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ToggleOs resultados da eleição no México têm gerado esperanças entre os compatriotas residentes nos Estados Unidos e expectativas de que o próximo governo continuará a transformação, agora incorporando a comunidade transnacional mexicana que reside e trabalha nos Estados Unidos.
Adelina Nicholls, diretora da Aliança Latina pelos Direitos Humanos da Geórgia, considerou em entrevista ao La Jornada que “para nós aqui no exterior, a vitória de Claudia Sheinbaum como a primeira presidenta é histórica e abre oportunidades para muitas. Ela é a primeira mandatária não só nos últimos 200 anos, mas desde os tempos pré-hispânicos… Para todas nós, é uma reivindicação, representa a necessidade das mudanças que vêm sendo solicitadas e exigidas, a necessidade de nossas mulheres terem igualdade de oportunidades. Estamos muito felizes aqui. E não é só por ser mulher, mas porque é culta, muito comprometida, gente de esquerda, de luta social. E como dizia minha amiga Jacinta, algo que dá para colocar numa camiseta: as mulheres choram, mas também governam”, declarou Nicholls em entrevista ao La Jornada.
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Nicholls foi companheira de luta de Sheinbaum quando eram estudantes, fazendo parte do CEU, “só que ela estava em Ciências, e eu em Ciências Políticas. Mas viemos do mesmo movimento, da mesma universidade e, felizmente, com a mesma convicção”.
A comunidade imigrante mexicana no sul dos Estados Unidos, comenta Nicholls em entrevista de suas oficinas em Atlanta, espera que a nova presidenta atenda, entre outras preocupações, “a reforma de toda a rede consular, que não se adapta às necessidades das comunidades que atende… Não há realmente um entendimento do que é ser migrante, e isso seria fundamental. Também há a questão da fronteira, buscar mecanismos mais humanos… parar os maus-tratos, os abusos, tudo o que está acontecendo nas comunidades”. Ao mesmo tempo, outro tema que requer atenção imediata é ajudar a buscar como superar alguns problemas relacionados à falta de vias para regularizar os indocumentados. “Oxalá ela possa impulsionar um alívio administrativo para muitas pessoas indocumentadas neste país”.
Participação da comunidade nas eleições
Para Gilda Ontiveros, diretora de comunicação da organização nacional Fuerza Migrante, os resultados da eleição não foram surpreendentes, mas o que nos surpreendeu foi o interesse da comunidade mexicana aqui no voto presencial. Indicou em entrevista ao La Jornada em Nova York que era isso que queríamos, como demonstrar a todos, aos partidos políticos, que há realmente um interesse genuíno da comunidade em participar. Apesar disso, a maioria dos que desejavam votar presencialmente não conseguiu, pois a capacidade do INE nos consulados foi superada e isso “demonstra que participar é muito complicado, não? Mas o interesse está aí. Se nos deixassem participar, outra história seria”.
Ao ser perguntada o que gostaria que Sheinbaum fizesse em relação aos imigrantes mexicanos nos Estados Unidos, respondeu que “algo profundo, realmente, é a incorporação da comunidade mexicana residente no exterior dentro do Plano Nacional de Desenvolvimento… que já de início se incorpore essa comunidade que vive no exterior dentro desse plano nacional”.
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Detalhou que isso poderia abordar “mecanismos de co-investimento que substituíssem o programa três por um, a questão da integração de direitos políticos da comunidade mexicana que reside no exterior dentro da reforma eleitoral que será apresentada e, logicamente, o fortalecimento da rede consular e do serviço exterior de carreira”.
Falta entendimento entre os dois lados da fronteira
Líderes da comunidade mexicana nos Estados Unidos concordaram que os políticos no México ainda não entendem a relação com os compatriotas deste lado da fronteira. Artemio Arreola, diretor político da Coalizão em Illinois para os Migrantes e os Direitos dos Refugiados e líder da Federação de Clubes de Michoacán e Casa Michoacán, apontou que chegou a este país no final dos anos 1980 e que, neste sexênio, a comunidade mexicana nos Estados Unidos teve menos contato com o presidente do México.
No nosso país, não se entende bem o “quebra-cabeça” da relação com a comunidade no exterior, comentou de Chicago. “Fala-se muito dos 60 bilhões de dólares em remessas, que é muito e ajuda lá, mas não se compara aos 3,4 trilhões de dólares do poder de compra. Não é o gringo que paga a maioria dos produtos e serviços que o México exporta, somos nós, são nossas comunidades, temos um poder de compra, e se não compramos mais é porque lá não se organizaram para que nós compremos mais do que o México exporta por nostalgia e de uma maneira estratégica”.
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Em Chicago e outras cidades, nessas eleições “ficou claro que os mexicanos no exterior querem votar”. Indicou que, apesar da frustração de milhares que não puderam emitir seus votos presenciais nos consulados, porque esgotaram os sistemas do INE, crê que “isso é uma medição da vontade de que, sim, queremos votar. Menciono isso porque espero que chegue a reforma política e que se garantam todas as facilidades para que votemos, e se concretize a representação dos mexicanos no exterior nas câmaras de Deputados e Senadores”.
Arreola, que afirmou ter votado “em Andrés Manuel López Obrador na última vez e nesta ocasião não votei e até lutei com a oposição, afirmou que o resultado é histórico e é bom termos uma mulher presidente no México. Sendo honesto, não esperava uma vitória tão ampla”.
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Sublinhou: “Espero que possam, com este grande poder que o povo lhes deu, impulsionar uma agenda a longo prazo e de benefício para todos. Pensando em que se necessita do próximo governo, uma coisa – tenho quinze – seria uma política de Estado que atenda tudo que tem a ver com migração, desde as oportunidades, até os desafios e problemas que vivemos fora do país, os que ficam lá, e nossas novas gerações, como também os que passam pelo México. É importante que exista uma instituição que aglutine tudo e que coordene com todas as dependências do governo, além dos governos estaduais e municipais. Isso é uma política de Estado com programas e orçamentos para que transformem esta política em uma realidade”.
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