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Manifesto anti-imperialista pede a reconstrução entre seres humanos e natureza

O documento faz parte das atividades promovidas pela Jornada Internacional de Luta Anti-imperialista, fomentada por organizações e movimento populares dos cinco continentes
Redação Pressenza
Pressenza
São Paulo (SP)

Tradução:

O Manifesto anti-imperialista faz parte das atividades promovidas pela Jornada Internacional de Luta Anti-imperialista, promovida por organizações e movimento populares dos cinco continentes.

Lançado no último dia 5, data que marca o Dia Mundial do Meio Ambiente, o documento denuncia que “o poder destrutivo da atual etapa do capitalismo, em sua fase financeira, não tem precedentes. Segundo o manifesto, as empresas transnacionais aumentam sua capacidade de exploração dos bens comuns, avançando na exploração de minérios, no desmatamento, na apropriação privada da água, entre outras formas. 

Conforme o texto, a pandemia de Covid-19 “é a última cara desta crise ambiental e do sistema”, e o capitalismo “verde” faz parte do problema, e não da solução.

Para as organizações que integram a Jornada, “a saída está na reconstrução da relação entre os seres humanos e a natureza, onde a vida, o bem-viver coletivo e os tempos ecológicos guiem as nações e povos, e não a ganância, o lucro e a propriedade privada. 

Parar a barbárie capitalista é a tarefa central do nosso tempo.” No Brasil, a Jornada é formada por partidos de esquerda, organizações de estudantes, movimentos de trabalhadores rurais, atingidos por barragens, centrais sindicais, entre outros.

Durante o lançamento do manifesto em diferentes idiomas, a jornada realizou também ações presenciais em 21 países. No Brasil houve plantio simbólico de árvores em várias cidades.

Confira o Manifesto na íntegra

O documento faz parte das atividades promovidas pela Jornada Internacional de Luta Anti-imperialista, fomentada por organizações e movimento populares dos cinco continentes

Pressenza
O documento lançado no Dia Mundial do Meio Ambiente teve a participação do Brasil.

“Nós, seres humanos, só temos um planeta no qual viver. E só sobreviveremos em aliança com os demais seres vivos, animais e vegetais. A extração e a exploração desenfreada dos bens da natureza, focada apenas na busca pelo lucro por parte das grandes corporações, e a lógica do sistema capitalista, tem levado nosso planeta ao esgotamento.

O poder destrutivo da atual etapa do capitalismo, em sua fase financeira, não tem precedentes. As empresas transnacionais aumentam sua capacidade de exploração dos bens comuns, avançando na exploração de minérios, no desmatamento, na apropriação privada da água, entre outras formas. Na agricultura, aplica-se o modelo do agronegócio baseado na monocultura e na aplicação de agrotóxicos, que destrói a biodiversidade e altera o clima. O imperialismo estadunidense e os demais países do Norte global avançam sobre os países periféricos buscando privatizar esses bens comuns que os povos, seus verdadeiros donos, cuidavam em cada país.

O resultado é evidente: estamos vivendo a pior crise ambiental da história e toda a humanidade se vê comprometida se essa dinâmica insana do capital continuar. A mudança climática já afeta os povos de diversas partes do mundo, mas não é a única consequência da crise ambiental. As águas do mundo estão contaminadas por plásticos e pesticidas, e os mananciais esgotaram. A biodiversidade está ameaçada com diversos animais entrando em extinção, além de ser objeto de grandes circuitos de biopirataria. Os solos estão sendo degradados pelo desmatamento e pela monocultura, e grandes regiões estão sendo completamente destruídas pela mineração em grande escala.

A pandemia de COVID-19 é a última cara desta crise ambiental e do sistema. A origem dos superpatógenos está diretamente relacionada à destruição dos ecossistemas historicamente conservados pelos povos camponeses e tradicionais. A devastação que libera microorganismos que estavam em equilíbrio dinâmico em seu habitat e que quando se encontram com as gigantescas instalações de escala industrial, superpovoadas de espécies de animais, confinadas e bombardeadas intensamente com antibióticos e hormônios, são selecionados e se reproduzem como patógenos. Logo, se encontram com grandes aglomerações humanas e com pessoas imunossuprimidas pela constante contaminação de agrotóxicos dos alimentos e pela própria comida completamente industrializada. Dessa forma, o desmatamento e a eliminação dos habitats dos animais silvestres provoca a migração de patógenos para os seres humanos. Tudo indica que, se esse modo de produção continuar, teremos inúmeros novos vírus, que se transformarão em mais pandemias.

Todos os seres humanos estão sendo afetados, especialmente os mais pobres, as mulheres, as crianças e os povos originários em todo o mundo. Além disso, temos hoje mais de 134 mil espécies da fauna e da flora em perigo de extinção.

É importante apontar também o papel nefasto que as atividades militares cumprem no que tange à destruição do planeta. O exército dos Estados Unidos e seus aliados, além das agressões constantes contra a vida dos povos, é um dos maiores contaminadores do mundo, deixando um legado tóxico em forma de urânio empobrecido, de petróleo, de combustível para aviões, de pesticidas, de produtos químicos como o Agente Laranja e o chumbo, entre outros.

Uma parte das corporações, ao invés de combater as causas, se dedica a organizar o capitalismo verde, transformando os bens da natureza em novas mercadorias e fontes de especulação, como os papéis de crédito de carbono, os bônus de preservação ambiental e outras falsas soluções que não dariam respostas às necessidades sociais e ecológicas dos povos. O Império tratou de reestruturar sua base econômica com projetos baseados no mercado que tem em seu DNA a necessidade de aumentar a exploração dos bens comuns dos países do Sul para produzir uma nova base tecnológica supostamente “verde”.

Este caminho conduzirá inevitavelmente à destruição da humanidade e da natureza tal como a conhecemos. É um projeto de morte, de dominação e de destruição.

A saída está na reconstrução da relação entre os seres humanos e a natureza, onde a vida, o bem-viver coletivo e os tempos ecológicos guiem as nações e povos, e não a ganância, o lucro e a propriedade privada. É uma saída a partir da produção agroecológica de alimentos, da democratização do acesso à terra a partir da reforma agrária, do cuidado com os bens comuns como a água, a biodiversidade e a terra, e da transição para uma matriz energética que responda às necessidades reais da classe trabalhadora com a justiça social e ambiental, de superação do patriarcado e do racismo.

Parar a barbárie capitalista é a tarefa central do nosso tempo. Necessitamos enterrar a dominação do capital sobre a vida, construir um mundo justo, igualitário e belo, para que todas e todos possamos viver bem e em paz.”


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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