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ToggleEm meio a uma investigação sobre suposto crime de tráfico de influência e lavagem de dinheiro, a Gramazini Granitos e Mármores Thomazini, ligada a Jair Renan, filho mais novo de Jair Bolsonaro, conseguiu no fim do ano passado mais 18 alvarás para pesquisar minérios nas regiões sul, sudeste e nordeste do país. Os decretos foram publicados no Diário Oficial da União (DOU) dos dias 29 e 30 de dezembro de 2021 e possuem validades que vão de dois a três anos.
A situação despertou a atenção do Ministério Público Federal (MPF), que instaurou um procedimento preliminar para investigar o caso. Pouco tempo depois, em dezembro, o filho do presidente foi intimado pela Polícia Federal (PF) para depor no inquérito.
Somadas, as áreas de nove das autorizações, concedidas em apenas dois dias, chegam a 6.868,85 hectares. O tamanho das demais não foi informado. A maioria delas fica em Minas Gerais, nos municípios de Eugenópolis, Vieiras, Poté, Divino das Laranjeiras, Mendes Pimentel, Governador Valadares, Grão Mogol, Conselheiro Pena, Goiabeira, Cristália, Malacacheta e Galileia. Mas há também estudos de mármore, granito e quartzito previstos em Tenente Ananias (RN), Rio Branco do Sul (PR), Cerro Azul (PR) e Tunas do Paraná (PR).
Inquérito investiga recebimento de vantagens de empresários
Segundo a reportagem de O Globo, desde setembro de 2019 o Grupo Thomazini recebe um benefício fiscal, concedido pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), de 75% no pagamento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), válido até 2028. Isso significa que, de 100% do imposto devido, apenas 25% é pago. Um levantamento no DOU mostra também que, só no ano passado, a empresa recebeu pelo menos 15 autorizações da Agência Nacional de Mineração (ANM) para prospectar novas áreas.
A investigação envolvendo Jair Renan tramita na Superintendência da PF do Distrito Federal. O inquérito aponta que ele é associado com outras pessoas “no recebimento de vantagens de empresários com interesses, vínculos e contratos com a Administração Pública Federal e Distrital sem aparente contraprestação justificável dos atos de graciosidade”.
Conforme as apurações, o núcleo empresarial apresenta “cerne em conglomerado minerário/agropecuário, empresa de publicidade e outros empresários”.
As suspeitas sobre o 04 englobam a utilização da empresa de eventos dele, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, para promover articulações entre a Gramazini Granitos e Mármores Thomazini e Rogério Marinho. Na época, o advogado Frederick Wassef, que representa Renan, negou a acusação de tráfico de influência e disse que o jovem não possui nenhum automóvel, nem foi presenteado.
“Não tem nenhum carro, ele nem atuou para abrir porta para ninguém”, afirmou Wassef, ao Estadão. “É mais um ato para atingir o presidente da República”.
Reprodução – Instagram
Zero Quatro se mudou de mansão após suspeita de lavagem de dinheiro
Grupo faz fortuna com leilões de gado e feiras agropecuárias
Em março de 2021, De Olho nos Ruralistas mostrou que a área de atuação do Grupo Thomazini vai além da mineração e da construção — e que, portanto, existem mais interesses nessa aproximação com a família Bolsonaro: “Grupo Thomazini, que doou carro para Jair Renan, também faz fortuna na pecuária“. Pelo menos outros dois setores estão presentes no conglomerado: a energia e a agropecuária. Sem falar na concessionária de carros.
A Fazenda 3JR comprou por R$ 26 milhões uma propriedade que pertencia ao ex-deputado federal Camilo Cola (MDB-ES), falecido no ano passado. E que tinha sido avaliada pela família, dez anos antes, por R$ 105 mil. A 3JR especializou-se no gado caribenho senepol, cujo touro é caracterizado por uma forte libido. Os Thomazini rodam o país em eventos do setor, promovendo as crias. É um mercado onde uma vaca chega a valer R$ 313 mil.
