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O Dia da Bastilha, a corrupção, a inépcia e as catástrofes de Trump: “American Curious”

Alguns vêm com uma nostalgia triste o aniversário que marcou o início de uma revolução pela igualdade, liberdade e fraternidade
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Neste Dia da Bastilha, com um líder na Casa Branca com tinturas fascistas e que gosta de burlar de liberdades civis e outros supostos componentes de uma democracia, colocando em risco a todo o mundo (infelizmente os Estados Unidos seguem como o última superpotência mundial) alguns vêm com uma nostalgia triste o aniversário que marcou o início de uma revolução pela igualdade, liberdade e fraternidade.

A Bastilha

Emitindo ordens para realizar operativos para prender famílias imigrantes indocumentadas ao redor do país, provocando com grande prazer terror entre os mais vulneráveis deste país, enquanto foi jogar golfe, aquele que brinca de ser presidente vitalício está deixando de usar máscaras ou disfarces para aparentar que respeita os princípios da democracia.

Este domingo (14), Trump atreveu-se a comentar em referência a quatro legisladoras federais democratas que têm sido críticas ferozes de seu governo e todas, como dizem aqui, “de cor”, que “é interessante ver  representantes democratas ‘progressistas’ que originalmente vêm de países cujos governos são uma catástrofe completa e total, os piores, mais corruptos e ineptos em qualquer parte do mundo (se é que têm governos funcionais de algum tipo) agora ruidosa e viciosamente dizer ao povo dos Estados Unidos, a nação mais grandiosa e poderosa sobre a terra, como deveria ser governada”.

Agregou: “Por que não regressam e ajudam a reparar os lugares totalmente rotos e infestados de crime de onde vêm? Depois regressem e nos ensinem como se faz. Esses lugares necessitam sua ajuda e muito, não podem ir demasiado pronto”.

O presidente, nesta ocasião, tem toda a razão. Essas legisladoras são de um país com um governo “catastrófico”, “corrupto” e “inepto”.  Se chama Estados Unidos.  Todas as quatro são cidadãs, legisladoras federais (ou seja, foram eleitas por cidadãos estadunidenses para representá-los em Washington) e três das quatro nasceram neste país.

Alguns vêm com uma nostalgia triste o aniversário que marcou o início de uma revolução pela igualdade, liberdade e fraternidade

Wikipédia
Prise de la Bastille por Jean-Pierre Houël

A corrupção, o manejo inepto, e as catástrofes deste governo são tema das quase 30 investigações em curso sobre diversos aspectos e comportamento do presidente, sua família e seu círculo.  Também fica claro nas expulsões e êxodos de pessoal de seu governo que tem alcançado níveis sem precedente. A Brookings Institución registra uma taxa de substituição de 74 por cento entre os principais integrantes do Executivo (excluindo secretários de gabinete); nove dos ocupantes dos 21 postos principais do gabinete e da Casa Branca foram substituídos. As razões dessa troca constante de pessoal têm que ver com casos de corrupção, mentiras e atos possivelmente ilegais, muitos dos quais estão sob investigação.  

Ao mesmo tempo, o ataque contra toda crítica, inclusive contra todo repórter (‘inimigos do povo’) continua sendo efetivo, sobretudo usando técnicas macartistas ao qualificá-los de “anti-estadunidenses”, ou seja, “outros”.  Com isso, o inimigo da pátria são os opositores do comandante em chefe. 

Uma das quatro representantes – as quais incluem Alexandra Ocasio-Cortez de ascendência porto-riquense, Ilhan Omar, de Minnesota, nascida na Somália, a afro-estadunidense Ayanna Pressley  – Rashida Tlaib, de Michigan, filha de imigrantes palestinos, nascida aqui, respondeu a Trump neste domingo, alertando uma vez mais que “ele é a crise, sua ideologia perigosa é a crise. Necessita ser destituído”. 

Não nos tranquiliza quando ele comenta que não entendia como alguém poderia votar por um democrata diante “do que têm agora, tão bonito, tão inteligente, um verdadeiro Gênio Estável”. Pouco depois falou de como as redes sociais são claves para evadir o filtro dos meios e difundir suas próprias notícias com apenas um toque de botão e com isso criar “uma explosão”. 

Nada disso surpreende mais. E isso, em si mesmo, talvez seja o problema mais sério de todos. Mas você ainda pode ouvir gritos e sussurros, em diferentes bairros e barricadas (e às vezes até em francês), expressando a necessidade urgente de retomar a bastilha americana em nome da liberdade, igualdade e fraternidade.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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