No dia 21 de março de 2023, Dia das Mães na Palestina e na maior parte do Médio Oriente, o Ministério Palestino dos Assuntos da Mulher em Gaza declarou Um Ibrahim Al-Nabulsi, a mãe do Comandante Ibrahim Al-Nabulsi — mártir pela liberdade palestina — como a Mulher da Palestina 2023.
O que acontece é que, na maior parte da cobertura jornalística sobre o que está a acontecer na Palestina e em todo o Médio Oriente, continua-se a ignorar as suas circunstâncias, continua-se a não considerar as mulheres árabes muçulmanas como especialistas na informação. Elas, as palestinas, desaparecem na fase produtiva da informação, razão pela qual continuam a não ser objeto de reflexão, discussão e debate.
A pesquisadora Marina Hoyos Marín analisa sobre a cobertura jornalística ocidental: “Em referência ao Médio Oriente, grande parte do jornalismo de guerra continua a estereotipar as mulheres, ou seja, continua a insistir na ideia da mulher árabe-muçulmana como uma simples vítima. Basta pensar nas inúmeras fotografias de mulheres árabe-muçulmanas sentadas, chorando e clamando ao céu pela morte de um ente querido, bem como na escassez de imagens em ângulo baixo de mulheres árabe-muçulmanas em pé e olhando para a câmera.
“Para alguns meios de comunicação social, não há possibilidade de as mulheres do Sul Global serem combativas e resistentes, mesmo que sejam vítimas. Estamos enfrentando a revitimização das mulheres no tratamento jornalístico. Sirin Adlbi Sibai, cientista política e arabista, sustenta que esta imagem de uma “mulher com hijab” constitui a marca visual para mostrar as mulheres árabe-muçulmanas como eternas vítimas do patriarcado e, claro, como exemplo de uma mulher atrasada, ignorante, pobre mulher e vítima, especialmente, vítima.”
E assim, podemos chegar à perigosa conclusão de que “as mulheres palestinas devem ser resgatadas”, apresentando-se como um grupo apolítico sem história.
Mas isso não é verdade!
Essas mulheres árabes-muçulmanas são as protagonistas da história. São as que sustentam a determinação e criam seus filhos para que resistam e suportem as agressões da opressão e discriminação, como analisou a Dra. Sayeda Sediqah Hijazi na primeira roda de conversas entre mulheres iranianas e brasileiras.
Mãe Ibrahim Al-Nabulsi nos faz lembrar que, apesar das correntes, a mulher palestina, com sua fé, ainda estará de pé olhando para a câmera.
Ao ouvir o martírio de seu corajoso filho, assassinado pelas forças de ocupação israelenses, ela imediatamente reagiu:
“Eles não pararam Ibrahim; pelo contrário, há 100 Ibrahims! Vocês são todos Ibrahim, todos vocês são meus filhos! Ibrahim foi ao amado profeta. Ibrahim foi ao nosso amado profeta Mohamed (S.A.A.S) – (Que a Paz de Deus, Sua Misericórdia e Bênçãos estejam sobre ele). Louvado seja Deus, Ibrahim é vitorioso! Louvado seja Deus, Senhor dos mundos!”
“No Other Land”: co-diretor é “sionista liberal” e levou Oscar explorando causa palestina
Ela invocou o Senhor para conceder-lhe sua misericórdia e os altos graus do paraíso na companhia dos profetas, dos mensageiros, dos santos e dos mártires, aqueles que são a melhor companhia. Invocou longamente por aquele que é mais querido para ela do que sua própria alma e pediu a Deus para protegê-lo e vigiá-lo, louvado seja Deus!
E ela nos deu energia, força e coragem, e nossas previsões se concretizaram com o genocídio em curso. Agora repercutimos a mensagem que enviamos ao chamamento de Mãe Ibrahim Al-Nabulsi para as redes de mulheres muçulmanas em comunhão:
Somos Ibrahim Al-Nabulsi!
Estimada e querida irmã, mãe Ibrahim Al-Nabulsi,
Meu nome é Amyra El Khalili, sou beduína palestino-brasileira, da linhagem de Saladino e do Sheik Mohamed El Khalili*, e escrevo para dizer que seu “clamor foi ouvido” na América Latina e no Caribe, desde o Brasil, em alto e bom som!
Glorificamos sua coragem de mulher-mãe e a bravura do comandante Ibrahim Al-Nabulsi na defesa de nosso sofrido e resistente povo palestino! Um filho é fruto do amor entre um pai e uma mãe, por ser assim o curso natural da vida. Mas a bravura, a coragem, a determinação e a resistência são forjadas pelo tempo e pela educação de pais e mães que orientam, acolhem e amam seus filhos desde o ventre e em toda a extensão de suas vidas.
Gaza: cultura de sobrevivência e construção desafiam agressão e “deslocamento”
Ibrahim Al-Nabulsi, mártir com missão cumprida neste plano material, agora será eternamente a marca do nosso orgulho, da nossa dignidade e da nossa honra! Ibrahim Al-Nabulsi não são apenas 100 Ibrahims, porque a sua determinação de mulher e mãe palestina em posição de combate está nos convocando para torná-lo 100 milhões de Ibrahims!
Grandiosa mãe, agora serão milhões de Ibrahims Al-Nabulsi a protestar nas ruas, nas vilas, nas planícies, nas montanhas e em todos os lugares onde existirem seres humanos “que não temem a liberdade!”
Parabéns por essa vitória! SANAÚD**!
Conte com nosso apoio, com nosso carinho e amorosidade, minha irmã e gloriosa mãe Ibrahim Al-Nabulsi!
Elhamdoulilah!”
Notas
* Fátima Sad El Din (slạḥ ạldyn), a beduína Saladina, foi tutora do patrimônio do Shayk Muhammd al-Khalili. Shayk Muhammd al-Khalili – Nascido no primeiro mês muçulmano de Shaban do Hijra do ano 1139, que corresponde ao ano A.D. 1724, era o líder da Irmandade Qadiri Sufi e talvez o “homem santo” mais famoso do seu tempo na Palestina.
** Sanaúd significa “voltaremos”, remetendo ao retorno do povo palestino às suas terras.
*** Centro Islâmico Imam Al Mahdi de Diálogo no Brasil (CIADB). Mesa redonda no Dia Internacional da Mulher 2025: “Qual é o papel e a posição das mulheres muçulmanas na sociedade contemporânea.” AKL, Jamile; FADIA, Hajjah; MIGHDAD, Zeinab; EL KHALILI, Amyra; LOPES, Michelle Belotto (Zahra). 08 de Março de 2025 às 18:30hs. São Paulo (Brasil).
Referências bibliográficas
Marín, MARINA HOYOS. Contra a revitimização jornalística das mulheres palestinas. El Salto. Publicado em 7 abr 2024. https://www.elsaltodiario.com/palestina/revictimizacion-periodistica-mujeres-palestinas
INSTITUTO SALAM. A primeira rodada de conversas entre mulheres iranianas e brasileiras: O papel da resistência das mulheres palestinas no despertar do movimento de resistência no mundo. Teerã, Irã. Canal Salam no YouTube. Disponível em 18 de dezembro de 2024.
Acesse os vídeos do evento na íntegra, publicados no Facebook aqui e aqui.