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Número de crianças migrantes e refugiadas no mundo sobe 26% aponta Unesco

Crescimento ocorreu sobre o número do ano 2000. Total de crianças poderia encher meio milhão de salas de aula, segundo relatório da Unesco.
Thais Sousa
ANBA / Agência de Notícias Brasil-Árabe

Tradução:

O número de crianças migrantes e em situação de refúgio poderia preencher meio milhão de salas de aula. O dado foi divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na última quarta-feira (21). Segundo a entidade, na prática isso significa um aumento 26% no número de crianças em idade escolar nestas condições, comparando aos dados de 2000. Em nota, a Unesco informou que desde a assinatura da Declaração de Nova York para Refugiados e Migrantes, em 2016, refugiados em todo o mundo já perderam, somados, 1,5 bilhão de dias de aula.

Os dados são fruto do Relatório de Monitoramento Global da Educação da Unesco de 2019 (Relatório GEM), batizado de “Migração, deslocamento e educação: construir pontes, não muros”. O objetivo do estudo é apontar realizações e os desafios dos países para assegurar o direito das crianças migrantes e refugiadas a educação de qualidade. “Aprender não é um luxo. Todos perdem quando a educação de migrantes e refugiados é ignorada. A educação é a chave para a inclusão e a coesão. É o melhor caminho para tornar as comunidades mais fortes e mais resilientes”, disse a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay em nota divulgada pela instituição.

Crescimento ocorreu sobre o número do ano 2000. Total de crianças poderia encher meio milhão de salas de aula, segundo relatório da Unesco.

Unicef / Romenzi
Meninas fazem lição de casa em frente a tenda em campo de refugiados sírios no oeste de Erbil, no Iraque. Foto: UNICEF/Romenzi

Outro dado importante apontado é que aqueles que emigram são mais instruídos que aqueles que são deixados para trás. O Relatório GEM calcula que o que chama de “evasão de cérebros” chega a uma em cada 12 pessoas altamente qualificadas da América Latina. A Guiana, por exemplo, perdeu 78% de seus trabalhadores qualificados para a emigração. O GEM cita, ainda, iniciativa brasileira que encorajou o intercâmbio de pessoas qualificadas. “O programa Ciência sem Fronteiras, que financiou milhares de estudantes de nível superior para estudarem em mais de 40 países, com foco em disciplinas essenciais para o crescimento do Brasil”, afirma.

Entre as questões abordadas está a educação como forma de barrar o extremismo e a violência. Segundo o relatório, embora os ataques cometidos por estrangeiros representem uma fração dos cometidos por nativos, a opinião pública de países de renda alta atribui “demasiada ênfase ao contrário, associando migração com terrorismo”.

Para a Unesco, a educação pode servir de “amortecedor” contra a radicalização. “Com frequência, os extremistas violentos veem a educação como uma ameaça e atacam as escolas, como fez o Boko Haram, na Nigéria. A exclusão dos benefícios da educação é igualmente nociva. Em oito países árabes, o desemprego aumentou a probabilidade de radicalização entre pessoas com maior escolaridade cujas expectativas de desenvolvimento econômico não foram concretizadas”, pontuou o GEM. Dentro do combate ao extremismo violento, a Unesco frisa que a educação deve ser sensível ao gênero e incluir mulheres e meninas.

Migração de docentes

Na abordagem sobre a migração de docentes, a Unesco pontua a barreira linguística como uma das dificuldades. “Uma vez que a regulamentação das qualificações de docentes muitas vezes diz respeito às habilidades com a língua, muitos dos maiores fluxos ocorrem entre países com convergências culturais e linguísticas”. Entre eles, o estudo cita os docentes do Egito e de outros países árabes que, atraídos por salários mais altos, ajudaram a melhorar os sistemas educacionais nos países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC). Contudo, outra mudança na educação dos países é a substituição do árabe pelo inglês como língua de instrução. Segundo a Unesco, isso contribui para que candidatos anglófonos estejam substituindo os docentes egípcios e jordanianos.

No processo atual de migração, o relatório aponta que 3,4% da população mundial já era composta por migrantes internacionais, em 2017, totalizando 258 milhões de pessoas. Cerca de 64% deles estavam em países de renda alta. Nestes, a porcentagem de imigrantes como parcela da população foi impulsionada de 10%, em 2000, para 14%, em 2017.

Em muitos países do Golfo, como Catar, Emirados Árabes Unidos e Kuwait, os imigrantes são o grupo majoritário. Entre grandes corredores migratório estão do Sul da Ásia para os países do Golfo, do Norte da África e para o Sul da Europa, e da Europa Oriental para a Ocidental, indicou o GEM. O estudo estima que em 80% das escolas secundárias nos países de renda alta, pelo menos 5% dos estudantes têm antecedentes imigrantes e, em 52%, pelo menos 15% os têm.

*Revisão e edição: João Baptista Pimentel Neto


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Thais Sousa

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