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Longas geadas, curtos degelos: qual o futuro das relações entre Índia e Paquistão?

A intermediação externa não será solicitada já que a posição da Índia é a rejeição de quaisquer intermediários nas relações com o Paquistão
Anastasiya Petrushina
Sputnik Brasil

Tradução:

Enquanto o mundo observava as conversações entre Donald Trump e Kim Jong-un para diminuir o risco de uma guerra nuclear na região, de repente se agravou o conflito entre outros países que dizem possuir armas nucleares, a Índia e o Paquistão.

O agravamento do conflito antigo se desencadeou desde 14 de fevereiro, quando em um ataque suicida foram mortos 45 funcionários dos serviços especiais indianos na região de Caxemira. A responsabilidade pelo ataque foi reivindicada por um grupo islamista que opera na região.

Em seguida, a Índia atacou posições desse grupo no território paquistanês, ao que a Força Aérea do Paquistão respondeu atacando instalações militares indianas. Nova Deli e Islamabad anunciaram também a derrubada de aviões um do outro durante combates aéreos.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista em assuntos da Ásia Meridional e professor do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou (MGIMO), Sergei Lunev, comentou sobre se a situação poderia alastrar para além da região, se outros países poderiam se envolver no conflito e, afinal, se uma guerra nuclear seria possível.

O analista indicou que quando organizações terroristas relacionadas ao Paquistão atacam a Índia, Nova Deli reage sempre de forma dura, cessando, entretanto, quaisquer interações com Islamabad em todas as áreas principais.

A intermediação externa não será solicitada já que a posição da Índia é a rejeição de quaisquer intermediários nas relações com o Paquistão

Sputnik News Brasil
"Se é para criticar alguma força externa sobre o conflito, só se pode criticar o Reino Unido"

Sendo assim, Sergei Lunev prognostica que as relações entre os dois países permaneceriam bastante complicadas por um período bem prolongado.

“Desde 1947, toda a história das relações indo-paquistanesas são 'longas geadas' e 'curtos degelos'. É assim que vai continuar”, apontou

Quando perguntado se o conflito pode alastrar para além dos dois países, Lunev apontou que nem Nova Deli, nem Islamabad, necessitam dos “serviços de outros”.

“Os atores exteriores podem relaxar, seus serviços não serão solicitados por ninguém. A posição intransigente da Índia é a rejeição de quaisquer intermediários nas relações com o Paquistão”, afirmou. O analista recordou que ao longo de toda a história houve somente um caso em que a Índia recorreu à ajuda de outros no conflito com o Paquistão, quando solicitou em 1966 a intermediação da URSS.

Sergei Lunev frisou que o problema fundamental do conflito indo-paquistanês não é a Caxemira. A causa principal, segundo ele, são motivos religiosos que resultaram da divisão histórica dos territórios da Índia e do Paquistão.

“Se é para criticar alguma força externa sobre o conflito, só se pode criticar o Reino Unido. Aquilo que ocorre agora é tudo consequência de 1947, da divisão da Índia Britânica em duas partes […] pelo pior esquema possível, usando como fator a religião”, indicou.

Como as disputas religiosas são difíceis de regular, acrescentou ele, uma normalização na região nas próximas décadas é pouco provável.

O analista excluiu a probabilidade de uma guerra em grande escala entre a Índia e o Paquistão, especialmente uma guerra nuclear. Segundo ele, a consciência de ambos os lados seria suficiente para evitá-la.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Anastasiya Petrushina

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