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A empresa possui o maior rebanho da raça no Espírito Santo e é comandada por Jhonatan Thomazini, o mesmo empresário por trás da Neon E. Motors, concessionária de veículos que presenteou Jair Renan. Jhonatan é irmão de John, o membro da família que aparece em foto com o “04” e com Rogério Marinho, em Brasília.
A Bolsonaro Jr Eventos e Mídia — ou RB Eventos e Mídia Eireli — tem como atividade principal “serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas”. A Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAES) prevê, nesse escopo, itens como “serviços de remates rurais”, “gestão de parque para feiras agropecuárias”, “exposição de animais em feiras” e “organização de parque de leilão de gado”.
Obsessão de Bolsonaro pelo garimpo é tema de dossiê
Ao mesmo tempo em que trabalha para beneficiar cooperativas e grupos criminosos atuando no garimpo ilegal na Amazônia, Jair Bolsonaro mantém os incentivos às grandes mineradoras e atende aos interesses do MDB na composição de cargos da Agência Nacional de Mineração (ANM). Essa política dual adotada no setor minerário é o tema do relatório “As Veias Abertas”, do De Olho nos Ruralistas, que explora a política fundiária do atual governo.
Clique aqui para baixar o dossiê na íntegra.
Caçula namorou filha de acusado de matar Marielle
Apesar da acusação de tráfico de influência, Bolsonaro JR, como o caçula se apresenta nas redes sociais, costuma dizer que política não é a praia dele; que prefere ser influencer. Ainda assim, usa seus perfis para dar recados bolsonaristas e, a exemplo do que faz o pai, disseminar machismo e misoginia.
Twitter um print de um jogo em que derrotava Maria do Rosário (PT-RS), a deputada federal que seu pai disse que não estupraria porque “não merece”. “Pata!”, escreveu. “Tem que se f* e acabou porr*!”
Em maio de 2020, por exemplo, postou noEm 2019, o delegado Giniton Lages, titular da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro e um dos responsáveis pelas investigações da execução da vereadora Marielle Franco, confirmou que a filha de Ronnie Lessa, preso sob acusação de ser um dos autores do homicídio, namorou Jair Renan Bolsonaro.
“Também apareceu que meu filho Zero Quatro e a filha desse ex-sargento, eu comecei a correr atrás”, comentou o presidente, na tentativa de defender o caçula. “Primeiro chamei meu filho”, prosseguiu. “Pai, eu sai com metade do condomínio, nem lembro quem é essa menina”, teria respondido o rapaz. Em dezembro, ele simplesmente não foi depor na investigação da PF.
Zero Quatro se mudou de mansão após suspeita de lavagem de dinheiro
Às vésperas do primeiro turno das eleições, o “04” se mudou da mansão onde morava com a mãe, Ana Cristina Valle, no Lago Sul de Brasília, bairro nobre da capital federal. A residência ganhou notoriedade por ter sido comprada em nome de um corretor de imóveis pelo valor declarado de R$ 2,9 milhões.
Inicialmente, a ex-esposa de Jair Bolsonaro (PL) afirmava que morava de aluguel. Contou que pagava R$ 8 mil por mês, mesmo recebendo R$ 6 mil como assessora parlamentar. Mas, ao registrar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sua candidatura a deputada distrital, incluiu a propriedade na lista de bens. Ela recebeu somente 1.485 votos e não conseguiu se eleger.
De acordo com a coluna de Rodrigo Rangel, no Metrópoles, a saída de Jair Renan da casa ocorreu pouco tempo após a Polícia Federal (PF) pedir abertura de investigação para que a Justiça apure se Ana Cristina cometeu crime de lavagem de dinheiro na compra do imóvel. O filho do presidente voltou para o apartamento de dois quartos que Jair Bolsonaro mantém, desde 2000, no Sudoeste, outro bairro nobre de Brasília.
Mariana Franco Ramos | Jornalista – De Olho nos Ruralistas
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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