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Desmatamento demanda mudança urgente na maneira de alimentar-nos, alerta alta gastronomia

Os irmãos Joan, Josep e Jordi Roca, que regem um dos restaurantes mais clamados do mundo, o Celler can Roca, decidiram iniciar uma campanha de alerta diante da “perda de biodiversidade em alta velocidade”
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Os irmãos Joan, Josep e Jordi Roca, que regem um dos restaurantes mais clamados do mundo, o Celler can Roca, decidiram iniciar uma campanha de alerta diante da “perda de biodiversidade em alta velocidade” pela falta de “consciência” em nossa forma de alimentar-nos. “Creio que o que é perigoso é não ter consciência de que estão acontecendo coisas. 

O perigo está em não ouvir esses apelos da natureza que nos estão dizendo que estamos perdendo espécies, ciclos vitais, ecossistemas, biodiversidade”, explicaram a partir de sua trincheira, em Girona, no norte da Catalunha, de onde pretendem iniciar uma grande mobilização para chamar a atenção dos grandes líderes que se encontrarão na Cúpula do Clima de Glasgow (COP26).

Os irmãos Roca decidiram chamar seu mais recente projeto de Semeando o futuro, em colaboração com o Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), que iniciaram há dois anos, quando foram encarregados de fazer a ceia de gala que seria oferecida aos mandatários que participaram da COP 25 em Madri.

Aí decidiram falar, denunciar, utilizar sua cozinha para fazer seus comensais refletirem e iniciar uma campanha em todo o mundo, através de outros cozinheiros e pessoas interessadas em preservar o planeta, pela necessidade de uma mudança urgente em nossa maneira de alimentar-nos, explicando que o modelo atual, baseado nas monoculturas e na pecuária intensiva, acaba finalmente por destruir ecossistemas inteiros. Denunciam isto através dessa campanha e de um documentário que sairá em novembro, precisamente abordando esse problema.

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Em entrevista a La Jornada, Joan Roca relatou precisamente quando nasceu essa vocação de transformação, foi quando lhe encarregaram a ceia aos mandatários em dezembro de 2019. “Foi uma travessura, mas também foi algo em que pensamos muito. Eles chegaram pensando que iam comer pratos de um dos restaurantes mais sofisticados do mundo e nós decidimos dar a eles um prato que misturava água suja com água clara, ou uma beterraba em lugar da carne. Foi a ferramenta que tínhamos para dizer-lhes na cara o que acontece e a preocupação que tem o mundo, que temos nós”.

O chef catalão, com umas sementes de hortaliças recuperadas de sua região na mão, reconheceu que sua principal preocupação é o ritmo tão acelerado de destruição da biodiversidade. E os dados recolhidos pela comunidade científica, dos quais se nutrem para suas pesquisas culinárias, não deixam lugar à dúvida: 75% das sementes que existiam no mundo há 100 anos desapareceram; calcula-se que em uma jornada de 24 horas desaparecem pelo menos dez sementes autóctones no planeta. Enquanto apenas nove cultivos concentram 66% da produção anual no mundo. 

Os irmãos Joan, Josep e Jordi Roca, que regem um dos restaurantes mais clamados do mundo, o Celler can Roca, decidiram iniciar uma campanha de alerta diante da “perda de biodiversidade em alta velocidade”

CellerRocaBBVA
Os irmãos Joan, Josep e Jordi Roca regem um dos restaurantes mais clamados do mundo, o Celler can Roca.

“As sementes representam nossa memória como povo, como espécie. Estamos vendo que estamos perdendo biodiversidade muito rapidamente. É algo que temos constatado e é uma preocupação que existe, eu diria, em todo o mundo. A perda de produtos em um ritmo acelerado. Creio que o que é perigoso é não ter consciência de que estão acontecendo coisas. O perigo está em não ouvir esses apelos da natureza que nos estão dizendo que estamos perdendo espécies, ciclos vitais, ecossistemas, biodiversidade, porque estamos priorizando as monoculturas, a pecuária intensiva, que necessita muita água e destrói ecossistemas inteiros. A Amazônia está sendo desflorestada porque estão ampliando as zonas de pecuária intensiva. Creio que o alarme vem mais por não ser conscientes de que está acontecendo isto e porque todo mundo pode fazer algo, tomando suas decisões a respeito do que comer e fazer com que a mudança seja real e possível”, explicou. 

Os irmãos Roca têm viajado por todo o mundo neste últimos dois anos e confirmaram seus piores augúrios, sobretudo os que se referem a esse desaparecimento de sementes, de ingredientes, de sabores, de ecossistemas que os fazem possíveis. Por isso insistem que “necessitamos de uma consciência global, geral, que todo o mundo leve em consideração essas questões. Os cozinheiros queremos somar-nos a esta reivindicação, a esta demanda, que já estavam fazendo os cientistas e especialistas e nós queremos nos somar porque a cozinha hoje tem uma visibilidade que talvez nunca tenha tido. Assim que agora queremos usar com responsabilidade esse alto-falante que nos dá a sociedade para tentar manter com vida todos os lugares que subsistem no planeta com uma biodiversidade muito rica, como ocorre em países como o México e na América Latina. Isso é preciso preservar, pois finalmente a terra é milho”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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