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Guerra contra a Síria: centenas de milhares de vítimas e US$ 550 bi para destruir um país

Nunca antes uma nação no Oriente Médio havia estado submetida a uma guerra de tal magnitude, que visa desmembrar o mais significativo Estado secular da região
Pedro García Hernández
Prensa Latina

Tradução:

Depois do projeto das chamadas Primaveras Árabes, Estados Unidos, França, Reino Unido e as monarquias regionais dos petrodólares promoveram, estimularam e financiaram, a partir dos centro de poder ocidentais e seus aliados regionais, uma agressão feroz que tem custado centenas de milhares de vítimas, cerca de 500 bilhões de dólares em perdas econômicas e o deslocamento para o exterior e para o interior do país de quase nove milhões de sírios.

A partir das fronteiras norte, leste e sul não menos de 120 mil integrantes de grupos penetraram em direção às minas de fosfatos e recursos minerais, e campos e petróleo e gás das províncias sírias de Raqqa, Deir Ezzor e Homs, assediaram Damasco e promoveram o caos e o terror com sequestros, atentados suicidas e a destruição de centenas de postos de saúde, mais de seis mil instalações docentes e o saque e destruição de aproximadamente 10 mil instalações industriais. 

Nunca antes uma nação no Oriente Médio havia estado submetida a uma guerra de tal magnitude, destinada a desmembrar o mais significativo Estado secular e laico que, com mais virtudes que defeitos, conseguia a convivência social e de base confessional das diversas tendências muçulmanas, cristãs e judaicas, ou das tribos de beduínos, curdos e palestinos disseminadas por todo o território nacional.

Desde antes de fins de 2011, quando a inquietante voracidade desses objetivos se fez realidade, os Estados Unidos, a União Europeia e os aliados regionais estabeleceram um bloqueio que incluía a proibição total de programas de ajuda concertados anteriormente, o congelamento de fundos de todo tipo, o fim de qualquer investimento e uma lista de sanções de mais de 100 personalidades e dirigentes sírios, e 72 empresas.

Apesar de tudo, na atualidade a Síria estabiliza os desafios que representam a reconstrução, a diminuição do efeito das sanções e do bloqueio econômico, ao qual se agregam campanhas midiáticas nunca antes vistas contra uma nação soberana e o fechamento do acesso a satélites de comunicação e vias de transporte marítimo e aéreo, entre outras.

Antecendentes

A partir de 1990, com uma ampla diversificação dos setores, a Síria alcançou uma média de crescimento anual de 12 por cento, mantinha a inflação inferior a dois por cento e tratava de compensar o déficit entre exportação (12 bilhões e 660 milhões de dólares) e importação (13 bilhões e 810 milhões de dólares), segundo dados de 2011, com uma maior produção de artigos e a ampliação de novos mercados.

Mais de 20 mil instalações industriais, tanto do setor público como do privado, fortaleciam a produção de setores chaves como o têxtil,  o farmacêutico, de alimentos e insumos para a construção e a agricultura, que representavam em total 58 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).

As zonas industriais de Damasco, Alepo, Homs e Hama funcionavam com novos planos de desenvolvimento e eram incentivadas a produção agrícola cooperativa e individual, as oficinas de artesanato tradicional e no setor de serviços, o turismo, que em 2010, último ano computado, chegou a receber oito milhões e 234 mil visitantes. 

Da mesma forma, a Companhia Síria de Petróleo produzia 387 mil barris diários, 100 mil com empresas mistas ocidentais, Shell e Total, e mantinha em funcionamento oleodutos e gasodutos como os denominados A 15, A 26 e A 36 para o transporte de combustível do Iraque, em direção às refinarias nacionais de Banias, na costa mediterrânea e Homs, no centro do país.

Tal setor econômico estava se estabilizando nas maiores produtoras provinciais de combustível e minérios como Raqqa, Deir Ezzor, Hasaka e Homs, no norte sírio e nas quais a produção agrícola era de importância nacional. 

Síria não era uma grande produtora de petróleo, mas sim o ponto geográfico chave para o transporte de combustível da Ásia Menor para o mar Mediterrâneo e para a Europa e, por outro lado, fortalecia o sistema energético com a utilização do gás como gerador de eletricidade, cuja capacidade lhe permitia fornecer sem restrições para o Líbano e para a Jordânia. 

Por outro lado, a nação contava com o abastecimento próprio de quase cem por cento de alimentos, produtos farmacêuticos e têxteis, e facilitava que 75 por cento das comunidades rurais alcançasse esse sistema. 

Panorama atual

Mas os perturbadores conceitos intervencionistas dos centros de poder ocidental e seus aliados, opacaram qualquer dos antecedentes expostos e seus principais objetivos foram dirigidos a destruir sistematicamente a infraestrutura do país por meio de uma guerra terrorista imposta, e os pretextos para estimular e superdimensionar diferenças de base religiosa e a divisão étnica, política e social.

Junto ao arrasamento de milhares de instalações industriais, o saque de outras tantas e as destruição de mais de uma centena de postos de saúde e seis mil escolas de diversos níveis de ensino, pretendeu-se não apenas desmantelar o país mas também causar o seu desmembramento, e aniquilar os preceitos de nacionalidade, soberania e independência.

Nesse sentido, o presidente Bashar Al Assad pronunciava em 2013 palavras que ainda têm vigência: ‘A política não depende do amor ou do ódio, mas sim dos interesses’, o que responde de maneira realista aos pressupostos hegemônicos e intervencionistas dos Estados Unidos e dos antigos impérios coloniais do Reino Unido e da França, entre outros. 

Além do mais, a Síria necessita do retorno de milhões de deslocados, garantir-lhes trabalho e subsistência e tal tema está incluído na reconstrução deste país do Levante, desafios nos quais se trabalha intensamente depois de desalojar os grupos terroristas de mais de 90 por cento do território nacional. 

Atualmente, os sinais de recuperação são visíveis nas cidades industriais de Damasco, Homs, Aleppo e Hama, nas quais funcionam novamente 11 mil e 400 instalações que produziram no último ano 340 milhões de dólares e reportaram ganhos de 50 milhões, cifras que devem subir na atual etapa após os convênios a esse respeito firmados e em execução com a Rússia e o Irã, entre outras nações. 

O desafio é ingente e demanda especial dedicação a partir do fato de que somente a infraestrutura da Síria requer de pelo menos 40 bilhões de dólares para uma total recuperação a curto e médio prazos, e cerca de outros 200 bilhões para a reabilitação dos setores de saúde, de educação, dos recursos hídricos e da agricultura e da construção. 

Para entender o que acontece e a sensatez com a qual se trabalha em todas os níveis, é necessário tornar a citar o presidente Al Assad: 'O que ocorreu e ocorre na Síria foi uma oportunidade para se desfazer desta nação, deste Estado insubordinado, e substituir o presidente por outro que sempre diga sim. Isso nunca conseguirão na Síria, nem agora nem no futuro’.

 

*Correspondente de Prensa Latina na Síria.

 Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Pedro García Hernández

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