Quando o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres, lançou a Aliança Solar Internacional, em outubro de 2018, ele aplaudiu a meta de mobilizar cerca de US$ 1 trilhão para a implantação de cerca de mil gigawatts (GW) de energia solar até 2030. “Está claro que estamos testemunhando uma revolução global de energia renovável”, disse.
Essa revolução também está ocorrendo sob a liderança do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que implantou a iniciativa Deserto ao Poder (DtP), um projeto solar altamente ambicioso para tornar a África uma casa de energia renovável. Espera-se que esse projeto se estenda pela região do Sahel, aproveitando o abundante recurso solar da região.
O projeto tem a meta de desenvolver e fornecer dez GW de energia solar até 2025 e atender 250 milhões de pessoas com eletricidade verde, inclusive em alguns dos países mais pobres do mundo. Pelo menos 90 milhões de pessoas estarão conectadas à eletricidade pela primeira vez, e sairão da pobreza energética.
Atualmente, 64% da população do Sahel – que abrange Senegal, Nigéria, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger, Chade, Sudão, Etiópia, Djibuti e Eritreia – vive sem eletricidade, uma grande barreira ao desenvolvimento, com consequências para a educação, a saúde e os negócios. O BAD apontou, com razão, que a falta de energia continua sendo um impedimento significativo para o desenvolvimento econômico e social da África.
Iniciado em 2017 pelo BAD, o DtP foi descrito como “uma ambição grande e ousada: iluminar e energizar o Sahel, construindo uma capacidade de geração de eletricidade de dez gigawatts por meio de sistemas solares fotovoltaicos em projetos públicos, privados, redes e fora da rede pública até 2025, e consequentemente transformar a indústria, a agricultura e o tecido econômico de toda a região”
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O projeto é financiado pelo Fundo Africano de Desenvolvimento do BAD
O doutor Akinwumi Adesina, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, falando em Ouagadougou, capital de Burkina Faso, onde participou da Cúpula do G5 do Sahel, salientou a importância da vontade política no sucesso da iniciativa Deserto ao Poder, cujo objetivo é garantir acesso universal a eletricidade para mais de 60 milhões de pessoas por meio da energia solar.
O presidente de Burkina Faso, Mark Roch Christian Kaboré, aplaudiu a iniciativa Deserto ao Poder do BAD e também destacou o excelente relacionamento de seu país com o banco, expressando seu agradecimento pelo portfólio de projetos implementados. Adesina foi convidado na Cúpula do G5 do Sahel, realizada em 13 de setembro.
Adesina chamou a atenção para o paradoxo de que uma das regiões mais ensolaradas do mundo não tem acesso à eletricidade. “Agora, mais do que nunca, a cooperação e o comércio transfronteiriço de energia são essenciais para manter um suprimento seguro a longo prazo, diante dos desafios das mudanças climáticas”, disse, acrescentando que “em Burkina Faso foram tomadas medidas significativas com o projeto de eletrificação rural de Yeleen, apoiado pelo BAD”.
Como parte de sua estratégia de eletrificação para a África, o BAD está comprometido em acelerar o acesso à energia de alta qualidade e baixo custo para o povo do continente. As conexões críticas de rede foram aprovadas pelo Conselho do banco: Mali-Guiné, Nigéria-Níger-Benin-Burkina Faso e Chade-Camarões. O Projeto de Eletrificação Rural de Yeleen, envolvendo a produção de energia fora da rede em Burkina Faso, é o primeiro empreendimento da iniciativa DtP.
Burkina Faso, um país de baixa renda do Sahel, foi negativamente impactado por variações climáticas extremas, como declínio das chuvas, aumento da temperatura, inundações e secas. Com capacidade instalada de 285 megawatts, cerca de três milhões de famílias em Burkina Faso estão completamente sem energia.
Dos 19 milhões de habitantes de Burkina Faso, 90% vivem em áreas rurais, onde o acesso à eletricidade – principalmente com geradores a diesel – é de apenas 3%. A agricultura, a base da economia rural de Burkina Faso, também é a mais vulnerável aos impactos das mudanças climáticas.
