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Neftaly López: Arévalo perdeu credibilidade e pode manifestações contra o governo nos próximos meses (Foto: Reprodução / Facebook)

Miséria, benefícios a empresários, apoio ao sionismo: o saldo de Arévalo na Guatemala

Em entrevista, o dirigente guatemalteco Neftaly López faz um balanço dos efeitos de Arévalo deste agosto de 2023 e denuncia: "não passa de um governo neoliberal"
Zeus Naya
Prensa Latina
Cidade da Guatemala

Tradução:

Ana Corbisier

Bernardo Arévalo foi eleito presidente da Guatemala em 20 de outubro de 2023. Ao longo desse período, pouco mais de um ano, os avanços de seu governo “se dirigiram aos setores economicamente poderosos”, afirma o dirigente guatemalteco Neftaly López, do Comitê de Desenvolvimento Camponês (Codeca), em declarações exclusivas à Prensa Latina.

Segundo López, o país e a administração atual dispõem de um orçamento, o mais alto da história, que chega a 148,5 bilhões de quetzales (cerca de 19 bilhões de dólares). “Nunca na história nacional isso havia ocorrido”, destaca o analista, reforçando que a política do Executivo busca satisfazer necessidades e demandas do setor empresarial.

Como exemplo, há esforços e propostas para privatizar os portos e o aeroporto internacional La Aurora, na capital, e ainda mecanismos para alcançar as estradas e a água, entre outros. Além disso, existe um plano para aprovar o funcionamento de muitas mineradoras em todo o território centro-americano, fortalecendo assim o extrativismo (a exploração dos recursos naturais).

López também menciona políticas que estão sendo projetadas com o propósito de atender às necessidades do setor de monoculturas: fazendeiros, produtores de cana-de-açúcar, palma africana, borracha, banana e café. “Todos esses são projetos nocivos para o país, porque não trazem nenhum benefício”, observa o coordenador de movimentos sociais e camponeses.

No âmbito social, no entanto, não houve avanços. Pelo contrário, o custo de vida aumentou e os salários mal são suficientes. “O Governo, na realidade, tirou a máscara desde que passou a anunciar uma tendência vinculada à social-democracia, mas não passa de um governo neoliberal”, asseverou López.

Âmbito internacional

Para o entrevistado — candidato à vice-presidência nas eleições de 2019 pelo Movimento para a Libertação dos Povos (MLP, então braço político do Codeca) —, a Guatemala e seu Governo vêm promovendo o sionismo ao apoiar abertamente o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a quem expressa sua solidariedade. Além disso, em relação à guerra na Ucrânia, Arévalo respalda Volodymyr Zelensky, na contramão da visão da população.

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Procuradoria e Supremo

Com relação à promessa do Executivo de Arévalo de remover a procuradora-geral da nação, Consuelo Porras, o especialista descarta que exista algo concreto: “Teve a possibilidade, as condições para pedir a renúncia e, inclusive, mecanismos legais para destituí-la. No entanto, não o fez”.

Em consequência, a também titular do Ministério Público se fortaleceu, ganhou mais poder e vem desenvolvendo uma série de atividades nas municipalidades, fazendo lobby. O presidente da Associação de Prefeitos da Guatemala, Sebastián Siero, colocado pelo Governo, agora é o promotor e facilitador desses encontros com a procuradora-geral.

No área do Supremo guatemalteco, o analista explica que o pacto de corruptos se fortalece: “tiveram uma participação muito importante na eleição de magistrados da Corte Suprema de Justiça e da Corte de Constitucionalidade”.

Em 2026, há eleições para magistrados do Tribunal Supremo Eleitoral, havendo já fortes indícios de que o grupo continuará presente na justiça. Por outro lado, há negociações com a embaixada dos Estados Unidos, que praticamente sustenta esta administração: “um panorama sombrio”, alerta López.

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Há eleições muito importantes a caminho, como as reitorias de certas universidades, especialmente a de San Carlos de Guatemala, o que tem grande impacto na nomeação de magistrados e, claro, das cortes. Além disso, espera-se que, com isso, continuem mantendo controle para frear todos os processos anticorrupção.

Por isso mesmo, esse flagelo aumentou, há pessoas no próprio Executivo que se corromperam. O mais notório – afirma López – é que os deputados atribuíram a si mesmos um aumento salarial consideravelmente alto. A situação gerou indignação na população, que já começa a manifestar descontentamento e a afirmar que se sente traída em relação a todas as promessas feitas pelo Governo.

Por essa razão, Arévalo perdeu credibilidade e estima-se que nos próximos meses ocorram novas manifestações sociais e mobilizações para repudiar a atitude do Governo e o aumento salarial, adverte o entrevistado.

Demandas sociais

A administração do país e os deputados deixaram de lado as grandes demandas sociais, como o acesso à terra, à educação e à saúde. A alimentação nas escolas tem sido altamente questionada pelas mães e pais de família, que demonstram insatisfação por terem que ir cozinhar nesses centros.

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Já na saúde, argumenta López, há precariedades, desabastecimento, falta de especialistas. Os salários dos funcionários do setor são miseráveis, os médicos ganham muito pouco, enquanto, para outras áreas, os salários sobem.

Na questão alimentar, há escassez, e prova disso é que a desnutrição continua, com um percentual superior a 50% das crianças de zero a cinco anos. Faltam também moradias e as estradas estão em más condições, enquanto o governo ignora os despejos e são registrados casos de violência em conflitos sociais.

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Assim, seguem pendentes na agenda as questões que o mandatário divulgou e com as quais se comprometeu. Foram esquecidas, provavelmente engavetadas, enquanto prevalecem os interesses dos setores poderosos da Guatemala, conclui o dirigente.

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Zeus Naya

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