O uso de mísseis Atacms pela Ucrânia não muda profundamente o front do ponto de vista militar, só contribui para a escalada, além de preparar, para Donald Trump, um fracasso após a posse. É o que explica à Sputnik Michael Maloof, ex-analista principal de política de segurança no Departamento de Defesa dos EUA.
Estes mísseis têm um alcance de mais de 200 km, que é similar ou inferior ao que já podem voar os drones ucranianos. Isto torna a decisão de Biden um ato de “escalada desnecessária”, segundo o analista.
“Os Atacms necessitam da assistência da Otan por questões de informação necessária para possibilitar o voo do míssil. Portanto, isso implica necessariamente a participação da aliança”, informou Maloof.
Segundo o especialista, pode haver só uma razão para tal movimento por parte da administração estadunidense, e parece ser política. Ao permitir que a Ucrânia utilize Atacms em ataques contra o território russo, Biden está responsabilizando Trump pelo fracasso ucraniano se a nova administração não respaldar esta decisão, asseverou Maloof.
“Se este for o caso, Biden basicamente está preparando Trump para o fracasso. Quando uma administração que está saindo faz isso para uma que está entrando, é uma armadilha. E deveriam ser condenados por isso”, disse a Sputnik.
Maloof acrescenta que a decisão de Biden só levará a uma intensificação dos ataques russos contra as infraestruturas e os arsenais ucranianos, para obrigar Kiev a buscar a paz.
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“A guerra está essencialmente perdida para os ucranianos. Só que ainda não o reconheceram. E a Rússia mostrou-se realmente moderada na hora de aplicar a marreta”, afirmou.
Biden aprovou o uso por parte do Exército ucraniano de mísseis Atacms de fabricação estadunidense para ajudar a defender as debilitadas posições nos territórios controlados pela Ucrânia na região russa de Kursk, publicou o jornal New York Times em 17 de novembro, citando informações de funcionários estadunidenses.
A polêmica sobre o uso de mísseis de longo alcance por parte de Kiev foi desencadeada pela primeira vez em setembro. No entanto, a advertência do mandatário russo, Vladimir Putin, sobre as implicações da Otan nesta decisão, até então, parecia ter influenciado os planos da aliança sobre o assunto, pois o bloco recuou publicamente do plano no final deste mesmo mês.