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Com nível mais baixo em 37 anos, seca do rio Paraná preocupa Brasil, Argentina e Paraguai

Com menor volume de água em 37 anos, rio que percorre Brasil, Paraguai e Argentina é alvo de interesse de empresários
Beatriz Contelli
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Assim como nosso Norte é o Sul, o Rio Paraná corre para o sul e atravessa a fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, além de uma porção da Bolívia. Do tupi, “Paraná” significa “como o mar”.

Com vida animal abundante, a parte alta do Rio contempla a hidrelétrica de Itaipu, que gera energia para o Brasil e o Paraguai, enquanto a parte baixa é utilizada como via de transporte para produtos agrícolas, industriais e de petróleo.

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Apesar de ser o segundo rio da América do Sul em extensão, o Rio Paraná registrou baixa histórica mais uma vez. O volume de água está 40% abaixo do normal, o que representa a menor quantidade de volume de água em 37 anos.

O cenário de baixa já é visível na paisagem das Cataratas do Iguaçu, ponto turístico reconhecido como Patrimônio Natural Mundial, que registrou 308 mil litros de água por segundo. O volume considerado normal é de 1,5 milhão de litros de água. 

O problema da baixa também se reflete no abastecimento de água potável, nas atividades pesqueiras de diversas comunidades, nos riscos à biodiversidade e até na ameaça de um apagão em partes do Brasil. 

Com menor volume de água em 37 anos, rio que percorre Brasil, Paraguai e Argentina é alvo de interesse de empresários

Nelson Candia
Além da navegação, abastecimento elétrico e fauna estão comprometidos pela baixa do Rio Paraná

Desmatamento da Amazônia

O desmatamento da Amazônia, ao lado das megaempresas, dos agrotóxicos que afetam o solo e da exploração desenfreada do capitalismo, é um dos fatores responsáveis pela estiagem no Sul do país, o que influencia diretamente o déficit de chuvas.

Sem esquecer que os riscos de queimadas em períodos de estiagem são ainda maiores.

O Paraguai também sente o impacto da baixa, pois o escoamento da safra de grãos é realizado pelo único acesso de exportação ao Oceano Atlântico, o Rio Paraná.

No lado argentino, o carregamento nos navios diminuiu para evitar que o transporte venha a encalhar, já que o nível do rio está abaixo três centímetros abaixo do nível do mar.

Privatização do rio 

Há 25 anos nas mãos da Hidrovias S.A., sociedade entre a empresa belga Jean de Nul e o holding argentino Emepa, o canal de navegação do Rio Paraná é um dos maiores corredores de transporte fluvial do mundo e concentra 80% das exportações da província de Rosário, na Argentina, reconhecida como maior centro exportador de soja processada. 

Profissionais da região, como o capitão fluvial Oscar Rubén contam que antes da privatização, o comportamento do rio, as grandes baixas e as secas eram monitoradas constantemente. “A privatização fez com que se deixasse de ter esse constante conhecimento de comportamento do rio e do clima”, ressalta, em entrevista ao site argentino Resumen Latinoamericano. 

A Hidrovias S.A. também é responsável pela dragagem, processo que consiste no aprofundamento e alargamento do rio, com a retirada de material do fundo, como areia e sedimentos. A dragagem frequente, aliada à falta de controle sobre o rio, também causam desastres ambientais. “Querem adaptar o rio às embarcações, e não os barcos ao rio”, explica Rubén. 

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Sem regulação do uso adequado das águas, a condição dos moradores das cidades costeiras também é agravante e os acidentes de trabalhadores terceirizados tornam-se frequentes.

No início do mês, o governo argentino formalizou o controle estadual da Hidrovia Paraguai-Paraná pelos próximos doze meses após o vencimento da concessão à Hidrovias S.A.

Beatriz Contelli é estudante de jornalismo e colabora com a revista Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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