O doutor Akinwumi Adesina, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, falando em Ouagadougou, capital de Burkina Faso, onde participou da Cúpula do G5 do Sahel, salientou a importância da vontade política no sucesso da iniciativa Deserto ao Poder, cujo objetivo é garantir acesso universal a eletricidade para mais de 60 milhões de pessoas por meio da energia solar.
Burkina Faso
O presidente de Burkina Faso, Mark Roch Christian Kaboré, aplaudiu a iniciativa Deserto ao Poder do BAD e também destacou o excelente relacionamento de seu país com o banco, expressando seu agradecimento pelo portfólio de projetos implementados. Adesina foi convidado na Cúpula do G5 do Sahel, realizada em 13 de setembro.
Adesina chamou a atenção para o paradoxo de que uma das regiões mais ensolaradas do mundo não tem acesso à eletricidade. “Agora, mais do que nunca, a cooperação e o comércio transfronteiriço de energia são essenciais para manter um suprimento seguro a longo prazo, diante dos desafios das mudanças climáticas”, disse, acrescentando que “em Burkina Faso foram tomadas medidas significativas com o projeto de eletrificação rural de Yeleen, apoiado pelo BAD”.
Como parte de sua estratégia de eletrificação para a África, o BAD está comprometido em acelerar o acesso à energia de alta qualidade e baixo custo para o povo do continente. As conexões críticas de rede foram aprovadas pelo Conselho do banco: Mali-Guiné, Nigéria-Níger-Benin-Burkina Faso e Chade-Camarões. O Projeto de Eletrificação Rural de Yeleen, envolvendo a produção de energia fora da rede em Burkina Faso, é o primeiro empreendimento da iniciativa DtP.
Burkina Faso, um país de baixa renda do Sahel, foi negativamente impactado por variações climáticas extremas, como declínio das chuvas, aumento da temperatura, inundações e secas. Com capacidade instalada de 285 megawatts, cerca de três milhões de famílias em Burkina Faso estão completamente sem energia.
Dos 19 milhões de habitantes de Burkina Faso, 90% vivem em áreas rurais, onde o acesso à eletricidade – principalmente com geradores a diesel – é de apenas 3%. A agricultura, a base da economia rural de Burkina Faso, também é a mais vulnerável aos impactos das mudanças climáticas.
O projeto é financiado pelo Fundo Africano de Desenvolvimento do BAD, além de contar com um cofinanciamento mobilizado pelo BAD a partir do Fundo Verde para o Clima (GCF) e da União Europeia. O projeto também alavancará os investimentos do setor privado por meio de ações e dívidas levantadas de bancos comerciais. Aproveitará a energia solar para fornecer eletricidade para mais de 900 mil pessoas nas áreas rurais – quase 5% da população do país – e deverá resultar em uma redução média anual de 15 500 toneladas nas emissões de CO₂.
Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP₂₄) de dezembro de 2018, em Katowice, Polônia, Guterres pontuou que a energia renovável representou cerca de 70% das adições líquidas à capacidade global de energia em 2017, e que a energia solar está no centro dessa revolução. “Precisamos mudar rapidamente nossa dependência de combustíveis fósseis. Precisamos substituí-los por energia limpa gerada com água, vento e sol. Precisamos parar o desmatamento, restaurar florestas degradadas e mudar a maneira como cultivamos”, enfatizou. A alternativa à mudança para a energia verde, “é um futuro sombrio e perigoso”, ressaltou.
Segundo o BAD, estima-se que a pobreza energética na África custe ao continente entre 2% e 4% do PIB anualmente. Os detalhes da iniciativa Deserto ao Poder foram descritos como parte das negociações sobre mudanças climáticas do Acordo de Paris na COP₂₄. “A energia é a base da vida humana, todo o nosso sistema depende disso. Para a África, no momento, fornecer e garantir energia sustentável está na espinha dorsal de seu crescimento econômico”, opinou Magdalena J. Seol, consultora do BAD, sobre a iniciativa Deserto ao Poder.
“A falta de energia permanece como um impedimento significativo ao desenvolvimento econômico e social da África. O projeto trará muitos benefícios para a população local. Vai melhorar o acesso à eletricidade para famílias de baixa renda e permitirá que as pessoas façam a transição para longe de fontes de energia perigosas, como o querosene, que traz riscos à saúde”, acrescentou Seol.
