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Claudia Sheinbaum durante ato na Cidade do México neste domingo, 9 de março (Foto: Reprodução / Facebook)

México: ato de Sheinbaum ratifica unidade nacional, rejeita neoliberalismo e desafia Trump

As 350 mil pessoas reunidas para ouvir Claudia Sheinbaum mostram que, no México, os EUA não enfrentam apenas o governo, mas uma sociedade coesa e mobilizada
Redação La Jornada
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

Guilherme Ribeiro

A presidente Claudia Sheinbaum Pardo dirigiu-se neste domingo (9) às 350 mil pessoas reunidas no Zócalo (a Praça de Constituição) da Cidade do México para ouvir sua mensagem à nação sobre as tarifas que Donald Trump ameaçou impor desde seu primeiro dia de retorno à Casa Branca.

A mandatária fez um relato das ações tomadas por ela e seus colaboradores com o objetivo de neutralizar essa ameaça, destacando que a próxima revisão de medidas em 2 de abril deveria levar ao encerramento definitivo deste episódio, entendendo que os dois maiores parceiros comerciais do planeta não têm razões para estabelecer tarifas quando seus intercâmbios são regulados pelo tratado ao qual o próprio Trump deu seu aval em seu primeiro período presidencial.

Além da informação precisa fornecida à cidadania pela mandatária, o ato realizado no coração do país foi uma contundente confirmação do momento de unidade nacional que o México vive e da inédita sintonia entre governantes e governados: enquanto a mandatária ratificou seu compromisso de sempre colocar acima de tudo o respeito ao amado povo mexicano e sua bendita nação, esse povo reiterou sem rodeios a confiança depositada nela para defender a soberania e a dignidade diante dos embates que não só vêm de Washington, mas também de outras latitudes onde as classes políticas e empresariais resistem a deixar para trás a mentalidade colonial.

 

A líder da Quarta Transformação não falou de um suposto vazio ideológico nem de um patriotismo conservador que muitas vezes foi usado por demagogos para confundir os interesses oligárquicos com o bem comum. Pelo contrário, aproveitou o encontro para rejeitar o retorno do neoliberalismo que tanto enfraqueceu o México e insistir que a economia se fortalecerá a partir do que denominou humanismo mexicano, por meio da dignificação do salário mínimo, da autossuficiência energética, do investimento público, do reforço dos programas sociais, da reconstrução da rede ferroviária de passageiros e da construção de um milhão de moradias, entre outras medidas.

Donald Trump fará bem em ouvir a mensagem que lhe foi enviada do Zócalo: no México, ele não enfrenta apenas o governo, mas uma sociedade coesa e mobilizada, decidida a repelir qualquer chantagem e a fechar fileiras contra o intervencionismo.

A unidade interna é uma das cartas mais fortes do México para enfrentar as ameaças de Trump e, após os eventos de ontem, essa fortaleza parece inexpugnável (Foto: Reprodução / Facebook)

Neste aspecto, o país apresenta um marcado e positivo contraste com a instabilidade que sofrem os aliados tradicionais de Washington, agora obrigados a assumir a realidade do trumpismo: no Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau atua como encarregado de despacho desde que foi obrigado a apresentar sua renúncia em janeiro passado para evitar uma moção de censura. Seu correligionário Mark Carney o substituirá dentro de alguns dias de forma provisória até que sejam realizadas eleições nas quais seu partido chega com uma desvantagem que parece intransponível. Na França, a democracia está suspensa porque o presidente Emmanuel Macron nomeou dois primeiros-ministros de direita, quando sua obrigação era selecionar um premier da coalizão de esquerda vencedora nas eleições. A gestão do mandatário é reprovada por sete em cada 10 franceses, e em janeiro chegou perto de 80% de rejeição, a segunda pior cifra na história da França. Na Alemanha, Olaf Scholz sofreu uma estrondosa derrota nas eleições antecipadas que foi forçado a convocar, e só continuará no cargo enquanto o vencedor completa os acordos parlamentares que lhe permitam formar governo.

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Sem dúvida, a unidade interna é uma das cartas mais fortes do México para enfrentar as ameaças de Trump e, após os eventos de ontem, essa fortaleza parece inexpugnável. Podemos confiar que as autoridades e a cidadania saberão usar essa vantagem para fazer valer os interesses nacionais em um clima de respeito com seus parceiros estadunidenses e o resto da comunidade internacional.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Redação La Jornada

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