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As eleições de 2020 nos Estados Unidos entre duas palavras: fascismo e socialismo

É importante sublinhar que o “socialismo” neste contexto se refere mais ao tipo praticado por social democratas em países europeus
David Brooks
La Jornada
Washington

Tradução:

Como jornalistas dedicados a reportar sobre os Estados Unidos, há duas palavras que até pouco tempo nunca imaginamos necessitar para relatar a conjuntura neste país: fascismo e socialismo.

Embora já tínhamos comentado anteriormente, vale repeti-lo agora ao começar o longo caminho para as eleições de 2020, já que essas duas palavras – e continua sendo assombroso dizê-lo – definirão de alguma maneira o que está vindo.

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Por um lado, com o bufão perigoso na Casa Branca expressa-se um tipo de “neofascismo”: a tomada do poder por uma figura populista direitista promovida por um setor retrógrado da cúpula econômica do país, que emprega o racismo e a xenofobia para nutrir o temor e o ódio e que convida os setores, sobretudo brancos, assustados com as mudanças em seu país, a um glorioso passado que nunca existiu. Ao mesmo tempo, busca minar a credibilidade das instituições, dos meios não leais e de qualquer opositor, acusando-os de ser “inimigos do povo” ou parte do complô de um “estado profundo”.

Talvez o mais arrepiante da declaração de Michael Cohen, o ex-advogado pessoal de Trump que denunciou durante horas o comportamento criminoso de seu ex-chefe perante o Congresso na semana passada, foi o final, em que afirmou que “dada minha experiência trabalhando para o Sr. Trump, temo que se ele perder a eleição em 2020, nunca haverá uma transição pacífica do poder, e é por isso que aceitei me apresentar a vocês hoje”.

É importante sublinhar que o “socialismo” neste contexto se refere mais ao tipo praticado por social democratas em países europeus

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Para derrotar “o presidente mais perigoso da era moderna” e resgatar os princípios e os avanços democráticos

John Dean, que foi advogado de Richard Nixon e testemunhou contra ele ante o Congresso, adverte, em um artigo no New York Times, que Trump é o primeiro presidente “autoritário” depois de seu ex-chefe e sublinhou o que disse Cohen.

Ou seja, estão alertando que o atual presidente poderia recusar pela primeira vez desde a Guerra Civil a transição pacífica do poder político, pilar fundamental da democracia estadunidense.

A outra palavra, socialismo, renasceu – depois de ser uma palavra quase proibida ou como identificação de um inimigo histórico – como antídoto a estas tendências neofacistas. De repente, ser “socialista” está na moda, principalmente entre os jovens. Duas das figuras políticas mais influentes e com maior presença popular neste país se identificam como “socialistas democráticos”: o senador Bernie Sanders que acaba de estrear sua segunda campanha aos 77 anos de idade, e a legisladora novata Alexandria Ocasio-Cortez, com seus 29 anos de idade, a mulher mais jovem a chegar ao Congresso.

É importante sublinhar que o “socialismo” neste contexto se refere mais ao tipo praticado por social democratas em países europeus. Não propõem o fim do capitalismo, mas uma série de reformas fundamentais para fortalecer o sistema de bem-estar social para as maiorias, denunciar a concentração de riqueza e de poder político “do 1%” e estabelecer maior “justiça política, econômica, racial e ambiental”.

Agora, no arranque da contenda presidencial de 2020, tudo indica que grande parte da batalha girará em torno a estas duas palavras.

Os republicanos já decidiram que sua estratégia é pintar de vermelho os democratas, Trump declarou na semana passada diante de uma organização conservadora que “o socialismo se trata apenas de uma coisa: chama-se poder para a classe governante. Todos estamos aqui hoje porque sabemos que o futuro não pertence àqueles que creem no socialismo… cremos no sonho americano, não no pesadelo socialista”.

Seu vice-presidente, Mike Pence, usou o mesmo roteiro: “a decisão que enfrentamos hoje… é entre a liberdade e o socialismo… no momento em que a América se torne um país socialista é o dia em que América deixa de ser América”.

Sanders e seus aliados nunca dizem que sua luta é pelo “socialismo”, mas afirmam que é para derrotar “o presidente mais perigoso da era moderna” e resgatar os princípios e os avanços democráticos deste país, o fruto de suas grandes lutas trabalhistas, de direitos civis e anti-guerra, e agora, pelo futuro ambiental do planeta.  

Talvez seja o momento, entre estas duas palavras de traduzir Bella Ciao ao inglês.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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