O projeto também criará empregos e ajudará a atrair o envolvimento do setor privado em energia renovável na região. Colocando o problema em sua perspectiva correta, pontuou Guterres, na COP₂₄, na última década os preços das energias renováveis despencaram e os investimentos estão aumentando. “Hoje, um quinto da eletricidade do mundo é produzido por energia renovável. Devemos construir sobre isso”. Ele enfatizou que o mundo está vendo uma onda de ação climática.
“Está claro que energia limpa faz sentido para o clima. Mas também faz sentido econômico. Hoje é a energia mais barata. E trará benefícios significativos à saúde. A poluição do ar afeta quase todos nós, independentemente das fronteiras”, apontou Guterres, e incentivou empresas, governos e organizações da sociedade civil a divulgar o risco climático, a desinvestir em combustíveis fósseis e a estabelecer parcerias em projetos de infraestrutura resiliente de baixa emissão.
“Precisamos fazer isso, das maiores às menores cidades. As oportunidades são tremendas”, indicou Guterres, destacando que cerca de 75% da infraestrutura necessária até 2050 ainda precisa ser construída. “Como isso for feito, nos trancará em um futuro de alta emissão ou nos levará a um desenvolvimento verdadeiramente sustentável de baixas emissões. Existe apenas uma escolha racional”, ressaltou.
De acordo com o BAD, muitas empresas lideradas por mulheres atualmente enfrentam barreiras maiores do que as empresas lideradas por homens para acessar a eletricidade da rede – portanto, o projeto tem o potencial de aumentar a participação feminina em atividades econômicas e processos de tomada de decisão.
O projeto foi lançado em colaboração com o Green Climate Fund, criado pelos 194 países que fazem parte da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), que apoia os países em desenvolvimento a se adaptarem e mitigarem as mudanças climáticas. O programa foi projetado para combinar capital do setor privado com financiamento misto.
“Se você olhar para os países que essa iniciativa apoia, eles são os mais afetados pelas mudanças climáticas e pelas emissões de carbono de outras partes do mundo”, indicou Seol. “Diante disso, os investimentos terão um efeito maior nessas regiões, com maior demanda e oportunidade de mercado no setor de energia. “As mulheres geralmente são desproporcionalmente afetadas negativamente pelos problemas de acesso a energia. Fornecer uma eletricidade segura e sustentável também cria um impacto positivo na questão de gênero”, acrescentou.
O continente africano detém 15% da população mundial, mas deve arcar com quase 50% dos custos estimados de adaptação às mudanças climáticas globais, de acordo com o BAD. Esses custos devem reduzir investimentos em saúde, abastecimento de água, agricultura e silvicultura, apesar de sua contribuição mínima para as emissões globais.
No entanto, a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena) avalia que o potencial de energia renovável da África possa colocar o continente na vanguarda mundial da produção de energia verde. Estima-se que tenha um potencial quase ilimitado de capacidade solar (10 TW), energia hídrica abundante (350 GW), eólica (110 GW) e fontes de geotérmica (15 GW) – e uma potencial capacidade global de energia renovável de 310 GW em 2030.
Outros projetos de energias renováveis na África incluem o complexo solar Ouarzazate, em Marrocos, que é uma das maiores usinas solares concentradas do mundo. Produziu mais de 814 GW por hora de energia limpa desde 2016 e, no ano passado, a usina solar impediu a emissão de 217 mil toneladas de dióxido de carbono. Até recentemente, o Marrocos supria 95% de suas necessidades de energia com fontes externas.
Na África do Sul, o BAD e seu parceiro, o Climate Investment Fund, ajudaram a financiar o Parque Eólico Sere – 46 turbinas que fornecem cem megawatts à rede elétrica nacional, atendendo 124 mil casas – e esperam economizar seis milhões de toneladas de gases de efeito estufa ao longo de sua vida útil, prevista para um período de 20 anos.
A COP24 é a 24ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Este ano, os países estão se preparando para implementar o Acordo de Paris, que tem o objetivo de limitar o aquecimento global do mundo a não mais que 2º Celsius.
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