Uma das críticas mais contundentes feitas ao processo de queimadas e desmatamento da Amazônia se baseia na possibilidade de que a região se torne uma Savana.
Em sua coluna semanal na TV Diálogos do Sul, o professor de geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Cláudio di Mauro conta que conheceu locais que sofreram mudanças de vegetação ao longo dos anos, como os Campos de Humaitá e Igarapé Preto, no estado de Rondônia, e em outros estados como Acre e Amazonas.
Na década de 1970, di Mauro trabalhou na Amazônia brasileira com o Projeto Radar da Amazônia (RADAM), fazendo mapeamentos geomorfológicos, o que permitiu a ele conhecer áreas que demonstram que a floresta foi submetida a mudanças climáticas.”Essas áreas todas demonstram que antes da cobertura florestal que existe hoje, ou seja, aquela floresta exuberante tropical, nós tínhamos uma vegetação de savanas, caminhando pro cerrado”, conta.
O professor explica que a Floresta Amazônica, como existe hoje, é jovem, possui cerca de 15 mil anos e faz um alerta: “constatamos tudo isso na época em que trabalhávamos no projeto, e é isso o que está sendo destruído, essa fragilidade da cobertura amazônica e do próprio solo amazônico”.
Fabiano Matiello
Salvem a Amazônia!
O solo da Amazônia é fértil, mas não possui grande profundidade, tornando aquilo que é da vegetação e está em processo de decomposição, superficial. “E é por isso que os ruralistas pegam tratores, amarram correntes e passam derrubando as vegetações e as grandes árvores, árvores importantíssimas, que infelizmente não têm raízes aprofundadas”, diz Cláudio.
População indígena será dizimada
Cláudio relembra a época da ditadura militar, em que os ruralistas “precisavam amansar a floresta”. “Isso significava que eles precisavam derrubar a cobertura florestal e colocar o gado no lugar. E é isso o que eles têm feito continuadamente até os dias hoje”, explica, “eles derrubam a floresta amazônica, essa jovem cobertura vegetal, que tem tanta história”.
“Antes da floresta, nós já tínhamos homens, mulheres, grupos sociais vivendo na Amazônia”, diz o professor, que diz haver comprovações específicas, como em Monte Alegre, no Pará, que mostram que a cobertura vegetal com a característica atual é posterior à atividade humana existente na região.
“Esses seres humanos, que aprenderam a fazer produtos medicinais, a fazer a pesca, a caça, a agricultura, estão sendo dizimados, porque sua estrutura, história e características de passado, vão sendo destruídos pela sociedade humana atual”, alerta. “Essa concepção capitalista do agronegócio precisa ser rompida, se não, não teremos paz para a população, principalmente para as populações indígenas. Salvem a Amazônia!”
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