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Trump se dedica a manter alta tensão na fronteira para continuar com seu jogo político

O presidente reiterou que se o Congresso não aprovar as medidas anti-migrantes que deseja para enfrentar a “invasão”, grandes trechos da fronteira, fecharão
David Brooks
IPS
Nova York

Tradução:

Utilizando as pessoas mais vulneráveis –  famílias imigrantes com crianças – para seu jogo político, Donald Trump continua dedicando-se a nutrir a alta tensão sobre a fronteira com o México, e a estas alturas ninguém sabe, nem sua própria equipe, se cumprirá ou não, nem como, sua ameaça de fechar as entradas a pessoas e/ou comércio ao longo da fronteira entre dois países que insistem em chamar-se de sócios e aliados. 

O presidente reiterou que se o Congresso não aprovar “de imediato” as medidas anti-migrantes que deseja para enfrentar o que qualifica como uma “invasão”, “a fronteira, ou grandes trechos da fronteira, fecharão. Isto é uma emergência nacional”, tuitou. 

Alguns temem que declare algum tipo de ação na sexta-feira, quando viajará a Calexico, na Califórnia, para fazer a foto com o que falsamente anuncia como a primeira parte de seu muro fronteiriço (na realidade, uma barreira de quase quatro quilômetros que substituiu outra no mesmo lugar e que foi planejada antes de sua presidência). 

O presidente reiterou que se o Congresso não aprovar as medidas anti-migrantes que deseja para enfrentar a “invasão”, grandes trechos da fronteira, fecharão

Max Pixel
Donald Trump continua dedicando-se a nutrir a alta tensão sobre a fronteira com o México

Mas por enquanto ninguém, nem o que formam parte de seu governo, sabem se vai se atrever a cumprir a ameaça. Seus assessores e altos funcionários estão avaliando diversas opções para fechar parcial ou completamente os pontos de ingresso entre o México e os Estados Unidos, segundo fontes de dentro de sua administração, e que por ora, até onde sabem, seu chefe não há tomado uma decisão.  O chefe do Conselho Econômico Nacional do presidente, comentou à imprensa que ele e outros assessores do governo estavam examinando maneiras de permitir o fluxo comercial entre ambos os países se Trump ordenar o fechamento da fronteira  a migrantes e refugiados para “mitigar” as consequências , incluindo as opções de fechar só alguns pontos, ou de fechamentos parciais em vários pontos. 

Trump tem conseguido manter a tensão e a atenção sobre a fronteira desde a semana passada quando primeiro ameaçou com um fechamento caso México não freasse ““por completo” o fluxo migratório centro-americano, e se os democratas no Congresso não cedessem ante suas demandas para aprovar novas medidas de controle fronteiriço.  

Na terça-feira havia indicações de que havia dado um passo atrás, quando elogiou o México por estar detendo centenas de imigrantes centro-americanos, entre esses, mais de mil na fronteira sul do país vizinho, que buscavam chegar à fronteira estadunidense e declarou que o México assim estava atendendo aos Estados Unidos “pela primeira vez em décadas”.

Segundo um alto funcionário da Casa Branca, o governo mexicano está enviando reportes diários com cifras exatas sobre quantos imigrantes centro-americanos tem detido, reportou Reuters.

Mas uma e outra vez, Trump afrouxou só para esticar ainda mais a tensão sobre este assunto, e isso apesar de protestos contra sua ameaça das principais associações empresariais e agrárias de seu país, e até políticos federais e regionais de seu próprio partido, todos apontando o alto custo econômico que provocaria um fechamento da fronteira para ambos os países que comercializam até 1.7 bilhões de dólares a cada dia. 

Hoje, o porta-voz assistente da Casa Branca, Hogan Gidley, declarou que Trump “está alentado pela nova cooperação que temos visto do México, o qual até este ponto tem ajudado mais em abordar esta emergência do que os legisladores democratas”. Agregou que “essa perigosa crise finalmente tem que ser abordada pelo Congresso, e se não for, o presidente deixou claro que todas as opções permanecem na mesa para assegurar a fronteira e proteger o povo estadunidense”, reportou Bloomberg.

Críticos, como Frank Sharry, diretor de America’s Voice -organização dedicada a promover políticas pró imigrantes, prognosticou que de alguma maneira, em algum momento próximo, Trump vai fechar a fronteira, não porque creia que seja uma boa política, mas só para efeitos eleitorais, já que “a segurança fronteiriça versus fronteiras abertas – tal como ele o define – será um tema central de sua campanha eleitoral para 2020”. 

Por outro lado, a União Americana de Liberdades Civis condenou  alguns dos efeitos das manobras anti-migrantes na fronteira empregadas para nutrir a narrativa de Trump, e se enfocou nas imagens de centenas de famílias com crianças que foram detidas temporariamente – algumas até por quatro dias – em condições abusivas sob a ponte internacional em El Paso. “Encerrando famílias com crianças pequenas fora, atrás de telas de arame farpado e obrigando-os a dormir em temperaturas quase de congelamento é atroz mesmo para uma administração que constantemente tem desenvolvido políticas cruéis e desumanas”, afirmou a organização em uma mensagem pelo Twitter.

Ao mesmo tempo, em uma das já incontáveis narrativas de sofrimento por estas políticas anti-migrantes, Flores, uma solicitante de asilo de Honduras escreveu um artigo publicado pelo New York Times que foi intitulado em inglês assim: “Fugimos das quadrilhas em Honduras. Então o governo estadunidense levou embora meu bebê”. 

Conta como a filha menor de seus três filhos foi separada dela e de seu pai à força por um mês durante o qual não sabia onde nem como estava. Regressou mais magra, com piolhos e tosse seca, conta, e “chorou durante dias ao ficar traumatizada por um governo que mantém os filhos separados de seus pais só pelo fato deles serem migrantes”. 

Concluiu: “enquanto Estados Unidos decide que tipo de país quer ser, os estadunidenses necessitam ter consciência da crise humanitária criada pelo governo atual e do que estas políticas causaram a famílias como a nossa, que chegaram aqui em busca de proteção”.

Essa família cruzou justamente pelo ponto fronteiriço de Calexico, onde na sexta-feira Trump falará do perigo mortal que representam essas famílias para os Estados Unidos.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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