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Falhas de segurança no Whatsapp: quais são os perigos e quem está por trás disso?

Ao ser atingido por notícias como falhas de segurança ou hackers, entenda que o processo está a milhas distante de um trabalho amador
Pedro Barciela
Fundação Perseu Abramo
São Paulo (SP)

Tradução:

Você provavelmente foi impactado por notícias de que vulnerabilidade no Whatsapp permitiu a “hackers” acessarem seu telefone e, consequentemente, seus dados. No entanto, você não foi informado que esse serviço não é fruto do trabalho de algum lobo solitário na garagem de casa ou algo do tipo. Talvez a questão não seja tão simples.

A história tem início oficial em 2011, quando a empresa NSO desenvolveu seu primeiro protótipo, uma ferramenta de vigilância móvel chamada Pegasus. A ferramenta da NSO poderia fazer algo aparentemente impossível: coletar grande quantidade de dados – até então inacessíveis – de smartphones sem deixar rastros e claro, sem permissão. Isso incluía telefonemas, textos, e-mails, contatos, localização e quaisquer dados transmitidos sobre aplicativos como Facebook, WhatsApp e Skype.

A partir daí, a empresa que se identifica como “a Q Cyber Technologies company, we develop technology that enables government intelligence and law enforcement agencies to prevent and investigate terrorism and crime” passou a vender seus serviços para governos em todo o mundo. Segundo líderes da NSO, a empresa “tem clientes em todos os continentes, exceto na Antártida”.

Ao ser atingido por notícias como falhas de segurança ou hackers, entenda que o processo está a milhas distante de um trabalho amador

Pxhere
A falha de segurança no Whatsapp permitiu – e permite – que empresas monitorem e influenciem inúmeros processos em todo o mundo

“Quando essas empresas invadem seu telefone, elas são as proprietárias. Você está apenas carregando isso”, disse Avi Rosen, da Kaymera Technologies, uma empresa israelense de defesa digital, sobre a NSO e seus concorrentes. A empresa logo teve seu primeiro cliente para a Pegasus: o governo do México, que estava envolvido em uma ofensiva aos cartéis de drogas. (…) Um porta-voz do Ministério da Defesa de Israel, que precisa autorizar qualquer contrato que o NSO ganhe de um governo estrangeiro, se recusou a responder a perguntas sobre a empresa.

Os produtos da NSO – particularmente a Pegasus – ajudaram a desmembrar células terroristas e ajudaram nas investigações sobre o crime organizado e o sequestro de crianças, informaram as autoridades de inteligência e policiais europeias em entrevistas. Voltando ao primeiro cliente da empresa, um dos casos mais emblemáticos, a NSO teve papel central na guerra do México contra os cartéis, de acordo com pessoas envolvidas com o governo mexicano. As autoridades mexicanas atribuem à Pegasus atuação fundamental para ajudar a localizar e capturar El Chapo, o famoso traficante que foi condenado à prisão perpétua em segurança máxima.

No entanto, o governo mexicano também estava usando os serviços para fins mais sombrios – como parte de um esforço mais amplo de vigilância do governo, que utilizou os serviços da NSO para rastrear pelo menos 24 jornalistas, críticos do governo e investigadores internacionais que investigavam o desaparecimento de 43 estudantes, por exemplo.

Portanto, ao ser atingido por notícias como falhas de segurança ou hackers, entenda que o processo está a milhas distante de um trabalho amador, caseiro ou de indivíduos solitários. A falha de segurança no Whatsapp permitiu – e permite – que empresas monitorem e influenciem inúmeros processos em todo o mundo, sejam eles ligados a atividades ilícitas, como se propõe na teoria a agência israelense, ou atividades consideradas perigosas por àqueles que contratam os serviços.

Por isso, deve-se desconfiar também da aproximação – muitas vezes injustificável – de Bolsonaro com o governo israelense. Some-se a isso a necessidade de que todas as atividades da empresa, em governos estrangeiros, precisam ter a anuência do governo israelense. Acrescente-se ainda que, segundo a BBC, a visita de Bolsonaro ao país incluía a expectativa de “firmar novas parcerias em segurança, nas áreas de tecnologia, cibersegurança e defesa”. Ou, caso ache melhor, apenas ignore e reconsidere a ideia de que as falhas de segurança do Whatsapp são exploradas por algum lobo solitário em um porão da Macedônia.

Referências:

• A New Age of Warfare: How Internet Mercenaries Do Battle for Authoritarian Governments: https://goo.gl/MksU8k

• Inside the UAE's secret hacking team of american mercernaries – Ex-NSA operatives reveal how they helped spy on targets for the Arab monarchy — dissidents, rival leaders and journalists: https://goo.gl/G1SPWF

• Rick Gates Sought Online Manipulation Plans From Israeli Intelligence Firm for Trump Campaign: https://goo.gl/p3nsnt

• Supporters of Mexico’s Soda Tax Targeted With NSO Exploit Links: https://goo.gl/Dqh8nD

• WhatsApp voice calls used to inject Israeli spyware on phones: https://on.ft.com/2VAssxX


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Pedro Barciela

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