As múltiplas investigações legislativas e por fiscais federais sobre Donald Trump e companhia se desenvolvem cada vez mais como as que são realizadas contra o crime organizado: investigadores especializados sobre máfias e delitos financeiros de “colarinho branco” se integram às pesquisas, se procura “implicar” ex-sócios, examina-se o papel das famílias, segue-se a pista do dinheiro suspeito e não podia faltar o assunto de escândalos sexuais – neste caso uma estrela pornográfica – e isto só vai se intensificar durante esta segunda metade de uma presidência que cada vez mais está sob suspeita de corrupção, obstrução de justiça e abuso de poder.
O Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes, encabeçado pelo democrata Adam Schiff, anunciou que entre os investigadores que está contratando para as pesquisas sobre Trump e seus nexos empresariais e financeiros no exterior está Daniel Goldman, que foi subdiretor da unidade sobre crime organizado da promotoria federal do distrito sul em Nova York e supervisionou casos contra as máfias russas.
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Mas esse comitê é só um de pelo menos seis na câmara baixa, agora sob controle democrata, que estão realizando investigações. O Comitê Judicial anunciou na segunda-feira que enviou solicitações de documentos para 81 pessoas e entidades relacionadas com todos os âmbitos da vida de Trump, desde o início de sua presidência, sua equipe de transição, sua campanha, seus negócios e sua vida pessoal. Entre os que estão nessa lista se encontram os dois filhos mais velhos do presidente (embora não, por agora, sua filha Ivanka) e seu genro e assessor presidencial Jared Kushner, como vários de seus amigos e funcionários.
O presidente desse comitê, Jerrold Nadler, informou que é o início de uma investigação de possível corrupção, abuso de poder e obstrução de justiça pelo presidente. Afirmou que “ao longo dos últimos anos, o Presidente Trump tem evadido a prestação de contas por seus ataques quase diários contra nossas regras e normas legais, éticas e constitucionais. Investigar estas ameaças ao império de lei é uma obrigação do Congresso…”
Esse mesmo comitê é que se encarregaria, no início, de elaborar as acusações para impulsionar um processo de julgamento político (impeachment), e isso é exatamente o que acusaram vários republicanos, que argumentaram que tudo isso está politicamente motivado e nada mais é que a arrancada das eleições de 2020.
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Trump tem evadido a prestação de contas por seus ataques quase diários contra nossas regras e normas legais, éticas e constitucionais
Por outro lado, o Comitê de Supervisão e Reforma, perante o qual compareceu na semana passada Michael Cohen, o ex-advogado pessoal de Trump que denunciou o comportamento criminoso de seu ex-chefe, também está investigando um amplo leque da vida de Trump e de seus sócios durante seu tempo na Casa Branca.
Por sua vez, os chefes dos comitês de Inteligência, Supervisão e Assuntos Exteriores solicitaram formalmente detalhes sobre as conversações privadas, pessoais e por telefone, entre Trump e Vladimir Putin.
Os deputados democratas também estão por solicitar as misteriosas declarações de impostos de Trump que nunca as divulgou.
Enquanto isso, todos aguardam a conclusão da investigação encabeçada pelo promotor especial Robert Mueller sobre a influência russa e possível colusão com a campanha e sócios de Trump durante as eleições de 2016, e possível obstrução de justiça pelo presidente e sua equipe, algo que se acredita iminente.
Ao mesmo tempo, prossegue uma investigação por promotores federais em Nova York sobre os negócios de Trump e sua família e possíveis violações de leis sobre financiamento de campanhas – o que inclui o caso dos pagamentos em troca de silencio, durante a contenda de 2016, à atriz pornográfica Stormy Daniels. Entre os primeiros resultados dessa pesquisa está a obtenção da declaração de culpabilidade em várias acusações do ex-advogado Michael Cohen que está por cumprir sua condenação a 3 anos de prisão.
Trump denunciou tudo isso, reiterando em tuites que “a caçada às bruxas continua”, que isto é uma campanha de “fustigamento presidencial”, e que tudo se trata de que “basicamente iniciaram a campanha” para a pugna eleitoral de 2020. Enquanto isso, a Casa Branca está ampliando sua equipe legal, em momentos em que sua equipe de estratégia política se prepara para enfrentar a ofensiva democrata.
Alguns observadores temem que isso fará um Trump cada vez mais encurralado.
*Publicado originalmente em La Jornada-México
Tradução: Beatriz Cannabrava