liderada pelo bilionário Paul Singer, do lobby financeiro de Nova York e dono do fundo abutre Elliot. Singer promoveu uma guerra judicial contra a ex-presidenta — uma história alucinante e que hoje não pode ser ignorada.
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Essa força-tarefa contava com o apoio da atual ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e de diversos ex-funcionários do governo de Macri – muitos dos quais hoje estão ao lado de Milei.
As inúmeras ações ilegais contra Cristina Kirchner, sua família e ex-funcionários de seu governo merecem ser contadas em detalhes, tamanha a ilegalidade. Foram realizadas ações conjuntas pelos dois poderosas lobbys que marcam a fogo a política do Estados Unidos, e com total impunidade, atravessando todos os limites e levando a becos sem saída.
Investigação na Espanha contra Milei no caso $Libra
Cristina Kirchner informou que se reuniu, na sexta-feira (21), com o jurista hispano-argentino Gerardo Pisarello – professor universitário e deputado, além de secretário primeiro do Congresso dos Deputados da Espanha. Pisarello solicitou uma investigação na Espanha sobre a relação entre o estadunidense Hayden Mike Davis e o presidente Javier Milei. Davis foi o criador da criptomoeda $Libra, enquanto Milei promoveu o ativo digital em suas redes sociais, levando milhares de pessoas a investir na plataforma, o que culminou em um esquema de fraude em massa.
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Na Espanha, Davis e Milei são acusados de manter uma “clara conivência”, utilizando uma criptomoeda “não regulamentada para manipular o mercado financeiro e o sistema bancário em benefício próprio, aproveitando-se de informações privilegiadas”.
“Davis e outros membros de sua família são residentes na Espanha e, portanto, na União Europeia, e por se tratar de um delito de alta gravidade econômica, a Audiência Nacional espanhola e a Procuradoria Europeia seriam competentes para investigar esses delitos”, escreveu Cristina Kirchner, que também é advogada.
Alem disso, na semana passada, um escritório de advocacia estadunidense, Burwick Law, entrou com uma ação judicial na Corte de Justiça dos EUA contra as empresas Kelsier, KIP e Meteora, nomeando Javier Milei como um dos envolvidos no lançamento do token financeiro que possibilitou o esquema de fraude.