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Documento secreto prevê cenário sombrio caso governo britânico abandone UE sem acordo

Segundo o informe oficial intitulado como "Martelo Amarelo", também haveria escassez de alimentos frescos e de alguns ingredientes básicos
Nestor Marin
Prensa Latina
Londres

Tradução:

A opção de um duro Brexit do primeiro-ministro Boris Johnson poderia esfumar-se, depois do conhecimento de que inclusive o Governo conservador prevê um cenário sombrio em caso de uma saída abrupta da União Europeia (UE).

As predições aparecem refletidas em um documento secreto publicado na noite de quarta-feira (11) pelo Executivo, a instâncias do Parlamento, e aprofundaram ainda mais a crise política vivida pelo país nas vésperas do controvertido divórcio. 

O texto, com o enigmático título de “Martelo Amarelo”, admite, por exemplo, que se abandonar a UE sem acordo em 31 de outubro próximo, o Reino Unido sofrerá um desabastecimento de remédios, um incremento nos preços dos alimentos e do combustível, e até protestos e distúrbios.

Segundo o informe oficial, também haveria escassez de alimentos frescos e de alguns ingredientes básicos; os caminhões encarregados de transportar as mercadorias poderiam demorar até dois dias para cruzar o Canal da Mancha e os viajantes que vão para o continente estariam sujeitos a maiores controles migratórios e aduaneiros.

Segundo o informe oficial intitulado como "Martelo Amarelo", também haveria escassez de alimentos frescos e de alguns ingredientes básicos

Banksy
“Os documentos oficiais do governo confirmam que Johnson está preparado para castigar os setores de menor renda"

“Devemos detê-lo”, alerta Jeremy Corbyn

Ante tais revelações, os grupos e partidos políticos que se opõem ao Brexit duro que Johnson planeja executar em caso de não conseguir alcançar um novo acordo com a UE antes de 31 de outubro, redobraram suas críticas contra o governante. 

Devemos detê-lo, alertou através do Twitter o líder do opositor Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, depois de apontar que “os documentos oficiais do governo confirmam que Johnson está preparado para castigar os setores de menor renda e beneficiar seus amigos ricos com um Brexit sem acordo”.

À oposição, no entanto, não será fácil parar o primeiro-ministro, que  para livrar-se de qualquer ameaça aos seus planos suspendeu os trabalhos do Parlamento Britânico até 14 de outubro, dia em que prevê anunciar uma nova agenda legislativa.

Johnson inclusive pretende ignorar uma lei aprovada de urgência pelos deputados antes de sair de férias forçadas nesta semana, e que o obrigaria a solicitar à UE um adiamento da data de saída, se não conseguir firmar um novo pacto antes de 19 de outubro. 

Ato de rendição

O chefe do governo britânico, que assumiu o cargo em 24 de julho passado em substituição à demissionária Theresa May, já advertiu que prefere estar morto numa vala antes de pedir uma nova prorrogação a Bruxelas.

Segundo Johnson, para quem essa lei representa um ato de rendição que enfraquece sua capacidade negociadora, ainda há tempo de chegar a um acordo com a aliança europeia, embora siga sem apresentar ao bloco uma alternativa concreta ao tratado de retirada rechaçado três vezes pelo Parlamento Britânico. 

Para alguns analistas, a operação “Martelo Amarelo” poderia confirmar os temores da oposição de que o governante está decidido a cumprir suas ameaças de tirar o Reino Unido da UE na data acordada, quaisquer que sejam as consequências. 

O Reino Unido devia sair da aliança europeia em 31 de março passado, depois que 52 por cento dos britânicos votou a favor do Brexit no referendo de junho de 2016. 

A negativa do Parlamento Britânico em respaldar o tratado de retirada firmado pela então primeira-ministra Theresa May obrigou a postergar a saída, para abril passado, e depois para outubro próximo. 

O principal obstáculo é uma salvaguarda introduzida pela UE para evitar o estabelecimento de uma fronteira dura entre a Irlanda e a província da Irlanda do Norte, e que obrigaria esse território britânico a seguir sob as normas comerciais e aduaneiras europeias até que as partes firmem um novo acordo.

Embora a aliança assegure que se trata de uma medida temporária, os eurocéticos dentro do Reino Unido alegam que o chamado backstop constitui uma afronta à soberania britânica.

*Néstor Martin é correspondente de Prensa Latina em Londres.

**Tradução: Beatriz Cannabrava.

***Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Nestor Marin

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